Quando nada disso existia no Brasil: sites, eventos, patrocínios, ele já quebrava a cabeça encarando feras como Gus Hansen de igual pra igual. Ídolo? Ele não se considera. “Produto”? Definitivamente, não. Christian Kruel é o retrato da juventude impetuosa, da energia vital que reinventa a realidade, e que aprende que toda mudança tem um preço.
Em uma conversa emocionante, CK conta à CardPlayer Brasil como foi o início, a ascensão, a queda e o renascimento de sua carreira de profissional do poker.
Esta, caro leitor, é daquelas matérias que já nascem “clássicas”, antológicas, e que ecoarão pelas gerações futuras como referência aos pioneiros do nosso esporte.
Com vocês, Christian Kruel, com toda a dignidade e superação de que são feitos os campeões.
Amúlio Murta: O Brasil inteiro conhece o CK do poker. É verdade que você também foi um grande jogador de gamão?
Christian Kruel: Sim. Conheci o gamão quando tinha 14 anos, por intermédio do meu pai. Ele era separado da minha mãe e, nos finais de semana em que eu me encontrava com ele, começamos a jogar. Com o tempo, conhecemos a ABG – Associação Brasileira de Gamão, cujo Presidente era muito amigo do meu pai. Num dos primeiros torneios organizados pela ABG existia uma categoria iniciante. Eu não possuía idade mínima para participar, mas consegui me inscrever. Acabei ganhando o torneio, mas, como não tinha idade, não pude jogar os outros.
Quando completei a idade mínima, sem o apoio de meu pai (que desde o começo me dizia que eu teria que me virar com os buy-ins), comecei a disputar os torneios de gamão e a conquistar alguns resultados. Um ano depois disso, decidi que iria morar sozinho. Nesse período eu trabalhava no Jockey Club, no desenvolvimento e manutenção do site deles. Com alguns resultados mais expressivos nas categorias intermediárias do gamão e o meu emprego no Jockey, eu conseguia custear as minhas despesas.
Nessa fase, descobri o gamão pela internet, abri uma conta a dinheiro e comecei a jogar. Só que isso foi em 1999, e naquela época era uma loucura jogar gamão online. Ao contrário de hoje em dia, em que a transferência de premiação é imediata, em 99 a gente tinha que contar com a sorte do jogador transferir o valor previamente combinado, caso você conseguisse vencer o jogo. Não existia nenhuma garantia de que os jogadores iriam efetuar a transferência. Porém, mesmo com todas as dificuldades, era possível se fazer algum dinheiro jogando pela internet.
Meu sonho sempre foi trabalhar com Bolsa de Valores e Mercado Financeiro. Sempre fui muito ligado nesse negócio de números e tudo mais. Nesse período eu trabalhava praticamente 12 horas por dia e sem folgas, porque no jockey tem corridas nos finais de semana e feriados, então eu ralava muito – foi quando conheci o Raul.
Conheci o Raul em uma semifinal de um campeonato de gamão. Eu perdi para ele, que acabou vencendo o torneio. Ficamos amigos, e nessa época eu me mudei para Ipanema: estava ficando muito caro morar sozinho, então convidei o Raul para dividir o apartamento comigo. Isso foi mais ou menos nove anos atrás.
Ele trabalhava de assessor financeiro no Flamengo. Nossa rotina era faculdade-trabalho, e há noite tínhamos uma conta única no gamão, onde a gente jogava rachado.
A gente sempre foi meio maluco, eu em especial sempre fui muito louco com esse negócio de conta. Sempre peitei as coisas. Pra você ter uma idéia, se meu salário era de R$1.500,00, meu custo de vida era de R$3.000,00. Ou seja, essa diferença tinha que vir do gamão, não tínhamos muita opção.
AM: Em que momento o Texas Hold´em entra nessa história?
CK: Foi exatamente nesse período que surgiu o poker, meio que por acaso. Lembro como se fosse hoje. Eu estava trabalhando, e o Raul me ligou dizendo que havia pego um filme que a gente precisava assistir: “Rounders” (Cartas na Mesa). Depois que assistimos ficamos loucos. Queríamos descobrir onde e como se jogava aquele jogo. Procuramos na internet e descobrimos um site onde era possível jogar online, e foi aí que tudo começou.
