EDIÇÃO 10 » COMENTÁRIOS E PERSONALIDADES

"Vamo, que todavia!"


Daniel Tevez Cantera

Recebi com muita alegria o convite para escrever na Card Player. Sou cheio de tarefas e viagens, me resta pouco tempo para jogar, até vinha reclamando disso, porém, ter o privilégio de escrever aqui é uma dádiva. Agradeço muito por ter a chance de colocar meus pontos de vista a respeito do que acontece no poker brasileiro.

Ao meu ver, nosso esporte deixou de usar calças curtas faz um tempão. Atingimos essa maturidade nos unindo, e separando o que presta do que atrapalha o avanço do nosso projeto. Sou dos mais velhos (em idade e experiência) no poker nacional e, com essa bagagem, quero dizer que a “bagaça” não tem mais jeito, estourou mesmo.

Lembro daquele saudoso dia de outubro de 2004, na casa do Leite, lá em Campinas, onde se juntaram 25 malucos. A segunda foi na casa do Robertinho Russo, em Sanca, e a terceira na casa do Fabio Cunha, em São Paulo. Era o início oficial do Circuito Paulista de Hold`em. E outros circuitos nasceriam depois.

Nesse meio-tempo, descobrimos que somente unidos poderíamos permitir o crescimento do esporte, fazendo dele uma profissão. Hoje, junto aos gênios online e aos jogadores que disputam torneios Brasil afora, temos excelentes casas realizando eventos diariamente, vários circuitos, sites, revistas e organizadores de nível mundial.

Chegamos lá? Quase.

O volume de investimentos das marcas ligadas ao esporte, os resultados e a qualidade jornalística nos dizem que sim. O magnífico discernimento do autor do laudo que permitiu a realização de torneios em todo o Brasil foi, sem dúvida, a melhor notícia do ano – por essas horas, todos teremos visto a imprensa noticiar o LAPT positivamente.

O que nos falta? Muito pouco.

Desde que nos mantenhamos unidos, jogando limpo e, principalmente, se entendermos que o poker do Brasil não tem marcas nem bandeiras de empresas, sites ou publicações, posso assegurar que todos estamos apenas esperando um bracelete.

Esta minha coluna não vai tratar de ensinar a jogar poker melhor. Não tenho jogo para isso e, fora alguma casualidade, trarei a minha experiência como alguém que conhece profundamente o feltro nacional, suas lideranças e seus jogadores.

Humbero Brenes: Ídolo
Feita minha introdução, gostaria de dizer que esse último final de semana, no Rio, foi dos mais felizes da minha vida. Todos temos nossos ídolos. Eu iniciei (poderia existir um complemento aqui, como “eu reconheci meu ídolo” ou algo do tipo) quando vi Humberto Brenes dizendo na ESPN: – “Costa Rica vai all-in”! Virei fã do cara e passei muito tempo conversando com ele a respeito do nosso esporte.

Uma das coisas que mais me marcaram naquela conversa foi o fato de ter aprendido muito com ele. Humberto encara o poker como algo universal, ou seja, algo independente da sua concepção atual, praticado em todo o mundo, nas suas diversas variantes. Além disso, fiquei sabendo que ele está numa campanha feroz para “latinizar” os termos do jogo. Quem estava assistindo o LAPT lá no Hotel Intercontinental pôde reparar que ele sempre usou termos latinos: na língua dele, o espanhol, era “quarta carta” e não “turn”, e assim por diante.

Senti do cara uma parte humana muito forte – ele me disse que “rapelar” amigos ou desconhecidos nas mesas de cash não era sua área. Brenes me falou que muitas vezes ligavam do Cassino X para ele, dizendo que estava sentado na mesa de $200/400 um fulano que era um sonho, mas ele nunca ia jogar. Porém, se o chamassem para um torneio de 10 dólares com 150 iniciantes, ele estaria lá no horário.

Humberto Brenes me contou ainda que a base fundamental do desempenho do jogador é disputar o torneio e não olhar para o dinheiro – Akkari esses dias me disse a mesma coisa. Contou-me Humberto que, um dia, numa Mesa Final de um torneio de 300 dólares, ele estava jogando contra um pessoal que pensava em pagar as suas contas com os ganhos, fazendo esforços para se manter no jogo porque dependiam do resultado para pagar contas. Enquanto isso, ele, com 10 empresas funcionando na Costa Rica, não pensava em outra coisa que não fosse vencer o torneio.

