EDIÇÃO 12 » COLUNA INTERNACIONAL

Decisões Difíceis Fazem Parte do Jogo

A jogada certa nem sempre é óbvia


Roy Cooke

Às vezes esse negócio de poker não é fácil. As decisões nem sempre são claras. A coisa certa não é óbvia. Tudo o que se pode fazer é jogar seu melhor naquele momento, com base nas informações de que dispõe, e deixar que os resultados sejam o que são. E quando você estiver errado, aceite, e jogue a próxima mão.

Em geral, adaptar corretamente sua jogada ao seu oponente é o que separa os grandes jogadores dos medíocres. Dito isso, esse ajuste nem sempre é fácil de ser feito! A gama de variações geralmente é tão grande que é necessária uma profunda análise caso a caso para se chegar ao melhor movimento. Às vezes, mesmo para os jogadores experientes e sábios, a escolha da jogada é apenas o melhor palpite!

A mesa de limit hold’em de $30-$60 estava em andamento. Um maníaco bêbado estava colocando fogo na partida, criando muita ação e ganhando mais potes do que merecia. Um turista fraco estava sentado à minha esquerda, irritado e emocionalmente afetado por suas perdas. Ele acabara de perder os dois últimos potes para o Sr. Maníaco, que tinha conseguido acertar sua mão no river em ambas as ocasiões, e o Sr. Turista estava furioso!

Um jogador weak-tight entrou de limp e, como era de se esperar, o Sr. Maníaco aumentou! Ele adorava aumentar e adorava jogar sua “Doyle” (a mão seguinte à que você ganhou). A gama de mãos dele oscilava entre 3-2 de naipes diferentes e A-A.

Olhei para baixo e vi KQ no small blind. Em regra, eu triplico a aposta com esse tipo de mão diante de um aumento modesto vindo de posição final, mas, nesse caso, não tinha muito valor para mim ser agressivo, pois eu provavelmente precisaria formar uma mão para ganhar e não tinha leitura sobre o que o Sr. Maníaco segurava, havia outros oponentes para enfrentar e não estava em posição. Eu paguei. O Sr. Turista, que, embora jogasse quase todas as mãos, poucas vezes aumentava pré-flop, triplicou a aposta no big blind. Achei possível que ele tivesse uma mão forte, mas também cogitei a possibilidade de ele estar aumentando devido ao “tilt” diante do Sr. Maníaco. Todos nós pagamos!

O flop trouxe 853. O Sr. Turista tomou a iniciativa e os demais jogadores pagaram: era minha vez, com 15-1 e fechando a ação com duas overcards e um backdoor flush draw. Assim, com um pote atraente e achando que qualquer melhora seria boa, pois o Sr. Turista havia triplicado a aposta pré-flop, as probabilidades de minha melhora acertar a segunda melhor mão eram altas. Se ele tivesse A-A, K-K, Q-Q, A-K ou A-Q (ou se outro oponente tivesse um draw melhor do que o meu), eu poderia melhorar minha mão e apenas perder mais fichas. Desse modo, 15-1 são boas odds, então disparei $30, incerto sobre como jogaria se melhorasse minha mão.

Bingo! Uma Q apareceu, colocando duas cartas de ouros no bordo e me dando o top pair com um rei como kicker. Pedi mesa, esperando conseguir uma leitura do Sr. Turista, que, previsivelmente, apostou. Eu podia agora ler as ações de meus outros oponentes antes de tomar uma decisão. O jogador weak-tight desistiu e o Sr. Maníaco aumentou!

Agora eu enfrentava um dilema. A gama de mãos do Sr. Maníaco era enorme, englobando uma trinca, dois pares, um flush draw, uma dama melhor ou pior, ou mesmo um blefe descarado. Era uma situação difícil. Eu poderia derrotar o Sr. Maníaco ou não, e eu tampouco tinha necessariamente derrotado o Sr. Turista, embora houvesse muitas mãos com as quais ele apostaria aqui e eu o derrotaria. O pote era grande, $660, e estava me cobrando um alto preço: dar um fold incorreto e largar uma mão vencedora seria um grande erro. Eu estava perdido em minha leitura e adivinhando qual seria a jogada correta. Eu paguei, temendo que o erro de desistir fosse pior do que quaisquer bets perdidas.

O Sr. Turista re-aumentou. Nesse momento, achei que estava em perigo. O Sr. Maníaco desistiu instantaneamente – estava blefando. Agora havia $840 no pote, dando-me 14-1. Mesmo que eu tivesse apenas três outs, o call era fácil e eu poderia ter cinco. Mas também poderia ter zero. Achei que, diante do comportamento emocional do Sr. Turista — totalmente tiltado — havia alguma chance de eu ter a melhor mão. Considerando tudo, eu achei fácil. Paguei, não me beneficiei com o river e paguei a bet do Sr. Turista, que tinha A-Q.

Essa mão diz respeito a partidas muito loose-aggressive, que tendem a ser muito difíceis de ler e a colocar muitas fichas em risco a cada decisão. Optei por ver a carta do turn pagando um alto preço e me vi entrando em mais encrenca depois de acertar uma mão. A combinação da imprevisibilidade de meus oponentes e o tamanho do pote fez com que eu ficasse comprometido com o mesmo e tomasse decisões que me mantiveram preso a mais situações ruins. Ao final da mão, eu me perguntei como me meti nessa situação. Refletindo, eu ainda me pergunto isso! Assim, o enredo que se desenvolveu não precisava ter sido o que eu joguei, pois a gama de mãos contra mim poderia ter sido muito diferente.

Eu questiono minhas decisões a cada street, mas creio que elas não tenham sido tão ruins quanto parecem. Deveria eu ter triplicado a aposta pré-flop e talvez conseguido uma leitura melhor? Deveria eu ter apostado no flop pagando um bom preço embora soubesse que isso poderia significar apuros? Deveria eu ter desistido no turn quando ele foi aumentado, considerando que eu deveria derrotar duas mãos, mesmo sabendo que as mãos de meus oponentes poderiam ser muito fracas? Deveria eu ter desistido quando a aposta foi triplicada no turn? Deveria eu ter descartado minha mão no river diante de um pote tão grande e de um oponente emocionalmente irritado e imprevisível? Todas essas são perguntas difíceis em um grande pote no qual a disputa “preços vs. custos pelo erro” são consideráveis.

Você deve sempre analisar suas jogadas depois do fato, certas ou erradas. Jamais permita que o resultado seja o fator determinante em sua análise. E sempre tenha a convicção de que está jogando o melhor que pode.




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