EDIÇÃO 12 » MISCELÂNEA

Oráculo


Roy Winston e Michael Binger

Essa mão ocorreu no Main Event do Five-Diamond World Poker Classic 2007. A maioria dos jogadores conhece Hevad Khan, depois de sua sexta colocação no Main Event do World Series of Poker 2007, levando para casa quase um milhão de dólares. Ele é também um forte jogador online que já chegou a ser suspenso do PokerStars por jogar em muitas mesas ao mesmo tempo. Os administradores do PokerStars aparentemente acharam que ninguém poderia jogar em 40 mesas simultaneamente. Ele foi reintegrado quando perceberam que realmente estava fazendo isso. Mikael Thuritz, de Estocolmo, Suécia, é um jogador online e ao vivo bem conhecido também, descrito por Khan como alguém que possui habilidades “fenomenais”.

 

LEITURA DE HEVAD KHAN
Eu abri raise da posição hijack (uma antes do cutoff) com duas vezes e meia o valor do big blind; o small blind tinha saído, então restava apenas o big blind (Thuritz). Todos desistiram até ele, que pagou. Thuritz é um jogador online tight-aggressive vencedor em high-stakes cash games, que recentemente tem se dado bem em torneios ao vivo. Flopei o top pair com o segundo kicker, e eu pedi mesa depois dele com o propósito de controlar o pote, pois achei que ele não pagaria com algo pior que K-10 nessa situação. O 4 no turn trouxe um flush draw às possibilidades, e eu paguei a aposta de 8.000 dele. O river me deu os dois pares mais altos e eu fiquei inicialmente feliz com a aposta de 24.000 dele. Eu achei que estava à frente e aumentei cerca de metade do pote, 30.000. Quando ele re-aumentou, eu sabia que devia estar derrotado, mas ainda assim era difícil descartar uma mão que continha dois pares altos naquele instante, mas eu desisti.

ANÁLISE DE MICHAEL BINGER
Pré-flop, o jogo é mais ou menos padrão. No flop, Hevad deveria às vezes apostar e às vezes pedir mesa. Qualquer uma dessas jogadas é correta. Eu discordo de Hevad quando ele diz que Thuritz não pagaria com uma mão pior no flop. Uma continuation-bet de dois terços do valor do pote de Hevad será paga (ou aumentada) por várias mãos que ele derrotaria, incluindo Q-10, J-10, 10-9, 9-8 e talvez algumas mãos como segundo ou terceiro par. Muitos jogadores suspeitam de quem aumenta de posição final, e pagam caso se beneficiem de parte do flop. Pedir mesa no flop esconde a força dessa mão e também o possibilita manter o pote pequeno. Dito isso, pagar a aposta de 8.000 de Thuritz no turn é a melhor jogada. Certamente, desistir não é bom, e aumentar o coloca em uma situação difícil, ao construir um pote muito grande para um par, especialmente quando muitas cartas feias podem surgir no river. Na quinta carta, eu gosto da aposta forte de Mikael, e do aumento de Hevad. Ele terá sucesso em obter valor contra mãos de dois pares piores. Quando Mikael re-aumenta quase de all-in, ele pode ter apenas uma excelente mão ou estar blefando descaradamente. Não há possibilidade de ele estar aumentando pelo valor com uma mão pior do que K-10 nessa situação. Um bom jogador com dois pares menores desistiria ou pagaria o aumento de 30.000 a mais de Hevad, e não arriscaria sua vida no torneio exagerando aqui. Contudo, um jogador com habilidades “fenomenais”, como Hevad descreve as de Mikael, é capaz de blefar sob essas circunstâncias, sabendo que “RainKahn” pagaria apenas com um monstro. Então, Hevad tem basicamente que decidir se Mikael está blefando ou se tem o melhor jogo, ou algo próximo a isso. Como Hevad precisa pagar 50.000 para ganhar 187.400, ele precisa ter cerca de 21% de certeza de que Mikael está blefando para poder justificar um call. Como suas últimas fichas do torneio são mais valiosas em termos de dinheiro vivo do que ganhar fichas adicionais, Hevad precisa de mais de 21% de certeza, talvez de 25% a 30%. Hevad fez a leitura correta sobre Mikael, e deu um fold impecável.

