EDIÇÃO 35 » COLUNA NACIONAL

Ave Vegas

O império dos sentidos


Raul Oliveira

No artigo desse mês, nada mais justo que dar uma parada nas jogadas dos heads-up e falar sobre o maior acontecimento do poker mundial, a WSOP. Sei que muito já se escreveu – e se escreve – sobre isso, mas, por se tratar de um mega-acontecimento, penso que sempre cabe algo a mais para se falar sobre o assunto. Nesta edição, vou falar um pouco sobre minhas histórias na Série e dar algumas dicas para a turma que pretende encarar o evento esse ano.

Uma coisa que me marcou no poker, não só dentro do Brasil como jogador, mas também no âmbito pessoal, foi o fato de eu ter jogado uma WSOP, digamos, em que podemos dizer que tudo começou. O ano era 2003 e o hold’em era quase inexistente no Brasil e bem fraco mundo afora. Em termos de popularidade, talvez o único lugar onde ele já causava alguma comoção era nos EUA mesmo. Então eu chego lá em Vegas com meu amigo Balbi, quase sem nenhum dinheiro no bolso. O pouco que eu tinha, torrei na roleta já na primeira noite. Balbi, que já conhecia bem Las Vegas, me disse a seguinte frase: “Se você aprendeu, relaxe, que foi muito barato”. Alguns anos depois, eu iria aceitar bem essa frase – não que eu tivesse aprendido completamente, mas só por entender o que a frase realmente queria dizer, o ocorrido já tinha valido a pena.

Passada a minha euforia, lá fomos nós para o Horseshoe, onde ocorreria o evento – com certeza um dos piores cassinos em que já estive em Vegas, mas, na época, era onde acontecia a WSOP. A iluminação era ruim, os freqüentadores, bem estranhos, e ainda era permitido fumar em todas as mesas. Apesar de eu ser fumante na época, sempre achei bastante desagradável o fumo liberado nas mesas. Nesse dia ainda estavam rolando os satélites para o Main Event, e foi num desses de $200 com rebuy que eu acabei conseguindo minha vaga. Como estava duro, joguei esse torneio sem fazer rebuy nem add-on, mas acabei entre os seis que puxaram a vaga.

Passado uns dois dias, lá estava eu jogando meu “super-tight style” da época, que acabou me derrubando no ultimo nível do Dia 1, numa mão em que eu tinha QQ e fui all-in pré-flop contra TT; eu acabei saindo por causa de um dez no flop. Fim de torneio pra mim, mas apenas o início da história do hold’em pelo mundo, já que, nesse ano, Chris Moneymaker conquistou o Main Event depois de ter ganhado a vaga em um satélite online de $39. Para se ter uma dimensão do crescimento do evento principal depois disso, basta dizer que o torneio de 2003 teve pouco mais de 800 jogadores, mas os últimos três anos, juntos, contaram com mais de 6 mil. Naquela World Series, toda vez que eu dizia que era do Brasil, escutava o pessoal nas mesas disparar um “what are you doing here?”

Passados os anos, não só a WSOP é uma realidade, como também a presença dos jogadores brasileiros nos seus eventos. Este ano, acredito que tenhamos no mínimo uns 100 brasucas por lá. Ainda que poucos deles joguem o Main Event, vamos ter muito verde e amarelo nos salões do Cassino Rio, pois, além do Main Event, a World Series conta com mais de 50 torneios de todos os valores e modalidades. Um conselho para quem vai encarar qualquer uma das retas é se preparar não apenas psicologicamente, mas também fisicamente: os torneios são muito longos e o cansaço é uma das maiores causas de eliminação. Portanto, tente dormir e se alimentar bem antes de jogar, embora isso não seja tarefa das mais fáceis em Vegas (principalmente conseguir dormir).

Outra dica é que, apesar de fazer um calor surreal nessa época do ano por lá, os ar-condicionados são fortíssimos e, caso você dê azar de se sentar numa cadeira para a qual o ar esteja direcionado, irá passar por maus momentos de frio ao longo de 12, 13 ou 14 horas. Portanto, não deixe de levar um casaco, ainda que isso pareça masoquismo quando você estiver na rua, onde facilmente vai bater 40 graus. Outra dica importante é beber bastante água e não esquecer o protetor labial, que pode parecer frescura, mas salva muito caso você fique mais de 7 dias por lá.

Agora a real e verdadeira dica que eu dou é: cuidado com o cassino, não pense que você é superesperto e descobriu uma maneira de ganhar na roleta ou em qualquer outra modalidade. Relaxe, pois qualquer coisa que você venha a pensar por lá, os cassinos já pensaram antes. Então curta o jogo e se divirta, mas não tente quebrar o cassino, porque, no fim, sempre quem acaba quebrando é você. Pode estar certo de que ninguém iria construir o Bellagio ou o Wynn ou qualquer outro monstro de bilhões de dólares se tivesse um jeito de você ganhar deles na roleta. Mas, se você gosta de cassino, não deixe de usar a tática do finge que. Essa tática traz alegria para namoradas, familiares e amigos que você resolva presentear, e consiste no seguinte: num dos dias de sua estadia em Vegas, vá às compras e finja que perdeu o valor que gastar no cassino. Essa é uma maneira simples de abrir um pouco a mão e pelo menos voltar com a mala cheia caso não arrume umas “doletas” por lá.

Agora, deixando de lado a brincadeira e aproveitando a época, sem dúvida podemos dizer que a WSOP é a Copa do Mundo do hold’em, e participar dessa festa é sempre a realização de um sonho. Então, se der, corra atrás da sua vaga ou vá para jogar os torneios paralelos, mas, se possível, não deixe de participar. Uma dica para quem está correndo atrás de uma vaga são os steps do Full Tilt, onde consegui a minha. Para quem não sabe, os steps são como subsatélites, em formato sit ’n go. No Full Tilt, eles começam em $3 (step 1) e vão até o de $2K (step 7), em que o 1º lugar ganha o pacote de 12K para o Main Event. Vale dar uma conferida no site.

Para finalizar, eu gostaria de dizer que, independente do que ocorrer por lá, Vegas é sempre uma viagem marcante, ainda mais para os amantes do hold’em nessa época de WSOP. Espero vê-los por lá!




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