Os autores de poker raramente se referem a ciclos de feedback, mas engenheiros os utilizam o tempo todo. Eles elaboram sistemas que adquirem e utilizam novas informações para fazer ajustes. Por exemplo, se a temperatura cair alguns graus, um termostato liga o aquecedor. Depois que a temperatura sobe um pouco, ele diminui a calefação. Essas pequenas correções previnem que o ambiente se torne muito quente ou muito frio.
Mesmo que jamais utilizem o termo “ciclos de feedback”, vencedores aplicam freqüentemente seus princípios para impedir que pequenas falhas de cálculo se tornem sérios erros e para se ajustar a situações em transformação. Eles buscam novas informações para manter suas mentes abertas, de modo a compreender e se ajustar às mudanças.
Você não pode usar bem esses ciclos sem ser brutalmente realista. Se negação, preconceitos, egoísmo, falta de habilidade para admitir erros ou qualquer outro fator distorcer seu raciocínio, pouca coisa importa. Também é importante se preparar a fundo, concentrar-se com intensidade e investigar com eficiência. Tais assuntos foram discutidos em colunas recentes da CardPlayer.
Depois, você deve seguir quatro passos:
1. Adquirir informações ininterruptamente. Quanto mais informações conseguir, melhores serão suas conclusões. Essa afirmação parece óbvia, mas muitíssimas pessoas param de buscar por novas informações quando chegam a uma conclusão.
2. Interprete toda e qualquer informação. O que isso significa? Como isso muda sua conclusão?
3. Use todas essas informações e revise sua estratégia. O que você deve fazer de diferente?
4. Implemente bem essa estratégia revisada. Não importa o quanto você melhore sua estratégia, pois ganha pouco se não implementá-la bem.
A relação entre esses passos geralmente é circular. Enquanto interpreta informações, você pode perceber que precisa de mais. Enquanto revisa sua estratégia, pode ver que interpretou mal alguma informação. Enquanto implementa a nova estratégia, pode perceber que ela está errada e repetir todo o processo.
Como o poker é um jogo de informações incompletas com condições que mudam muito depressa, não há como derrotar os oponentes sem usar bem os ciclos de feedback. Você precisa deles para quase tudo que faz, mas discutirei apenas três assuntos:
1. Ler as cartas de seus oponentes
2. Analisar as forças, fraquezas e estilos de seus oponentes
3. Analisar-se e se desenvolver
Ler as Cartas de Seus Oponentes
Essa habilidade depende muito dos ciclos de feedback. Perdedores se concentram em suas próprias cartas e ignoram informações sobre seus oponentes. Jogadores medíocres se concentram mais em suas próprias cartas – eles rapidamente concluem que cartas seus oponentes possuem e mantêm essa conclusão. Quando se deparam com informações conflitantes, eles as ignoram ou as minimizam.
Vencedores continuam a buscar e usas informações para melhorar suas leituras. David Sklansky escreveu:
“Não dê ênfase exagerada em sua opinião sobre a mão de seu adversário. Eu conheço muitos jogadores que colocam alguém em certa mão e jogam o resto da partida presumindo que ele possui aquilo. Isso significa exagerar muito no método de leitura de cartas [...] Em vez disso, você deve colocar um jogador em algumas mãos diferentes possíveis, com vários graus de probabilidade para cada uma [...] Teoricamente, o que estamos utilizando é um processo de eliminação [...] À medida que ele joga sua mão, podemos diminuir a gama dele” (Hold’em Poker, pp. 49-56).
Alguns jogadores não sabem ou não querem fazer isso. Você já ouviu com freqüência pessoas falarem: “Eu o coloquei em ás-rei” ou “Eu achei que ele tinha um flush draw”, muito embora o padrão geral das apostas dele claramente indicasse que ele segurava cartas diferentes. Esse é um erro terrível e extremamente comum.
