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Joe McKeehen vence o November Nine 2015


Marcelo Souza
Insossa. Essa talvez seja a melhor palavra para descrever o November Nine 2015.  Joe McKeehen venceu com todos os méritos, mas faltou o brilho. McKeehen foi pragmático. Nunca esteve em perigo. Traçou uma estratégia e a seguiu até o final. Não houve percalços. Seus adversários pareciam aceitar que o título já tinha dono e só queriam aquele pulinho a mais na premiação. Ninguém o desafiou. McKeehen não foi Martin Jacobson. Seus oponentes, mal preparados, tiraram-lhe essa oportunidade. Não valorizaram seu título. Não foram Van Hoof ou Stephensen. McKeehen não precisou se esforçar para ser campeão. Fez apenas o que tinha que ser feito. Nada mais. Sua reação (ou falta dela) após o título mostrou que, também para ele, faltou algo. Joe McKeehen é o campeão mundial — incontestável — de 2015, mas graças aos seus adversários, não terá um título como o de Jacobson: “o melhor campeão dos últimos anos”.
 
A mesa final do Main Event da World Series of Poker 2015 foi jogada em três dias. A cada três eliminações, o torneio era paralisado e os sobreviventes voltavam à mesa apenas no dia seguinte. Após entrar com a maior vantagem em fichas da história do November Nine, o norte-americano Joe McKeehen não decepcionou. Sempre foi quem mais acumulou fichas e quem tomou as ações da mesa. Confira:
 
9º PATRICK CHAN (ESTADOS UNIDOS) – US$ 1.001.020
 
Do button (BTN), o chip leader Joe McKeehen empurra all-in. Patrick Chan, com menos de 15 big blinds (bbs), dá call do small blind (SB). Federico Butteroni, também com poucas fichas, larga sua mão.
McKeehen mostra A4. Chan tem KQ e precisa melhorar a sua mão.
 
O flop mantém McKeehen à frente quando traz 1065. O turn, um 3, não ajuda Chan. O river é um 9, que elimina Chan logo na segunda mão da mesa final (FT).
 
8º FEDERICO BUTTERONI (ITÁLIA) – US$ 1.097.056
 
A participação do primeiro italiano no November Nine durou apenas 35 mãos. Do BTN, Joe McKeehen deu mini-raise e viu Federico Butteroni ir all-in do SB com seus últimos 5 bbs. McKeehen pagou imediatamente, mostrando AK. Com AJ, Butteroni teria que achar um dos seus poucos outs para não ser eliminado.
 
O bordo 1063 9 7 manteve McKeehen à frente, que fez sua segunda vítima na FT e chegou a 72.000.000 de fichas, cerca de 140 big blinds.
 
7º PIERRE NEUVILLE (BÉLGICA) – US$ 1.203.193
 
Jogador mais velho da mesa, Neuville praticamente não jogou na decisão. Quando decidia entrar participar da ação, perdia boa parte do seu stack. Foi assim que ele foi da 4ª posição em fichas para a eliminação. 
 
Depois de McKeehen dar mini-raise do meio da mesa, o belga empurrou all-in de 5 bbs. Com AJ, ele estava em boa situação contra McKeehen, que tinha J6.
 
O flop foi Q103 foi muito bom para Neuville, mas o turn aumentou significativamente as chances de McKeehen ao trazer uma Q. O river foi implacável ao trazer um 10, que completou o flush de McKeehen e aumentou ainda mais sua liderança na decisão.
 
A terceira eliminação da noite, a terceira pelas mãos de McKeehen, marcou também o encerramento do Dia 1 do November Nine, o Dia 8 do Main Event.
 
Joe McKeehen foi soberano no primeiro dia de November Nine. Ele eliminou os três adversários e acumulou mais de 27 milhões para seu stack. O outro destaque ficou para Neil Blumenfield, que apesar de ter continuado com o terceido maior stack entre seus adversários, ele foi quem mais acumulou fichas depois de McKeehen. Apesar de amador, seu jogo agressivo foi bastante elogiado nas transmissões ao redor do mundo. Vejam os números do Dia 1:
 
NOVEMBER NINE – DIA 1: 72 MÃOS
 
JOGADOR - STACK - BIG BLINDS - POSIÇÃO
Joe McKeehen - 91.450.000 (↑27.350.000) 153 1º (—)
Ofer Zvi Stern - 32.400.000 (↑2.600.000) 54 2º (—)
Neil Blumenfield - 31.500.000 (↑9.500.000) 53 3º (—)
Max Steinberg - 16.000.000 (↓4.200.000) 27 4º (↑1)
Josh Beckley - 10.875.000 (↑75.000) 18 5º (↑2)
Thomas Cannuli - 10.425.000 (↓1.780.000) 17 6º(—)
 
6º THOMAS CANNULI (ESTADOS UNIDOS) – US$ 1.426.072
 
Apesar de não ter mostrado a habilidade que consagrou seus tutores Antonio Esfandiari e “gboro”, Canulli foi eliminado de maneira indigesta — e logo na segunda mão do Dia 2 do November Nine.
Do UTG, Cannuli aumentou para 1.400.000. A ação rodou em fold até Max Steinberg, no big blind (BB), que colocou seu adversário em all-in. Antes mesmo de ver as cartas de Steinberg, Cannuli já levantou vibrando pelo salão. Com par de Ases, ele estava muito à frene do par de Dez do seu adversário. Infelizmente, sua alegria durou pouco. O flop trouxe um dos dois outs de Steinberg, que chegou a um stack saudável (52 bbs) pela primeira vez na FT.
 