AM: Assim como a grande maioria dos jogadores, vocês devem ter sofrido bastante até os bons resultados chegarem. Como foi o começo?
CK: Nossa, Murta, foram tempos difíceis. Nesse período, o lucro que eu obtinha jogando gamão, e que custeava o meu estilo de vida, eu acabava entregando no poker. Naquela época não existiam mil pessoas conectadas num site. Poker não era nada no mundo, que dirá na web: eu não sabia jogar e perdia o tempo todo.
Um dos meus parceiros do gamão, um alemão que tinha virado meu amigo, me contou que estava jogando Texas Hold’em e que era ganhador. Eu não entendia como era possível ganhar dinheiro com aquele “jogo”. Aí, ele me deu umas dicas e comecei a pesquisar na internet. Uma das primeiras coisas que encontrei foi a “Tabela do Sklansky” (Small Stakes Hold’em, publicado em português pela Raise Editora). Só depois dessa fase de pesquisas é que percebemos, eu e o Raul, que não se jogava todas as mãos e que de fato existiam estratégias e técnicas para se tornar um ganhador no poker. Quando descobri que existia solução matemática e estratégia para vencer no Hold’em, aí a coisa virou um desafio pra mim.
Comecei a acompanhar os rankings, ver os jogadores que estavam no topo, ver como eles jogavam e passei a empatar meus resultados. Fiquei uns três meses empatando ou ganhando muito pouco. Com isso, o que eu ganhava no gamão voltou a “sobrar” para que eu pudesse voltar a pagar as minhas contas – o que me deu um certo alívio, porque as coisas não estavam sendo fáceis.
AM: O que você jogava nessa época?
CK: Curioso é que o jogo do momento, na época, era o Limit Hold’em. Hoje em dia existe muito preconceito com Limit e as pessoas desconhecem que foi daí que surgiu a essência de vários conceitos aplicados hoje em dia no No-Limit. Conceitos com Value Bet e muitos outros.
Naquele tempo não se falava em No-Limit. Eu jogava SNG de US$33 e, para conseguir resultado real, eu precisava fazer muito volume de jogo: eu me forçava a jogar várias horas por dia. Lembro de uma época em que eu tinha a meta de jogar 500 SNG em um mês. Foi uma fase em que eu ia de manhã para a faculdade, à tarde para o jockey e às noites e madrugadas eram do poker. Eu praticamente não tinha vida social, engordei muito e foi aí que decidi largar o jockey e encarar o poker a sério.
AM: Não deve ter sido fácil tomar esta decisão? Como seus pais reagiram?
CK: Meus pais ficaram loucos e me chamaram de maluco pra baixo. Eu encarei isso como mais um desafio e fiquei mais neurótico ainda com isso. Depois da faculdade, eu engatava no online pra provar pra mim e também para os meus pais que a minha decisão tinha sido a mais acertada.
Os resultados começaram a aparecer e eu comecei a subir de nível nos SNG. Quando dei por mim, já estava jogando sits de US$100,00 e disputando ranking com os jogadores que eu admirava e acompanhava lá no início.
AM: Um dos episódios mais interessantes da sua trajetória no poker foi a série de heads-ups contra o dinamarquês mundialmente famoso Gus Hansen. Conte-nos um pouco sobre essa história.
CK: Acho que foi entre 2003/2004, fase em que a minha carreira começou a crescer muito. Eu me recordo que fiquei um longo período jogando HU contra o Gus Hansen, e por muito tempo eu nem sabia que ele era o Gus Hansen. Começamos jogando 30/60, depois 100/200, e comecei a derrubar o cara. O nick dele era “Brosque”, e todo dia a gente se enfrentava em HU na Internet. Existiam poucas pessoas que gostavam de jogar HU, então, jogávamos juntos direto. Eu só fui descobrir que ele era o Gus Hansen em um fórum na internet, e aí eu não acreditei. Depois acabei tendo a confirmação em uma conversa com ele.
AM: Pelo seu relato, o poker tomava muito do seu tempo. O fato de não possuir uma vida social não lhe incomodava?