ANÁLISE DE ROY WINSTON
Nessa mão, a jogada pré-flop de Hevad não tem nada de extraordinária: aumenta-se com uma mão em posição final para talvez apanhar os blinds e antes sem briga. Eu tendo a apostar com freqüência no flop: não que eu ache que pedir mesa seja ruim, mas ele tem um top pair e um bom kicker, então por que não tentar a sorte e ver o que acontece? Meu raciocínio numa situação desse tipo é que a aposta está fazendo uma pergunta: eu aumentei pré-flop e agora quero saber como estou – eu posso levar esse pote aqui, eu tenho a melhor mão? Não agindo no flop, Hevad permite que Thuritz tome o controle da mão quando nada aparece no turn. Thuritz é um jogador agressivo, e a gama de mãos com as quais ele pode abrir no turn depois que Hevad pediu mesa no flop é quase ilimitada. Hevad é forçado a pagar a aposta do turn, e na verdade estaria à frente na maioria das vezes, com base na ação até aqui. O river é complicado: a gama de mãos que podem derrotá-lo é apenas uma trinca ou uma seqüência, e é difícil imaginar que Thuritz tenha qualquer delas. Eu adorei o aumento de Hevad e, embora ele tenha perdido muitas fichas nessa mão, ele foi capaz de descartar em uma situação na qual muitos jogadores sairiam quebrados. É possível achar que Thuritz tenha flopado dois pares piores. Minha única crítica a respeito da mão é o pedido de mesa feito por Hevad no flop, no qual, se tivesse havido uma aposta, ele poderia antever a força da mão de Thuritz, permitindo uma escapatória antes de acertar dois pares no river. Também é possível que uma aposta no flop tivesse aumentado o pote a ponto de não permitir que Hevad desistisse dele. Eu gosto de controlar o tamanho do pote de modo que ele não se torne grande o suficiente para me forçar a pagar com base em seu tamanho. A habilidade de um jogador superior de controlar o tamanho do pote em uma situação assim é algo impressionante.

RÉPLICA DE HEVAD KHAN
Eu estava jogando bem tight desde o começo do dia. Decidi mudar o ritmo das coisas com minha nova imagem tight, e abri o pote da posição hijack com KTo. Quando Mikael pagou minha aposta, ele o fez muito rapidamente, então eu não achei que ele tivesse um par alto na mão, nem A-K, A-Q ou A-J, pois um jogador como ele certamente re-aumentaria com uma mão dessas pré-flop. O flop trouxe 10-8-7 rainbow e, quando ele pediu mesa, eu concluí que sua mão era suficientemente forte não apenas para pagar minhas apostas, e que ele faria um check-raise ou desistiria. Minha mão era forte, mas vulnerável, então eu pedi mesa depois dele, de modo a manter o pote pequeno. Com o aparecimento do 4 e da possibilidade de flush, Mikael atirou 8.000 em um pote de 13.400. Eu paguei depois de breve hesitação. O river trouxe o K e ele atirou 24.000 no pote contendo 30.000. Depois de raciocinar, eu concluí que ele não tinha pares altos, A-K, A-Q ou A-J, portanto a gama de mãos dele era composta basicamente de: dois pares (10-7, 10-8 ou 8-7 do mesmo naipe); pares do meio a trincas (9-9, 8-8, 7-7 e 10-10 possivelmente); e pares com draws que ele poderia blefar, bem como J-9 de naipes diferentes ou do mesmo naipe, que formaria o nut straight. Eu achei que seria muito simplesmente tight pagar aqui, já que minha mão estava tão disfarçada, então eu aumentei 30.000. Ele hesitou durante 10 segundos antes de voltar reraise de mais 50.000. Eu respondi apenas desistindo, já que meu aumento representava um blefe ou um aumento pelo valor com uma mão forte. Para poder re-aumentar depois disso, ele precisaria ter uma mão muito forte ou estar blefando descaradamente. Os 50.000 extras representavam uma quantia muito grande para enfrentar um possível call dele enquanto eu rezasse para que minha mão fosse boa, então eu descartei. Olhando para trás, eu não acho que meu aumento no river teria sido uma boa idéia sem uma leitura suficiente.

CONCLUSÕES DOS PROFISSIONAIS
Michael e eu concordamos que é difícil dizer muito sobre essa mão além de: “uau, muito impressionante!”. Eu realmente adorei o fold dele no river. Ambos jogaram muito bem e mostraram por que são de classe mundial.




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