Olá, amigos da CardPlayer Brasil, é com muita alegria que anuncio minha participação junto a este grande time de colunistas! Neste meu primeiro artigo vou compartilhar com vocês algumas jogadas importantes que executei em torneios. Elas servirão para análise e reflexão, e para fazer o nosso jogo evoluir um pouquinho a cada dia, principalmente em situações bastante específicas. Nesta edição discutiremos algumas mãos ocorridas nos últimos torneios que disputei. Vamos a elas:
Jogada 1 - EPT San Remo (Dia 2)
Blinds: 500/1000/200
Stack: 88k
Média: 110k
Jogadores restantes: 76 (ITM 72º)
Adversário: Isaac “WestmenloAA” Baron (Estados Unidos) (foto)
Perfil: Well-Mixed Game
Situação: subi 2900 do UTG com AQs e a mesa rodou em fold até chegar no BB, que pensou por 20 segundos e anunciou all-in de 78k.
Teoricamente, Isaac faria esta jogada com qualquer mão, principalmente na bolha da premiação. Mas eu estava jogando na mesma mesa que ele há pelo menos 3 blinds, ou 3 horas (60 minutos cada nível), disputando poucos potes e apresentando bons showndowns. Ainda não tinha dado fold em nenhum reraise na mesa – aliás, quando Markus Golser, profissional do Full Tilt, empurrou um reraise eu voltei all-in com KK, da mesma posição; não teve showdown e não mostrei as cartas.
Mesmo assim, resolvi dar fold. Não necessariamente por causa da bolha, mas por saber que ele é um jogador muito inteligente e tinha acompanhado a mão de KK que acabei de comentar. Acreditei que ele realmente tivesse uma mão melhor.
Meu raciocínio: de acordo com a minha leitura, coloquei-o em três mãos: AK, JJ ou TT. Eu realmente não queria dar call para não vê-lo mostrar alguma dessas. (risos) E, fora a questão da leitura do adversário, dentro do contexto da situação, o fold realmente seria a melhor opção, por mais que Isaac pudesse estar fazendo outro move. Ele não mostrou a mão, mas no jantar me disse que tinha AK; vai saber...
Jogada 2 - EPT San Remo (Dia 3)
Blinds: 2500/5000/500
Stack: 390k
Média: 426k
Jogadores restantes: 16 (semi-final table)
Adversário: Eric “Mamuth” Koskas (França) (foto)
Perfil: Ultra-Loose (high-stakes player live e online)
Situação: subi de middle position com AA contra o big blind de Eric, que deu call com 780k fichas. Flop K-K-K. Teoricamente excelente, pois só perderia para a quadra.
Falando mais sobre perfil do Koskas, ele já tinha ganhado showdowns de Q3o e 75o em heads-up, mas é um jogador que não controla muito as pot odds nem a posição, e seu forte não é a memória.
Assim, após ele dar check no flop, prefiri controlar o pote e pedir mesa também. No turn bate um 7 e ele já sai atirando cerca de 1/2 pote. Pelos mesmos motivos, resolvi dar call para ver qual seria a atitude dele no river, já que eu tinha vantagem de posição. O river trouxe um 5 e nada mudou. Ele colocou cerca de 1/3 do pote.
Meu raciocínio: numa situação comum, contra qualquer outro jogador, eu provavelmente voltaria reraise (e não apenas no river), por ser uma jogada que certamente tem EV positivo. Mas como se tratava de um jogador ultra-loose, e eu estava com um stack bom, resolvi só pagar, temendo uma possível quadra, pois até K2 ele poderia ter ali.
Entendo que o call tenha sido uma boa jogada. Afinal, com quais mãos ele pagaria um eventual reraise meu no river? Eu não estava dando para ele par acima de T pelo modo como se deu a construção da jogada. Talvez ele tivesse acertado o 7 ou o 5, mas essa hipótese não faz muito sentido, porque se ele me voltasse all-in eu teria que dar call e rezar para ele não estar com oK restante. Além disso, o francês era um dos chip leaders naquele instante e, com mais fichas que eu, seria bem capaz de fazer esse movimento. A leitura do adversário foi muito importante, mais do que qualquer coisa: Eric tinha 22.