CK: Quando cheguei ao topo do ranking do Party Poker minha vida financeira se estabilizou. Consegui trocar de carro mudei pra um apartamento maior. Mas foi uma fase complicada, porque eu deixei de me cuidar, deixei de praticar atividade física, engordei muito e não tinha nenhuma vida social. Jogava muitas horas por dia.
Foi um tempo em que ganhei muitas coisas e perdi outras. Ganhava a liderança do ranking e estabilidade financeira, mas perdia outros aspectos da vida. Sempre fui um cara muito ligado a esportes, qualidade de vida e tudo mais. O fato de ter me tornado sedentário, engordado, etc., estava me incomodando muito. Portanto, assim que eu consegui concretizar minha vida financeira, a primeira coisa que fiz foi me dedicar a mim mesmo.
Voltei a praticar esportes e passei a priorizar a minha saúde, e a medida em que eu vou voltando para meu peso de origem e me cuidando, vou me sentindo melhor comigo mesmo e meus resultados vão melhorando.
AM: Como um dos pioneiros do poker nacional, você teve a oportunidade de vivenciar fatos que a grande maioria dos jogadores brasileiros só conhece pelos livros, revistas e DVD`s. Como foi presenciar o boom do poker mundial depois do “Efeito Moneymaker”?
CK: O boom do poker mundial acontece com a vitória de Chris Moneymaker no Main Event da WSOP de 2003. A partir daí, as coisas começam a acontecer em uma velocidade enorme – fica até difícil mensurar. O No-Limit passa a virar moda e dominar o cenário. Surgem livros, programas de TV e a coisa começa a tomar corpo no mundo. Para mim, que já estava no negócio, foi um sonho. Depois do “Moneymaker” a quantidade de patos que surgiu na internet foi uma coisa absurda e era muito bom estar, eu nem digo um, mas vários níveis acima dos novatos.
AM: Nessa altura, o poker online era absolutamente familiar para você. Quando foi que começou a jogar ao vivo?
CK: O poker ao vivo surge nessa época. Eu descobri os satélites que dão vagas para os torneios fora do Brasil e, na primeira tentativa, ganhei uma vaga para o Party Poker Million. Esse torneio era um cruzeiro com buy-in de US$ 600,00, uma coisa incrível para a época. A partir daí, comecei a tentar vaga em todos os satélites que aparecessem. Não eram muitos, mas o que tinha eu abraçava.
Em seguida me classifiquei para o Poker Stars Caribean Adventure, nas Bahamas. Um torneio em que foram 450 pessoas, dentre elas Phil Ivey, Daniel Negreanu e muitas outras estrelas. Gente que eu admirava. Pra mim foi um sonho, porque além de jogar com esses grandes nomes eu tive a oportunidade de fazer mesa final e terminar em oitavo.
Logo depois eu fui pra Las Vegas, e joguei um torneio com buy-in de US$2.500,00, em que peguei um quarto lugar. De Vegas fui para Los Angeles e consegui outro quarto lugar, em um torneio preliminar do WPT, com buy-in também de US$2.500,00. A partir daí eu comecei a emendar uma viagem na outra.
AM: E a idéia de criar um dos primeiros sites sobre poker do país, como se deu?
CK: Em um desses satélites para torneios live eu consegui uma vaga para o Aruba Classic: foi lá que nasceu o Clube do Poker. Estávamos em Aruba, eu e o Raul, e conhecemos o pessoal do Party Poker. Tivemos uma conversa com eles, sobre montar um site de poker em português e tudo mais. A idéia ficou nisso, trocamos cartões e a vida seguiu. Algum tempo depois demos andamento no projeto e, aos poucos, o site foi ganhando a dimensão que tem hoje.
AM: Milhares de jogadores no país ficaram conhecendo o Texas Hold´em durante os programas que você comentava na ESPN. Como foi que você veio a se tornar um dos comentaristas de poker mais populares do Brasil?
CK: Com esses resultados, minha carreira começa a bombar muito, e quando eu volto para o Brasil, não sei como, mas a mídia passa a me procurar, e meu nome estava ficando conhecido no país. Eu saí em muitas revistas e jornais e, não muito depois disso, recebo um telefonema da ESPN. Eles me dizem que estavam tendo muitas reclamações com as narrações das transmissões de poker no Brasil, e que os programas estavam com muita audiência. Assim, surgiu o convite para eu começar a comentar as transmissões, e eu acabei ficando lá por três anos. Tenho muita satisfação de ter participado desse projeto e contribuído para a evolução das transmissões de poker no Brasil.
