EDIÇÃO 11 » COLUNA NACIONAL

Poker e Mercado Financeiro

E seus (muitos) pontos em comum


Leo Bello

Nos últimos meses, venho pensando bastante sobre oportunidade de ouro que me foi dada de poder discutir sobre poker com meus leitores. A cada mês, aqui na Cardplayer, ou ainda através dos livros que escrevi (“Aprendendo a jogar poker” e “Dominando a arte do Poker”, que será lançado em agosto), tenho a oportunidade de escolher o tema sobre o qual quero tratar. Assim posso tentar, aos poucos, ir mostrando o quão complexo o poker é – seus inúmeros recursos estratégicos, táticas, jogadas diferentes. Posso ir falando sobre teoria e prática, matemática e probabilidade, psicologia e comportamento humano.

Entretanto, um dos aspectos que sempre me interessou foi o de traçar paralelos entre o poker e o nosso cotidiano ou, em outras palavras, quais habilidades desenvolvemos ao jogar poker e que nos ajudam no dia-a-dia. Em 2007, durante a WSOP, comprei um livro chamado “The Poker MBA”, em que o autor tentava explorar os conceitos do poker para executivos.

Ele mostrava como uma negociação funcionava, a hora de blefar com o cliente, como demonstrar segurança com o seu “jogo” quando tudo está indo ralo abaixo, como não mostrar toda sua força para não assustar o seu adversário/cliente, como o nosso esporte ajuda a desenvolver o raciocínio analítico mesmo sob pressão de tempo, dinheiro e resultados.

Se todos os empresários tivessem um treinamento intensivo em poker e aprendessem a controlar as emoções, ler as cartas na mesa, pensar nas atitudes dos adversários e nas suas próprias, os erros diminuiriam e quem sabe a lucratividade das empresas aumentasse por possuir homens-de-frente preparados para as pressões psicológicas.

Mas ao invés de continuar falando sobre empresas, queria abordar outro assunto, de certo modo correlato e que lida diretamente com o que nós jogadores profissionais também almejamos: ganhar dinheiro.
Quantos jogadores já pararam para pensar no “hit” do momento no Brasil – a bolsa de valores?
O mercado financeiro sempre me atraiu, e a possibilidade de fazer o dinheiro se multiplicar estudando os melhores investimentos e a flutuação de ações na bolsa exercia fascínio sobre mim.
Porém, acredito que só após me tornar jogador profissional de poker é que consegui perceber o mercado financeiro de uma maneira mais global. Os princípios necessários para se tornar um profissional bem sucedido nas duas atividades são semelhantes:

1- Desenvolver e ter um bom controle de bankroll. Investindo ou jogando poker você precisa ter uma estratégia para a alocação dos seus recursos, não jogando acima das suas capacidades e conhecendo as cestas em que você deposita seus ovos. No mercado financeiro o termo utilizado é “gestão de risco”.

2- Ter uma base sólida da teoria do jogo, que o leve a traçar um plano com expectativa positiva. Ao montar uma operação com opções cobertas ou ainda ao comprar uma ação cujos fundamentos dizem estar baratas e com potencial de crescimento, você está usando métodos de escolha com os quais espera um retorno positivo. Ninguém investe para perder, mas, assim como no poker, o risco que o retorno esperado não aconteça, sendo negativo ou até mesmo surpreendendo e pagando mais, existe.

3- Por último, as características intrínsecas do jogador. Não adianta traçar estratégias e gerir riscos se o operador–jogador não consegue pilotar o barco. É preciso estar atento às mudanças da maré e perceber a hora em que se deve forçar uma jogada ou vender uma posição.

Como vocês podem perceber, são três pilares que sustentam tanto o poker quanto o mercado financeiro: I – Gestão de risco; II – Método com Expectativa Positiva e; III – um bom operador.

As características necessárias para ser um jogador profissional se confundem com as de um operador de sucesso. Saber lidar com o dinheiro e suas pressões, identificar oportunidades, ter sangue-frio e rapidez nos movimentos.