Então, vai uma dica: quando estiver jogando, esqueça o dinheiro, jogue o torneio. Quem sabe essa fórmula de gerenciar seja boa. Eu só jogo torneios e recomendo esta tabelinha:


Torneios MTT
Bankroll ideal: 150 vezes o valor buy-in.
Para subir de nível: de 200 a 250 vezes esse valor.
Para descer de nível: 75 vezes.
Observação: quando bater 45 vezes vá pescar, namorar ou viajar. “Arrume um balde”, ou seja, dê um tempo (e isso também serve para o jogador que se diz quase profissional).

Sit & Go
Bankroll ideal: 75 vezes o valor do buy-in.
Para subir de nível: de 125 a 150 vezes esse valor.
Para descer de nível: 40 vezes.
Para não quebrar: parar com 25 vezes o valor.
Observação: cash nem digo nada, não é a minha praia.



Latin American Poker Tour
Bem, lá em cima falei do LAPT e queria dizer que para mim foi tudo ótimo! O nível dos jogadores foi excelente, assim como o local do evento, a estrutura oferecida pelo Poker Stars e a relação do site com a imprensa: tudo isso foi nota 10.

Porém, como nada é perfeito, preciso dizer que nossa equipe, para realizar a cobertura, praticamente tinha que pegar um “busão” da base até a mesa final. A distância entre a sala de imprensa e a mesa de jogo não favorecia o trabalho de quem está acostumado a mandar informações hand-to-hand para a galera.  Mas, tirando isso (e os chiliques de algumas pessoas que lamentavelmente queriam aparecer mais do que os jogadores), o evento foi impecável.

Rapidinhas do LAPT
Melhor jogador: Julien, disparado.

Dois brasileiros: Manecop e Gualtinho Salles impressionaram muito.

Facão do torneio: AlexCG estar de KK e achar o cara de AA. Uma pena, ele iria longe: –“Não é bolha, é 10º lugar, `irmau´!”

Na mesa final: nosso Eduardo Henriques foi excelente. Queria ver “os manos” sobreviverem no meio daquela artilharia toda, entre o Julien e o Vitaly.

Destaque do evento: Humberto Brenes, com a sua simpatia e seu empenho em ensinar a quem lhe perguntasse.

Festa da sexta-feira: com a bateria nota 10 da “Caprichosos de Pilares”, sensacional.

Vanessa Rousso: é tudo isso? É. Mas eu prefiro a latinidade da nossa Cinthia Escobar.

Destaque do evento (2): Federal sambando. Comprovadamente, ele tem menos jogo de cintura do que um frango. Quando desceu do palco, veio me dizer: “Tevito, senti que estava acabando com eles, por isso parei...”. Isso mesmo, Igor, vamo que, todavia! Vou discordar do gênio?

Ponto negativo: mandar a gente sair de perto da mesa final, sacanagem. Qual a desculpa? Ah, entendi: estávamos atrapalhando os fotógrafos... Mas, e o supremo direito de informar, ao vivo, milhares de pessoas ligadas no site, onde fica? Aquele “tira-essas-pessoas-da-minha-frente-porque-não-consigo-enxergar-a-mesa” foi desnecessário.

Melhores gargalhadas do torneio: quando XT xingou o “Assassinator” por querer a ficha de 100.
Ausência mais sentida: Robigol, com certeza. Uma pena, porque esse tem jogo para ganhar um LAPT.
Nota 10: para o Poker Stars, pelo inesquecível evento.




NESTA EDIÇÃO



A CardPlayer Brasil™ é um produto da Raise Editora. © 2007-2024. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo deste site sem prévia autorização.

Lançada em Julho de 2007, a Card Player Brasil reúne o melhor conteúdo das edições Americana e Européia. Matérias exclusivas sobre o poker no Brasil e na América Latina, time de colunistas nacionais composto pelos jogadores mais renomados do Brasil. A revista é voltada para pessoas conectadas às mais modernas tendências mundiais de comportamento e consumo.


contato@cardplayer.com.br
31 3225-2123
LEIA TAMBÉM!×