O ciclo de feedback tem três características importantes:
1. Sensibilidade é a habilidade de detectar pequenos desvios ou erros. Quanto menor melhor.
2. Velocidade é a quantidade de tempo necessária para dar todos os quatro passos. Quanto mais rápido melhor.
3. Confiança é a freqüência de erros. Quanto menos melhor.
O valor da confiança é fácil de se aferir, mas é um pouco mais difícil avaliar a sensibilidade e a velocidade. Vejamos como os fatores velocidade e sensibilidade influenciam o modo como um perdedor, um jogador medíocre e um vencedor lêem cartas. Em situações completamente separadas, os três acreditam que têm a melhor mão no flop. Todos eles apostam.
O perdedor pode não perceber que está atrás mesmo depois de seus oponentes terem aumentado e reaumentado. Um jogador medíocre pode precisar de um único aumento para suspeitar que será derrotado. Um vencedor pode perceber o perigo sem que sofra um aumento: o semblante de um oponente ou a maneira como ele lida com suas fichas podem dizer muito sobre como ajustar a leitura e a estratégia. Ao rapidamente perceber que está atrás, o vencedor reduz suas perdas de maneira substancial.
Analisar as Forças, Fraquezas e Estilos de Seus Oponentes
Como essas análises são muito importantes, a maioria dos jogadores sérios logo tenta categorizar jogadores desconhecidos, usando pistas como suas idades, gêneros e a maneira como eles se vestem, falam e lidam com suas fichas. O perigo é que, ao rotular alguém, você pode ignorar ou minimizar evidências conflitantes (Vide artigo “Primeiras Impressões — Princípios Gerais” Card Player Magazine, Maio/2004).
Por exemplo, se uma mulher mais velha for calma e se vestir de forma conservadora, e um jovem rapaz falar alto e tiver piercings nas sobrancelhas e no nariz, cabelo verde e várias tatuagens, muitas pessoas podem rotulá-los respectivamente como "tímida vovó" e "adolescente louco".
Perdedores ignoram evidências posteriores, enquanto os vencedores usam o ciclo de feedback. Os perdedores podem permitir que a "tímida vovó" blefe contra eles, mesmo depois que os vencedores tenham percebido que ela é uma blefadora agressiva, e os perdedores podem apostar contra o "adolescente louco", mesmo depois que os vencedores tenham percebido que ele é bastante sólido.
Em seu próximo livro, World Class High-Stakes and Shorthanded Limit Hold’em, Ray Zee e David Fromm usam o termo “pensar dinamicamente” para descrever como vencedores de high stakes usam esses ciclos para analisar oponentes:
“Em vez de chegarem a uma conclusão e se aterem a ela, eles constantemente aperfeiçoam a análise das habilidades, motivos e processos mentais de seus oponentes, de modo a determinar como eles estão jogando naquele instante…
“Eles reconhecem os adversários mais difíceis, mas observam de perto como eles estão jogando naquele instante, pois mesmo os melhores jogadores jogam mal às vezes, em especial se tiverem perdido muito dinheiro há pouco tempo. Do mesmo modo, eles pensam sobre como os maus jogadores estão jogando e por que eles estão agindo daquela maneira.
“Contudo, a análise deles não pára por ai. Depois de começar a jogar, eles constantemente atualizam suas visões de todo mundo, prestando atenção a:
• “O que acontece com eles (como a ocorrência de bad beats ou o ganho um grande pote)”
• “Como eles reagem diante de boa ou má sorte”
• “Quaisquer outras mudanças no jogo normal deles”
É desse modo que você deve pensar: constantemente busque novas informações, tente entendê-las e então ajuste sua estratégia.
Analisando-se e se Desenvolvendo
O feedback mais importante é sobre você mesmo. Ninguém, nem mesmo um profissional, é completamente objetivo sobre si mesmo. Se você não obtiver e utilizar feedback, não poderá se analisar com precisão e se desenvolver com eficácia. Minha próxima coluna irá lhe dizer como fazer isso. ♠
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