Se vocês não estiverem convencidos das semelhanças, vamos parar e pensar nos leigos. Hoje, com o conhecimento de poker que você já adquiriu, quais seriam as chances, na sua opinião, de um jogador sem preparo ganhar consistentemente no Texas Hold´em? Não estou falando de um resultado isolado, e sim de ganhar vários torneios, cash games, e de ter um retorno positivo de uma maneira geral?

E no mercado financeiro? Quais as chances de um aventureiro, que não estude sobre o funcionamento e as artimanhas e aprenda pelo menos as bases de análise fundamentalista e técnica, obtenha lucro consistente?

Mas – pressupondo ter despertado curiosidade de alguns – como ir um pouco mais a fundo nessa relação entre poker e finanças? Começo sugerindo o site www.bastter.com.br. Em fevereiro deste ano, durante as minhas pesquisas para o livro “Dominando a arte do Poker”, em que eu queria escrever um pouco sobre essas semelhanças, acabei encontrando neste site uma seção inteira dedicada ao poker.

De lá para cá fiquei amigo do seu criador, o médico carioca Maurício Hissa, que assim como eu fiz com poker, se especializou em mercado financeiro e hoje só mantém a atividade de médico como um hobby, já tendo inclusive publicado três livros sobre o assunto – e dois deles não saem da lista dos mais vendidos na área de finanças: “Sobreviva na Bolsa de valores” e um sobre opções, cujo título não me recordo agora.

Pedi a Bastter que escrevesse um capítulo sobre o assunto para o meu novo livro, e conversamos muito sobre as semelhanças, o que inclusive acabou aumentando o meu conhecimento sobre bolsa de valores.

Ainda naquele mês fui chamado pelo Robson Tatimoto, da COPAG do Brasil – uma das poucas empresas que apoiam o Texas Holdem há mais de 3 anos – para ser apresentado ao projeto dos novos baralhos da linha Texas Hold´em: em 6 cores diferentes e com três tipos de naipes, grande, pequeno e peek (o mais original, no qual o naipe e valor da carta aparecem na ponta diagonal da carta).

Para este lançamento, um comercial de televisão e uma campanha na web em que eu, junto com Leandro Brasa, Igor Federal, Andre Akkari, Christian Kruel, Raul Oliveira e Cinthia Escobar, representamos os jogadores de poker.  Só que na reunião de planejamento estava o gancho. Robson me pergunta: - “Qual público ainda não conhece bem poker, que você acha que adoraria aprender e praticar o jogo?” Pensei no mercado financeiro na mesma hora – pessoas com habilidade para o risco, com dinheiro e que gostam de desafios. Foi quando Robson me disse: - “A Copag fez um estudo e chegou à mesma conclusão. O comercial será veiculado seis vezes por dia, em horários nobres no canal Bloomberg” (emissora a cabo voltada para o mercado financeiro).

Por último, lembrei-me de Barry Geenstein, que em uma entrevista comentou que não só ele, mas vários profissionais de renome aprenderam a fazer o seu dinheiro render no mercado financeiro, como uma forma de diversificar seus riscos e até catapultar outros projetos ligados ao poker.

Agora, uma novidade: no dia 18 de junho eu passei a ter uma página dentro do site da CardPlayer Brasil (www.cardplayerbrasil.com/leobello). Lá vocês poderão encontrar a íntegra dos meus artigos já publicados na revista, um blog com fotos e vídeos de minhas viagens (começando com uma cobertura da WSOP), uma seção onde podem enviar perguntas que poderão ser respondidas no site ou até virar tema para um artigo aqui. Como bônus para esta coluna, selecionei um material sobre mercado financeiro e deixei disponível para download no site.

Mas acima de tudo lembre-se de que, assim como no poker, não se deve cair de pára-quedas no mercado financeiro, pois preparação e disciplina são fundamentais.




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