Logo após vencer o Main Event da World Series of Poker 2016, Qui “TommyGun” Nguyen posava para fotos atrás de pilhas e pilhas de dólares, US$ 8 milhões para ser mais exato. Enquanto isso, nas arquibancadas, junto à família de Qui, Steve e Allen Blay, os cabeças do time TommyGun celebravam. Os irmãos são os fundadores do Advanced Poker Training (APT), um software de treinamento que ajudou Qui Nguyen a arrasar seus adversários na mesa final.
Se a vitória e o desempenho de Qui foi surpreendente para o mundo, o mesmo não se pode dizer das mentes por trás do APT. Foram milhares de simulações do November Nine. O resultado? Uma regularidade espantosa de vitórias de Qui. Sem falsa modéstia, os irmãos afirmam que o APT foi “o caminho mais rápido para transformar um iniciante em um campeão mundial”.
A Card Player conversou com os irmãos Allen para entender um pouco mais sobre esse método de treinamento.
Card Player: Irmãos com praticamente a mesma idade nem sempre vivem em harmonia. Como é a relação de vocês?
Allen Blay: Bem boa. Nós sempre tivemos interesses bem diferentes, então nunca estávamos em rota de colisão. Eu preferia implicar com nosso irmão mais novo. Steve acaba escapando da minha fúria (risos).
Steve Blay: Exceto naquele “acidente” com o Traço Mágico.
AB: Dizem que quando Steve tinha dois anos, eu o acertei na cabeça com um Traço Mágico e ele acabou indo parar no hospital. Sinceramente, não me lembro de nada disso (risos).
SB: Havia uma dúzia de testemunhas...
CP: E como vocês começaram a jogar poker?
SB: Allen e eu costumávamos a jogar na faculdade, pura loteria no início. Não tínhamos ideia que havia tanta habilidade envolvida.
AB: Aprendemos da maneira antiga: perdendo dinheiro. Havia um cara que sempre vencia. Algumas pessoas achavam que ele trapaceava. Comecei a prestar atenção nele. Quando ia para o quarto, eu fazia cálculos de probabilidade de acerta alguns tipos de mãos e quanto eu poderia ganhar com isso. Bem, acabei “descobrindo” o conceito de odds do pote bem antes do tempo em que você poderia pesquisar isso na internet. Comecei a vencer e, pela primeira vez, percebi a importância da prática e do estudo.
CP: Quais os jogos vocês mais gostam de jogar?
SB: Home games high stakes são a forma mais intensa do poker. Agora que sou pai e marido já não jogo tanto porque há sempre um pequeno risco de você tomar um tiro ou ser preso [nos EUA, apostar fora de recintos licenciados é crime]. Mas o conjunto de habilidades transcende o poker: alguém precisa colocar você dentro do jogo, você precisa se proteger contra trapaceiros e você precisa ser divertido e jogar muitas mãos. Se as pessoas estão virando doses de tequila, você tem que fazer o mesmo. Se elas estão fazendo apostas paralelas ridículas, você não pode ser o estraga-prazeres que fica de fora. Caso contrário, nunca mais será convidado. Jogar em um ambiente controlado, como uma casa de poker, é fácil perto disso.
CP: Como surgiu a ideia do Advanced Poker Training?
SB: Allen sempre foi um grande professor, e eu percebi que adorava ensinar e dar treinamento (eu também ensino xadrez). No início dos anos 2000, não havia material decente de poker, então...
AB: Em 2005, Steve e eu estávamos em Las Vegas e propus que anotássemos as mãos de várias pessoas uma série de mãos. Steve desenvolveria um programa que analisaria suas jogadas, suas fraquezas e daria a elas um “QI de poker”. Essas pessoas poderiam então comprar um relatório sobre isso. Nós tentamos primeiro com 50 mãos e lançamos o site em 2007.
CP: Como era o site inicial?
AB: Nosso foco era originalmente cash games com nove ou dez jogadores. Os usuários podiam jogar contra 100 oponentes virtuais diferentes e terem um relatório depois da sessão. Enquanto eles jogavam, eles podiam ver as probabilidades básicas, escolher as mãos distribuídas, congelar o button etc.
CP: Agora vocês têm todas as variedades de no-limit hold’em, programas de treinamento, desafios com o “Derrote o Profissional” e outros tantos tipos de materiais. Como uma empresa tão pequena se tornou algo tão diferente do que há no mercado?