AM: Sua carreira estava em ascensão. Seu nome era a referência quando se falava de poker no país, porém, a partir de 2006 seu desempenho começa a cair. O que aconteceu?
CK: No final de 2006 eu comecei a me perder um pouco em valores. O jogo começou a crescer muito na internet e a minha ganância cresceu junto também. Como te falei, eu sempre estava ali, entre os High Stakes. Estava entre os Big Players da internet. Aí surgiu o jogo 200/400, 300/600, e eu comecei a me aventurar com meu BR nessas mesas.
Minha vida passou a ter uns “up and downs” loucos. Lembro que fui pra Vegas e, no quarto do hotel, eu não jogava nada mais barato que 200/400. Era muito caro para época e, se você pensar bem, é muito caro para hoje também. Fiquei muito ganancioso com meus resultados. Isso é uma coisa que eu enxergo muito claramente hoje. Além disso, o assedio repentino da mídia me subiu à cabeça. Era muita coisa muito focada só em cima de mim e eu não soube lidar com isso. Não foi uma coisa positiva.
Nessa inconstância de resultados eu acabei, novamente, perdendo qualidade de vida. Voltei a engordar, fiquei mal de cabeça e comecei a entrar em parafuso. Perdia muito dinheiro em uma sessão, até o dia em que tomei uma pancada gigante e só não quebrei porque tive um “estalo” de sacar o que tinha restado do meu BR e dei um tempo.
Tentei colocar a cabeça no lugar e, quando voltei a jogar, fiquei muito tempo perdido na Internet. Eu queria jogar em um limite acima do que o meu BR comportava e tive que tentar ajustar o meu jogo em mesas baratas adequadas ao meu BR. Além disso, tinha que me manter motivado pra jogar em nessas mesinhas, e isso acabou me fazendo perder ainda mais dinheiro. Eu não consegui me adaptar, estava jogando extremamente mau e sem a menor paciência.
Fiquei assim até o final de 2006, quando comecei a namorar minha vizinha. O inicio de meu namoro marca o começo da minha reestruturação. Minha relação com ela foi muito intensa. Com pouco tempo de namoro já estávamos completamente apaixonados. Comecei a me reencontrar e consequentemente os resultados voltaram a aparecer, só que agora em Multi-Table Tournaments: eu estava vivendo um sonho.
No começo de 2007, quando eu estava prestes a me levantar de vez, uma tragédia acabou me derrubando por completo. Estava em São Paulo, gravando para a ESPN, quando recebi um telefonema de madrugada – era minha namorada. No telefone ela me disse que sua mãe havia sido brutalmente assassinada, na sua frente, em um sinal de trânsito no Rio de Janeiro. Eu estava em SP e, ainda atordoado com o que tinha acontecido, embarquei para casa. Quando cheguei, não consegui me encontrar com ela. O enterro já tinha acontecido e eles tinham decidido sair do país para se afastar do Rio e da mídia.
A partir daí eu tive muita dificuldade de falar com ela até por telefone. Emagreci 7 quilos em duas semanas, não me alimentava, e entrei em depressão profunda. Eu não acreditava no que estava acontecendo: simplesmente o sonho tinha virado pesadelo.
Eu sabia que isso acabaria terminando meu relacionamento com ela. E foi o que aconteceu, aos poucos. E o resultado disso eu não preciso te contar. Tem jeito de ganhar vivendo uma situação como essa? Então o ano de 2007 foi um dos piores de toda a minha vida e eu acabei quebrando completamente na internet. Pulverizei o que restava do meu BR e não fiquei com um único dólar em nenhum site.
Comprovando a teoria de que nada está tão ruim que não possa ser piorado, comecei a ficar devendo a todo o pessoal que vende dólares nos sites. Jogava sem foco, perdia, pegava mais dólares, jogava displicentemente, perdia, e o ciclo parecia não ter fim.