Jogada 3 - EPT Monte Carlo (Dia 2)
Blinds: 800/1600/200
Stack: 70k
Média: 50k
Jogadores restantes: 126 (ITM 80º)
Adversário: Gus Hansen - Dinamarca (foto)
Perfil: Ultra-Loose (high stakes player live e online)
Situação: Gus subiu de UTG+1 para 4200 e a mesa rodou em fold até chegar em mim, que era o button, com QJs.
Resolvi dar call. O small e o big também pagaram, e tivemos um pote de aproximadamente 18k fichas. O Flop vem com J-3-3, uma de cada naipe. SB e BB deram check e Gus, depois de pensar por cerca de 1 minuto, atirou 6k. A ação chegou a mim e eu, sem hesitar, voltei reraise de 16k. SB e BB largaram instantaneamente e Gus ficou pensando por mais de 5 minutos, fez algumas considerações em voz alta e deu fold.
Meu raciocínio: resolvi defender minha mão contra o SB e BB dando o reraise, justamente para saber se um deles tinha um 3 na mão. Acredito que se a jogada fosse disputada em heads-up eu poderia tentar algum tipo de slowplay contra um jogador agressivo com top pair e um kicker bom. Pelo tempo que Gus pensou, o coloquei num par de T, e ele ficou analisando se eu tinha o J ou um par na mão, assim eu pagaria a volta, que seria o all-in dele. Pelo fato de ele estar com mais ou menos 25k para trás e o pote ter 40k, acredito que tenha analisado que eu daria call com qualquer par, devido a certo comprometimento com o pote (tirando a possibilidade de ser um move meu) e ao fato de que se eu perdesse a mão ainda ficaria perto da média de fichas do torneio.
Jogada 4 - LAPT San José (Dia 1)
Blinds: 150/300/25
Stack: 36k
Média: 17k
Jogadores restantes: 220
Adversário: Joe “ender555” Ebanks - Estados Unidos (foto)
Perfil: Tight-Agressive (online player)
Situação: UTG short-stack, com 6100, subiu 3x blind e Joe, no UTG+1, deu reraise para 4700. A mesa rodou em fold até mim, no button, com KK.
Não demorei muito para tramar a minha jogada: Joe tinha cerca de 45k em fichas, era um dos chip leaders do torneio, e pensei numa maneira de atraí-lo para o jogo, já que se eu desse call representaria uma mão muito forte e talvez espantasse ambos do pote. Quando comecei a mexer nas minhas fichas percebi certa agitação em Joe, como se estivesse me dizendo: “pode vir que eu vou pagar”. Nesse momento anunciei meu all-in de 36k, um caminhão de fichas, pois eu estava com o dobro da média.
Meu raciocínio: executei essa jogada porque, em meu ver, ele pensaria se tratar de um move desnecessário, um blefe talvez, visto que eu estava muito bem no torneio. Outro fator importante que pensei é que, se ele tivesse uma mão forte como AK ou QQ, não teria conseguiria de dar fold, já que era um jogador muito previsível e pelo fato de jogar quase que exclusivamente na internet, onde calls com essas mãos, nessas situações, são muito mais freqüentes do que ao vivo.
E a trama deu certo. Depois de pensar por 30 segundos, Joe deu call e apresentou QQ – “que maravilha”! Era minha chance de ir para 80k em fichas e assumir a liderança. Infelizmente, uma Q apareceu no flop e terminou com o meu torneio, naquela que considero uma das melhores jogadas live que eu já executei na minha carreira. Parece muito simples mover all-in com KK pré-flop, mas não é. Ainda mais nessa situação de meio de torneio, em que as opções são múltiplas e a melhor é aquela com a qual você consegue extrair o máximo de fichas do adversário numa condição de favorito ao pote.
Bem, pessoal, por hora é isso. Espero que tenham gostado e que essas análises sejam alvo de reflexão e discussão, pois assim poderemos evoluir no poker. Para quaisquer comentários, sugestões ou críticas, podem me escrever no email felipemojave@gmail.com, e terei prazer em respondê-los. Também não deixem de acompanhar meu blog em www.cardplayerbrasil.com/mojave que agora tem muitas novidades – vale a pena conferir.
Grande abraço e até a próxima edição! ♣