SB: Com as pessoas se juntando ao site, nós continuamos expandindo o conteúdo disponível. Todos adoravam e pediam por mais material. Conseguimos tantos membros que, há cinco anos, larguei meu emprego na engenharia e comecei a desenvolver conteúdo exclusivamente para o site. Enquanto as pessoas gostarem do site, eu continuarei produzindo. Trabalho todos os dias da semana, mas escolho quando quero trabalhar e posso ficar com os meus filhos em casa. A vida é muito boa.
AB: Steve é um programador e jogador de poker brilhante. Desde que ele largou o emprego, o número de membros cresceu 10 vezes. Muitos dos conceitos iniciais eram ideias minhas, mas eu não sabia como desenvolvê-las. Tudo tem dado certo porque não somo gananciosos nem sedentos por poder. São coisas desse tipo que destroem sociedades.
CP: Steve, como você melhorou como jogador e como isso influencia na maneira que você treina outros jogadores?
SB: Nunca achei que a excelência no poker está além do alcance de alguém. Você precisa entender a teoria por trás do jogo e depois gastar horas e horas aplicando isso nas mesas. Ajuda um pouco ser um nerd da matemática, mas isso não é totalmente necessário. Nosso programa ajuda muito, pois você consegue essa prática em pouco tempo. O mais difícil, para mim e para a maioria dos jogadores, é sair da zona de conforto. Por exemplo, você precisa ser capaz de realizar grande blefes de tempos em tempos. Quando dá errado, o ego e o bolso são machucados, mas é aí que você desenvolve nervos de aço na mesa. Você não pode pensar no dinheiro — e leva tempo para que você fique vacinado contra esse tipo de situação.
CP: Qual a ferramenta do APT você escolheria se pudesse utilizar apenas uma?
SB: O desafio “Derrote o Profissional” seria minha escolha número um. Porque o processo foi moldado depois de inúmeras pesquisas que nos mostraram qual a melhor maneira para se aprender. Em vez de assistir um cara jogando poker, você mesmo jogará as mãos e depois ouvirá a explicação de um profissional de como ele jogaria a mesma mão.
AB: Eu concordo. Não gosto da maioria dos vídeos de treinamento. Você não aprende assistindo um vídeo ou ouvindo alguém falar. Primeiro você precisa praticar, aprender o que fez certo e errado e então praticar de novo — e é isso que o “Derrote o Profissional” faz.
CP: Quais são as armadilhas que derrubam jogadores à medida que eles sobem de nível?
SB: Se analisarmos estritamente o poker, posso dizer que é achar que apenas sentar em uma mesa de poker jogar o fará melhor. Também tentar jogar em um estilo que não sintonize com sua personalidade. Mas as grandes armadilhas não estão correlacionadas ao poker. Não gerenciar bem seu dinheiro, tomar decisões ruins na vida, não cuidar da saúde, fazer atividades paralelas quando joga. Coisas assim são grandes impedimentos para que o jogador se desenvolva.
CP: E como foi treinar um campeão mundial e estar ali, ao vivo, torcendo por ele?
SB: É impossível descrever. Caos. Euforia total. O sonho de uma vida se tornando realidade. Foi uma coisa intensa. Eu queria entrar ali e dar as melhores informações para o Qui sobre seus adversários.
CP: Que mais ajuda a desenvolver os programas de treinamento?
SB: Existem vários profissionais renomados que nos ajudam com toda teoria e prática do jogo. Pela APT, você pode inclusive conseguir preços únicos para treinamentos individuais. São eles: Mike Caro, Scotty Nguyen, Jonathan Little, David Williams, Scott Clements, Ed Miller, James “SplitSuit” Sweeney, Doug Hull, Lauren “Supermodl” Kling, Tom “Titan” Braband.
CP: O que esperar da APT daqui para frente?
AB: Continuaremos desenvolvendo a Inteligência Artificial do site e melhorando nossos robôs e planos de treinamento. Queremos também desenvolver ferramentas que ajudem com a GTO (Game Theory Optimal). Acho que isso é essencial em retas finais e, principalmente, em heads-up.
SB: Poker é sobre range de mãos, frequências e jogadas balanceadas. Então, continuar adicionando conhecimento ao site é o principal objetivo. Dito isso, queremos apenas o melhor para nossos clientes. Eles nos tornaram o que somos hoje. Devemos tudo a eles.