EDIÇÃO 10 » COLUNA INTERNACIONAL

Pagando All-in Com um Par Baixo

Os quatros de Fischman


Todd Brunson

Recentemente foi realizado o NBC National Heads-Up Poker Championship. Como quase todo mundo no torneio era profissional de renome, eu ainda tinha esperanças de derrotar uma celebridade ou alguém classificado via internet, mas não tive tanta sorte ao enfrentar Scott Fischman. Como eu disse, quase todo mundo era difícil, mas eu sei que Scott basicamente só joga online, o que quer dizer que ele provavelmente joga muitos heads-ups de no-limit hold’em.

Começamos devagar, sentindo um ao outro (não de uma maneira “cor-de-rosa” ou algo do tipo). Eu jamais havia jogado contra Scott, então queria sentir melhor seu estilo (mais uma vez, não há nenhum trocadilho gay nas entrelinhas). Scott deve ter tido o mesmo plano de jogo, pois estava fazendo a mesma coisa. No entanto, não tivemos muito tempo para ficar confortáveis, pois os blinds subiam a cada 15 minutos.

Eu mudei de marcha no quesito agressividade e basicamente dei de cara com uma parede de concreto. Toda vez que eu apostava, ele pagava ou aumentava. Isso foi bastante eficiente, pois eu quase nunca tinha um par. Eu pedia mesa com diversas mãos que eu julgava capazes de vencer o showdown, como o bottom pair ou uma carta alta. Acho que ele ganhou todas essas vezes. Se eu tivesse um rei, ele tinha um ás. Se eu acertasse um par de dois, ele flopava um de três.

Eu recordei a sensação de ter 10 anos de idade e brigar com um garoto de 13. Eu tentava ao máximo, mas simplesmente não conseguia vencer. Eu não acho que era segredo para Scott o fato de eu me tornar cada vez mais frustrado à medida que a partida avançava dessa maneira.

Os blinds subiram novamente antes dessa mão em particular. Eu sabia que tinha de fazer alguma coisa para mudar o jogo ou pagaria antes até morrer, quando olhei para baixo e vi K9. Essa foi a melhor mão que eu consegui em muito tempo, então aumentei, apenas para que Scott voltasse reraise. E a aposta foi consideravelmente grande, mas não o bastante para deixá-lo comprometido com pote, em minha opinião.
Com cerca de apenas 1/3 das fichas, essa me parecia uma boa oportunidade para tomar uma atitude. Eu fui de all-in e Fischman ficou pensativo. Ele refletiu durante tanto tempo que eu imaginei que ele estivesse com algo como J-10 do mesmo naipe ou algo do tipo. Quando ele finalmente pagou, fiquei surpreso ao ver um par de quatros. Eu cheguei a dizer em voz alta: “Quatros?” Scott sorriu para mim envergonhado e deu de ombros.

A primeira carta do flop foi um 4, e eu pensei que tudo estivesse acabado. Mas não perdi as esperanças, pois vi que as duas outras eram cartas de ouros. Uma carta irrelevante veio no turn e um inútil 9 me deu um par no river, e foi meu fim. Mas, e se outra carta de ouros tivesse aparecido? É sobre isso que eu quero falar aqui.

Todos nós temos boas razões para não pagar com um par de quartos ou quaisquer outros pares menores: você raramente será o favorito, tendo 4,5-1 chances de perder. Porém, em minha opinião, existem muitas outras razões para não se pagar nessa situação.

A principal é simples: Scott tinha essa partida sob controle. Ele não apenas tinha a liderança, com três vezes mais fichas, como também tinha me deixado frustrado, e o momento era bastante oportuno para ele. Se eu tivesse ganhado aquele pote, ficaríamos empatados e a maré teria mudado. Portanto, se ele ganhasse o pote, tudo acabaria, mas se eu ganhasse, seria um recomeço, e a segunda metade da partida não seria tão fácil quanto a primeira tinha sido, eu lhe asseguro.

Eu acredito piamente no momento. Quantas vezes você viu um time de futebol sofrer pressão durante os primeiros 45 minutos, e então algo como um interruptor faz com que ninguém os segure no segundo tempo e vençam o jogo? Eu acho que Scott deveria ter desistido, não pelas razões óbvias, mas também para me negar essa oportunidade de mudança, que eu poderia usar para ficar mais agressivo, ressurgir e vencer.

Para ser justo com Scott, eu liguei para ele e lhe ofereci metade do espaço nesta coluna para que ele explicasse sua linha de raciocínio. Ele não quis perder tempo escrevendo (ele deve ser mais preguiçoso do que eu, se é que isso é possível), mas ele me explicou e me pediu para parafraseá-lo.
O que ele disse basicamente foi que eu sou um excelente jogador (palavras dele, não minhas), que eu já tinha uma leitura sobre o jogo dele quando essa mão aconteceu, e que as coisas não continuariam dando certo para ele, então ele quis tentar ganhar naquele exato instante. Caso perdesse, ainda ficaria empatado em número de fichas, então decidiu apostar.

Eu devo admitir que há uma lógica definida nesse raciocínio — especialmente na parte sobre eu ser um “jogador excelente”.




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