Existe uma grande correlação entre poker e golfe. Muitos dos melhores jogadores de poker do mundo também apostam alto no campo de golfe. E, embora não haja nada no poker que se compare ao aspecto físico do golfe, eu acredito que ambos requerem habilidades similares em muitos pontos. Na verdade, os fatores mentais são extremamente similares. Mais do que na maioria dos outros empreendimentos, tanto o poker quanto o golfe exigem tremenda disciplina mental. Nesta coluna, eu gostaria de abordar alguns desses aspectos.
Primeiro, analisemos o desejo. Sem desejo, é impossível obter sucesso. Tanto o golfe quanto o poker parecem ser simples, mas não incrivelmente complexos e quase impossíveis de se dominar. Para se dar bem em qualquer deles, é preciso ter muita força de vontade. Isso significa fazer os sacrifícios necessários para alcançar seu pleno potencial. No golfe, é preciso infinita prática e inúmeras horas de treino. No poker, é preciso não apenas investir as horas, mas também ler livros, revistas e artigos de qualidade, e discutir o máximo possível do jogo com outros jogadores. Acima de tudo, porém, tanto no golfe quanto no poker, desejo significa um comprometimento inabalável com a excelência e uma constituição mental incrivelmente forte para suportar os altos e baixos.
Tanto o golfe quanto o poker podem ser muito deprimentes. Se você ficar acomodado ou deixar o sucesso subir à cabeça, certamente irá cair de volta à realidade. Uma boa rodada de golfe pode se seguir de uma péssima. Uma excelente tacada pode ser seguida por uma ruim. Do mesmo modo, uma sessão de poker vencedora pode se seguir de uma perdedora. Um ótimo flop pode se tornar desastroso no turn ou river. Você precisa realmente querer dar sempre uma boa tacada no golfe e sempre tomar a decisão certa quando for sua vez de falar no poker.
Obviamente, desejo não basta. O poker exige, assim como o golfe, concentração intensa. Imagine aquela primeira tacada em um campo lotado num dia de sábado. Com uma longa fila de curiosos observando, perguntando-se quem irá jogar mais lento, aquela tacada inicial exige que você bloqueie todo o resto e se concentre em si mesmo, no taco e na bola. Você precisa estar relaxado, mas, ao mesmo tempo, forte e decidido. Se houver um desvio mínimo nessa concentração, a bola vai para a esquerda, direita ou bem longe, em vez de ir para o centro.
O poker exige esse mesmo equilíbrio entre calma e intensidade. Você precisa manter a mente aberta, mas estar constantemente preparado para fazer estragos. Precisa estar sempre concentrado em seus oponentes, nas pot odds, nas cartas, na posição, em como seus oponentes lhe percebem, no histórico e em todos os outros fatores potencialmente relevantes. A menor baixa de guarda pode lhe custar fichas.
O resultado final da combinação de um desejo profundo de ser bem-sucedido com uma concentração intensa é a clareza, e não há sentimento melhor no mundo. Trata-se daquela sensação de que você dará uma tacada perfeita na bola e, assim como você esperava, a bola vai diretamente para o centro do buraco. É saber exatamente o que seu oponente tem e manipulá-lo em seu próprio benefício. É um sentimento de invencibilidade construído não em falsa vanglória, mas na culminação de incontável tempo gasto no cultivo de uma arte. Dependendo de nossos vários graus de desejo e concentração, todos nós já experimentamos faíscas desse tipo de clareza.
As exigências tanto do poker quanto do golfe são tão grandes que é impossível que alguém alcance algo que se assemelhe à clareza o tempo todo. Contudo, com desejo e concentração consistentes, esses momentos de clareza irão ocorrer com mais freqüência. ♠
David Apostolico é autor de inúmeros livros de estratégia de poker com foco psicológico, incluindo “Poker e A Arte da Guerra” e “Poker e Maquiavel”, próximos lançamentos da Raise Editora.
