EDIÇÃO 12 » COMENTÁRIOS E PERSONALIDADES

O dia que eu quase cometi suicídio


Daniel Tevez Cantera

Eu sempre digo que não tenho um “boss”, mas um amigo! A confiança que o Felipe Pacheco, o Filpac, teve em mim ao me colocar à frente do PokerNews em português (pt.pokernews.com), e a forma como trabalhamos juntos é um privilégio que poucas pessoas têm.

Apesar do profissionalismo, o clima de nossa equipe chama a atenção: estamos quase sempre rindo, brincando com as pessoas (o Murta, jornalista da CardPlayer Brasil, que o diga), mas sempre realizando um trabalho bastante sério. E encontramos tempo para “zoar” os outros – quem vê os vídeos hilários que fazemos se diverte bastante.

Mas vamos ao que interessa. Fomos contratados pela Tower para fazer a cobertura do Rio Poker Fest. Filpac, como sempre, estava vindo de Portugal – só que dessa vez pedi a ele que somente jogasse. Apesar de ser o maior evento realizado no Brasil até então, sabia que minha equipe daria conta tranqüilamente.

Cavalamos!
Já no primeiro dia fiquei desconfiado quando ele tirou a Jô Batista numa clássica K3 off “Made In Filpac” contra KJ naipado da gracinha de Balneário Camboriu. Mas já era tarde: ele estava lá, jogando pela gente, e muito bem de fichas.

O Torneio correndo, um monte de gente caindo e o Tuga firme, e grande em fichas. “Será que ele vai forrar a gente?”, eu perguntava. O João Marcelo e seu irmão Pipo avisavam, “Filpac vai levar”.

Enquanto o torneio corria, eu praticava meu esporte predileto: fazer a vida do Robigol impossível o maximo de tempo possível. E também rir do espanhol do Federal, que (reconheço) é bem melhor do que meu Português.

Vale lembrar que foi o primeiro grande torneio em que era proibido fumar, e o Robigol andava pelo salão caçando fumantes. Como não poderia perder a piada, eu acendia um cigarro e colocava num cinzeiro na mesa do Elton, então mostrava a “infração” ao Robigol, que imediatamente dava um tremendo esporro no coitado – trabalhar cobrindo torneios é assim: a gente sofre por não participar, mas a risada é garantida.


Luz, Câmera, Ação!
Outra coisa linda era quando nos espalhávamos no salão para cobrir o máximo de mesas.
Eu pedia ao meu companheiro Mamute para ficar no lugar tal ao lado da mesa tal.
“Tá tranqüilo, não é, Tevez?”, perguntava o Murta. E eu respondia: “Deixe o cara ligar as câmeras que você vai ver o circo, hermano”.

Não deu outra. Acenderam-se todas aquelas luzes e, na hora de ligar as câmeras, aquele alemão do canal FX saía feito louco por trás das cortinas – não sei por que, mas o Mamute ficava em primeiro plano em todas as tomadas... (risos)
 
Para o desespero do diretor, essa regra de “não fumar” parecia não valer para nossa ilha de trabalho – mas era o local de onde saia toda a informação para fora do torneio. Além disso, servia como “Muro das Lamentações” dos eliminados.

Algumas mãos depois ele, com TT, eliminaria o Grow (Jesus!). A conta estava segurando e já estávamos no final do primeiro dia!


Roda-Roda Vira...
De repente, ouvimos alguém gritar: “Filpac dobrou!”. E algumas mãos depois, com TT, ele também eliminaria o Grow! A conta estava segurando e já estávamos no final do primeiro dia. Novamente para nossa surpresa, era anunciado o novo chip leader do torneio... Adivinhem quem? Isso mesmo: Filpac! Com 88.000 fichas!

E o tuga aprontaria mais uma: ele abre raise de 6.775 fichas e Sérgio Braga anuncia all-in, com 22.000 fichas. Filpac paga a aposta com KQ e bate de frente com o AQ de Braga. No flop vem A3T. Faltava bater o quê? Um valete? E foi o que aconteceu! O J vem no turn, e o gajo acerta uma seqüência e elimina Sergio Braga. Eu já estava sonhando acordado com os alfaces que iria ganhar com essa “cavalagem à portugesa” – ele tinha ficado mais gigante do que nunca.


Vamo Que Todavia! É Hoje!
O tuga vai para mesa da TV, dá um call e fatia o “Nordestinho”, subindo para 155k – e já estávamos ITM. O torneio ia se afunilando e os blinds estavam ficando bem caros. Enquanto isso, ele acabava de eliminar, com QJ, um jogador que empurrou all-in pré-flop com AQ.

Ao ver o Filpac com 449.000, chip leader disparado, faltando apenas duas mesas, a única coisa que passava pela minha cabeça era: “É Hoje! Essa bagaça paga 150K e tenho 50% desse golpe! Forrei!”. E quando restavam apenas 17 jogadores, eu já pensava coisas como “vou quitar a minha casa e trocar os dois carros! Vamo que todavia!”.

Já estava combinando um churrasco com a galera do PokerNews quando o Filpac cai. Ele ficou em 16º (e eu, paralisado...). Todos aqueles sonhos voando para longe... Por pouco não assassinei o português naquele dia.

Só falei com ele uma semana após do Torneio. Do torneio...? Não, do torneio não: até hoje nunca mais nos falamos.




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