EDIÇÃO 15 » FIQUE POR DENTRO

Perfil: “Marcos XT”- Profissonal de Poker


Amúlio Murta

Para se falar de profissionalismo no poker do Brasil é preciso voltar ao ano de 2005. Foi nesse ano que um cidadão brasileiro, casado, desempregado e com seis filhas pra criar, descobriu, através da TV, que existia a possibilidade de se jogar poker na internet.

Ele aprendeu as regras do jogo e, após uma busca na web, descobriu um site poker, o Everest. Lá, jogando em salas free e usando uma conexão discada, praticamente sem nenhum conhecimento técnico, ele começou a sua jornada pelas mesas virtuais. Já com os primeiros dólares se arriscou no cash game, descobrindo assim uma nova forma de complementar a sua renda.

A partir de então, não dormia mais durante as madrugadas. Com o tempo, os potes foram aumentando, e juntamente com os eles, os títulos. Percebeu que era possível conseguir muito mais do que apenas completar a sua renda: estava encerrada a busca por um novo emprego, e ele havia encontrado uma nova profissão. Sem se dar conta, Marcos “XT”, se tornava naquele instante um dos primeiros brasileiros a viver integralmente de poker no país.

Com os negócios funcionando bem, recebeu um reforço extra. Passou a contar, nas mesas virtuais, com a companhia de sua parceira também na vida, Solange “XT”, que também aprendeu sobre bankroll e bad beats.

Os tempos não foram só de alegrias, mas quando olha para trás, do alto de seus 41 anos, esse paranaense que passou grande parte da vida na região do ABC tem a consciência de que sua biografia faz parte da história do poker nacional. Conheça um pouco mais desta biografia nesta entrevista.

Amúlio Murta: “XT”, como era a vida para um jogador há quatro anos? Conte-nos um pouco de como foi o início de tudo.

Marcos XT: Ah, Murta, foi muito difícil. Eu estava desempregado, com seis filhas para criar e, quando comecei a levar a coisa realmente a sério, ficava em casa, na frente do PC jogando poker. Dá pra você imaginar o que eu passei: muita “cara-feia”, fui chamado de louco, desocupado, essas coisas. Mas no fim as coisas acabaram dando certo.

AM: Você começou jogando em mesas baratas, partindo do zero até conseguir fazer o seu bankroll para poder viver de poker. Com a evolução técnica dos jogadores, graças aos livros, revistas, fóruns de discussão na internet, você acha que ainda é possível um jogador sair do zero e passar a viver de poker?

XT: De fato os tempos são outros. O cenário não é o mesmo de 3 ou 4 anos atrás. Hoje o número de jogadores e de sites para se jogar é enorme. Então é obvio que está muito mais difícil de fazer o que eu fiz. Para ser sincero, não sei se conseguiria fazer tudo de novo se tivesse que começar hoje em dia. Acho que ainda é possível, mas a dificuldade é bem maior.

AM: Como é a sua rotina como jogador profissional?

XT: Eu não me considero um profissional, estou mais para “operário do poker” (risos).  Eu jogo torneios baratos e tenho um objetivo fixo de fazer uma certa quantia que me proporcione viver bem e dar conforto para a minha família. Ao contrário da maioria dos jogadores, eu não jogo mais pelas madrugadas e noites. Acordo por volta das 8 da manhã e começo a jogar torneios e SnG de buy-ins variando entre US$5 e Us$50, no máximo. Por volta do meio-dia eu paro para o almoço, e volto ao trabalho lá pelas 16h, ficando até por volta das 21h.

AM: Você disse que no início jogava sem nenhuma técnica, sem saber as regras direito e sem observar os fatores importantes como posição, padrão de apostas, etc. Como se deu a evolução técnica de seu jogo?

XT: Cara, no começo eu jogava como um louco. Tudo errado, sem a menor noção do que estava fazendo.  Procurei ler e me informar sobre o jogo onde eu encontrasse conteúdo. Mas o que eu considero como o fator determinante para a evolução do meu jogo foi o fato de, ao fim dos torneios, eu sempre voltar e estudar mão a mão como me comportei na disputa. Isso foi fundamental para minha evolução como jogador.

AM: Como jogador profissional, você depende do que ganha nas mesas para garantir o seu “salário”. Como você enfrenta os períodos de Bad Run?

XT: Ah, Cara, é nessas horas que a vida separa os homens dos meninos (risos). Eu vi muita gente começar a jogar em períodos de “good run”, ganhando demais, e quando chegou na hora da “entre-safra” entregava os pontos por não conseguir segurar a onda. Como tudo na vida, no começo foi mais difícil. Já passei por períodos pesados, alguns que duraram meses, e foi barra. Hoje em dia isso não me afeta mais. Sei que é parte do jogo.

AM: Como é ter na Dona SolangeXT uma companheira na vida e no feltro?

XT: Poxa, como todos sabem, sou casado com a Solange, a “SolangeXT” do poker. Estamos casados há quase 23 anos, e temos seis filhas: essa mulher é uma grande companheira em todos os sentidos. Ela iniciou no game me vendo jogar e, na minha opinião, possui um talento enorme, já provado pelos resultados que vêm obtendo. Dizem as más línguas que ela joga melhor que eu, mas eu contesto (risos).

AM: De que modo você avalia o atual momento que vivemos, com a conquista de um título mundial, o fortalecimento da confederação brasileira, os torneios surgindo, etc.?

XT: Nossa, Murta, que fase vive o poker brasileiro, que crescimento enorme. Isso é tudo que alguém que vive desse esporte espera. Já é hora de o Texas Hold’em ser reconhecido verdadeiramente como esporte e acabar essa discriminação sem sentido. O resultado do Alexandre deve servir como um marco para essas mudanças, junto com a consolidação da Confederação e o surgimento dos jovens talentos. O poker já é uma realidade e não uma mania passageira.

AM: Num país em que os praticantes de poker ainda são vistos com desconfiança pela sociedade, muitos jogadores se inspiram na sua história. Seu exemplo evidencia que é possível viver com dignidade através do poker. Qual a mensagem você deixa para essas pessoas?

XT: Eu sempre digo que nunca tive grandes pretensões com o poker. A minha idéia era poder ter uma vida confortável para minha família, e isso é possível sim, desde que você se dedique e leve a sério suas metas. Você passará por muita coisa até provar que realmente é um trabalhador. Hoje, todos os que me cercam me tratam com respeito em relação ao meu trabalho. Vivo muito melhor do que quando trabalhava para os outros. Já estou nessa estrada há quase quatro anos e não pretendo mais mudar. Se você acredita que tem jeito pro esporte e vontade de aprender, dedique-se: estude, leia sobre o assunto e certamente você pode ter uma vida legal e ser respeitado como profissional do poker. E jamais pense: “se eu tiver sorte eu consigo”. Você só conseguirá se tiver força de vontade e dedicação. Sorte não tem nada a ver com isso!




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