EDIÇÃO 11 » COLUNA INTERNACIONAL

Gerenciando Seu Estilo de Jogo

Faça Ajustes


Roy Cooke

Recentemente, um aspirante a profissional me perguntou que estilo de hold’em eu recomendo. Ele havia lido vários livros que ofereciam conselhos conflitantes. Um recomendava que ele fosse bastante tight-aggressive, chegando ao ponto de desistir de mãos que ele achasse que poderiam vencer, para poder ganhar dinheiro disputando potes depois que ele tivesse ganhado o respeito de seus oponentes. Outro livro recomendava que ele fizesse “jogadas enganadoras” — jogando/aumentando com mãos fracas na tentativa de fazer com que seus oponentes dessem call com mais freqüência quando ele tivesse uma boa mão. Ele estava confuso por causa de dois autores que ofereciam perspectivas totalmente diversas sobre como abordar o jogo.

O dilema dele traz à tona uma discussão importante sobre a literatura do poker. David Sklansky, no prefácio de meu primeiro livro escrito em parceria com John Bond (Real Poker: The Cooke Collection), alertou sobre os perigos de muitos livros de poker que fornecem tantas informações erradas que acabavam arruinando o valor de qualquer informação decente que lhe tenha sido dada. Cuidado com o que você acredita — e em quem você acredita! Phil Gordon, em seu fantástico Little Green Book, sobre no-limit hold’em, adverte que ele está apresentando o estilo de jogo dele, que pode ou não ser o mais adequado para você. Essa advertência deve ser aplicada a todos os conselhos sobre poker.

Eu respondi ao aspirante do mesmo jeito que respondo à maioria das perguntas: “Depende”. Seja qual for seu estilo geral de jogo, você deve sempre modificá-lo para refletir os estilos de seus oponentes e a textura atual da partida. Há apenas algumas noites, eu observei um jogo passar de loose a tight apenas com a saída de um jogador e a entrada de outro. Mais tarde, houve outra substituição e o jogo ficou maníaco, tudo isso em cerca de 45 minutos. Meia hora depois, o jogo estava tight de novo.

Como o profissional do golfe que pode jogar em diferentes paisagens ou o do boliche que se adapta às diversas condições da pista, um profissional do poker precisa se adequar à textura da partida em que se encontra, variando seu jogo de acordo com os estilos de seus oponentes. Quando jogar contra oponentes observadores, é importante não ser previsível. Não se torne fácil de ler. Se você tiver apenas um ritmo/estilo, até mesmo os jogadores vagamente observadores irão lhe decifrar. Dito isso, muitos jogadores são tão desatentos que não perceberiam um elefante passando por cima da mesa. Preste atenção à falta de atenção deles!

Seu estilo deve depender dos prováveis erros de seus oponentes durante o jogo. Se eles tendem a desistir quando deveriam pagar, você deve guiá-los na direção do raciocínio equivocado. Psicologicamente, é mais fácil conduzir as pessoas por um caminho em que elas já acreditam. Se seus oponentes forem apostadores malucos, pagando/aumentando quando deveriam desistir, você deve guiá-los na direção desse pensamento enganoso e tentar fazer com que eles paguem ainda mais. As partidas geralmente contêm uma grande variedade de estilos de jogadores. Ajuste seu estilo ao de quem estiver disputando o pote com você. Mescle suas estratégias e diferencie seu jogo em uma mesma sessão.

Observe que seu estilo é diferente de sua imagem na mesa, mas guarda estreita relação com ela. É bastante comum conseguir tirar muita vantagem ao fingir um estilo enquanto se joga outro.

O estilo tight-aggressive é o preferido da maioria dos jogadores vencedores – ele agrega valor aos seus blefes. Seu oponente respeita mais suas apostas e desiste mais, e é muito valioso quando seu adversário desiste de uma mão superior à sua, especialmente um draw que você teria dificuldade em acertar. Esse estilo traz outros benefícios, pois geralmente limita a gama de mãos com as quais seus oponentes jogam, tornando-os mais fáceis de ler. Eles em geral “congelam” e não apostam ou aumentam de modo a agregar valor à mão que derrotaria a sua. Com maior freqüência, eles irão “dar check até que alguém dê raise”, dando a você cartas grátis quando não deveriam, criando valor ao levar potes nos quais você não pagaria uma bet e conseguiria a mão vencedora, e economizando uma bet naqueles em que você teria dado call e não teria acertado o draw. O respeito de seus oponentes irá criar situações em que você poderá utilizar “jogadas de proteção”, o que aumenta suas chances de ganhar determinados potes.

Todas essas jogadas requerem que seus oponentes sintam-se intimidados por você! Aqueles que vieram “apostar” não se importam com quem aumentou, e em geral sequer sabem quem é o autor do raise — já que não prestam atenção alguma às ações anteriores. Como tais jogadores não lhe dão o benefício de desistir quando deveriam pagar, você deve pagar as apostas deles ainda mais, e ficar bem mais loose. Manipule-os e encoraje-os a cometer erros ainda mais loose. Existem diversas maneiras de se conseguir isso, executando jogadas enganosas no sentido de fazê-los crer que você está jogando mais loose do que realmente está, mostrando tais mãos e atraindo atenção para elas. Aja de modo a encorajar esses oponentes a se envolver na ação, tornando o clima do jogo uma festa em vez de uma competição de xadrez. Alguns jogadores habitualmente contrariam seus oponentes com o objetivo de fazê-los “tiltar” e tirar vantagem disso, embora isso possa causar o efeito oposto, fazendo com que os jogadores joguem mais defensivamente ou mesmo abandonem a partida.

Se você joga em limites médios ou altos, tight-aggressive é o estilo que você deve escolher com maior freqüência. Limites mais baixos tendem a ser mais sociais e mais loose, o que requer técnicas capazes de deixar o jogo ainda mais solto. Assim, jogos médios e caros podem se tornar bastante loose e/ou aggressive, enquanto os baixos podem se tornar tight e sérios. Manipule as situações de acordo com o que estiver ocorrendo.

Aprenda a compreender quando mudar de marcha, que imagem é melhor para começar, que imagem seus oponentes têm de você e que tipos de erros eles estão cometendo, para então fazer os ajustes adequados.




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