5º ZVI STERN (ISRAEL) – US$ 1.910.971
 
Quem estava assistindo a transmissão não lamentou nem um pouco quando Stern foi eliminado. Durante todo o Main Event, o israelense irritou dezenas de jogadores por levar muito tempo para agir, mesmo quando já estava decidido a dar fold. Na mesa final, não foi diferente. Sempre que era sua vez de jogar, ele levava pelo menos um minuto para realizar sua ação.
 
Com pouco mais de 10 big blinds, ele acabou se envolvendo em all-in contra Neil Blumenfield. Segurando A-J, Stern se viu dominado pelo A-K de Blumenfield. O turn já deixou o jogador de Israel sem chances ao trazer um Rei, que deixou o torneio com quase US$ 2 milhões.
 
4º MAX STEINBERG (ESTADOS UNIDOS) – US$ 2.614.558
 
A última eliminação do dia foi de um dos favoritos da torcida. Steinberg era o único na mesa com um bracelete no currículo e alguns esperavam dele um show à lá Martin Jacobson. Não foi o que aconteceu. Mesmo depois de conseguir um bom stack, Steinberg foi ofuscado por Joe McKeehen e encontrou nas mãos do seu compatriota a eliminação.
 
Depois do raise de McKeehen, ele empurrou seus últimos 17 big blinds para o centro da mesa segurando A-J. McKeehen deu call com AK, e quando o bordo mostrava 975 8, a torcida em uníssono pedia por um Seis, um Dez ou um Valete. O 3 jogou um balde de água fria no rail. Steinberg, no entanto, saiu com um belo prêmio de consolação.
 
McKeehen novamente dominou as ações no Dia 2. Com a liderança consolidada, ninguém cogitava que ele pudesse perder o título, principalmente para dois adversários mais fracos. Vejam os números do Dia 2:
 
NOVEMBER NINE – DIA 2: 71 MÃOS
 
JOGADOR - STACK - BIG BLINDS -POSIÇÃO
Joe McKeehen - 128.825.000 (↑37.375.000) 129 1º (—)
Neil Blumenfield - 40.125.000 (↑8.625.000) 40 2º (↑1)
Josh Beckley - 23.700.000 (↑12.825.000) 24 3º (↑2)
 
3º NEIL BLUMENFIELD (ESTADOS UNIDOS) – US$ 3.397.103
 
Durante toda a mesa final, Blumenfield foi bastante elogiado e criticado por sua agressividade. No final, ele acabou pagando por isso e acabou caindo mais cedo do que deveria.
 
Do BTN,  abriu raise para 2.000.000. No BB, Joe McKeehen fez tudo 5.400.000. Com 22, Neil Blumenfield empurrou suas últimas 12.000.000 de fichas para o centro. Beckley largou sua mão. McKeehen pagou imediatamente com QQ.
 
O bordo não apresentou nenhum perigo para o chip leader, que viu suas Damas se mantendo à frente e lhe colocando em uma excelente posição para o heads-up.
 
1º JOE MCKEEHEN (ESTADOS UNIDOS) – US$ 7.680.021
X
2º JOSH BECKLEY (ESTADOS UNIDOS) – US$ 4.469.171
 
O heads-up foi o mais rápido da história do November Nine. Foram apenas 12 mãos para que o novo campeão mundial fosse conhecido.  McKeehen tinha 158.400.000 fichas (158 bbs) contra 34.200.000 (34 bbs) de Beckley. Uma vantagem de quase 5-para-1 que ele não desperdiçou.
 
Jogando passivamente, Beckley puxou apenas 2 dos 12 potes disputados. Na mão derradeira, depois de perder quase metade do stack, ele abriu de all-in segurando par de Quatros. McKeehen pediu uma rápida contagem e já deu call. Segurando A10, ele viu sua mão parear logo no flop. O título foi confirmado depois que duas cartas irrelevantes apareceram no turn e no river. Como se soubesse que já era o seu destino, McKeehen manteve a mesma postura séria e enigmática que carregou durante toda a mesa final.
 
Ficha Técnica:
46ª edição do Main Event da WSOP
Data: 05 a 14 de julho; 08 e 10 de novembro
Local: Rio All-Suite Hotel & Casino (Las Vegas — EUA)
Buy-in: US$ 10.000
Field: 6.420 jogadores
Prize pool: US$ 60.355.857
 
 
VOCÊ SABIA?
 
- Desde que o November Nine foi implantado, em 2008, esta foi a mesa final com o menor número de mãos jogadas, 184 ao todo. O recorde pertence aos finalistas de 2009, em que foram jogadas 364 mãos e que Joe Cada saiu com o título.
 
- O November Nine 2015 foi também o que heads-up teve menos mãos. Foram jogadas apenas 12. O heads-up mais longo foi em 2011, entre o alemão Pius Heinz e o tcheco Martin Staszko. Os dois duelaram por 119 mãos. A vitória foi de Heinz.
 
- Joe McKeehen sempre esteve entre os líderes do Main Event desde o Dia 3, terminando como chip leader nos Dia 4, 7, 8, 9 e 10.
 
- Das 184 mãos jogadas, McKeehen jogou de maneira voluntária 90 delas (51%), sendo que ele abriu raise 58 vezes, aplicou 3-bets por 8 vezes e fez 4-bets.



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