Para complicar, comecei a ser massacrado em todos os fóruns de discussão da internet. Fui chamado de farsante, de perdedor “criado” pela mídia. E isso me magoou profundamente, afetando ainda mais o meu jogo. Percebi que os caras começaram a pegar meus resultados de 2007, quando eu estava ladeira abaixo, e postavam nos fóruns de discussão, no orkut e por aí vai, ignorando todo o meu passado. Eu parava e pensava, “Mas espera aí, estão pegando meus resultados de 2007. Onde estão os outros nove anos da minha carreira?”. Percebi que muitos deles não têm a mínima idéia da minha vida e da minha história.
Olha que situação, Murta, você deve a doleiros na internet, perde a mulher da sua vida, está todo mundo te criticando, ou seja, você tá perdido. Aí você acorda, vai ver seus emails, sua caixa postal está lotada de insultos, esculacho e o escambau... Como é que a gente consegue ter cabeça fria pra administrar isso tudo e conseguir bons resultados?
AM: Como foi que você deu a volta por cima?
CK: Nisso o ano vai passando. Tive alguns momentos de lucidez e consegui até fazer alguns resultados, mas nada significativo. No final de 2007 decidi mudar de apartamento para tentar esquecer a minha namorada. Meu apê havia sido decorado por ela e em tudo que eu olhava, onde quer que eu fosse dentro de casa, acabava me lembrando de alguma coisa da nossa relação.
Com a mudança, comecei uma nova fase, em que eu tinha bem definido o que eu queria, e por onde reconstruiria minha vida. E esse caminho começava a partir de MTTs – sempre fui bom em multi-table tournaments, mas era onde eu estava mais sendo criticado.
Então decidi recomeçar. Voltei a estudar torneios (coisa que não fazia há muito tempo), analisar onde estava errando e trabalhar nisso. Hoje em dia eu tenho uma rotina bem clara: acordo, dou uma corrida, mantenho a dieta, procuro me manter saudável – estou nessa maratona desde o fim do ano passado. Tenho jogado MTTs e colhido resultados excelentes.
AM: O reconhecimento do seu talento aconteceu em nível internacional há alguns meses, quando você, juntamente com o Raul e o Brasa, foram contratados por um dos mais poderosos sites de poker. Conte um pouco sobre sua entrada para o time do Full Tilt.
CK: O contrato com o Full Tilt foi um presente. Eles já haviam me sondado antes, porém, o que me foi oferecido à época não compensava largar o Party Poker. No início do ano, obtive uma série de bons resultados no 100+R e logo depois eu fui para a Áustria. Lá tinha muita gente do site e eles me reconheceram. Foi quando eles vieram conversar comigo. Trocamos emails e a partir daí começou a negociação, que não demorou muito.
O contrato acabou me dando um impulso extra e sendo ótimo pra mim. Após o contrato, consegui dois excelentes resultados, um segundo lugar no 500K Garantidos e um quarto lugar no evento #20 da WCOOP (World Cup of Online Poker) do Poker Stars – esse, um torneio com mais de 3.467 inscritos, dentre eles muitos brasileiros, e um buy-in de US$1.000+50.
AM: Agora que conseguiu retomar a sua carreira, que tipo de lição você tira de sua história?
CK: Eu acho que as pessoas devem parar de julgar os outros: e isso não é só no poker. O brasileiro tem a memória muito curta. As pessoas têm que saber que, para uma pessoa chegar a ser reconhecida e admirada pelo que ela faz, teve que abrir mão de muita coisa. Ninguém chega ao topo sem luta. É preciso saber que é muito fácil julgar os outros. Muitos dos que me esculacharam hoje estão me elogiando, nos mesmos locais onde antes me crucificaram. Será que em oito meses consegui mudar todos os conceitos deles?
Eu não estou dizendo que eu sou o ideal, a referência como ídolo ou o melhor jogador. Estou distante de tudo isso, mas também estou longe de ser aquilo de que me chamaram e do que escreveram sobre mim. O que eu digo é que cada um tem que procurar entender cada um. Ninguém fica 10 anos no poker por acaso. A maior lição que tiro da minha história é que não devemos julgar e nem pré-julgar as pessoas. E que na vida, respeito é fundamental.