EDIÇÃO 35 » COLUNA NACIONAL

De Volta Para o Futuro

Uma nova perspectiva para a agressividade pré-flop


Christian Kruel

Como vocês sabem, os últimos artigos abordaram as apostas e seus tipos: pelo valor, blefando e para recolher dinheiro morto. Falamos também sobre alguns efeitos secundários da aposta, como proteger a mão e restringir o range do oponente. Para quebrar um pouco o assunto, mas dando seguimento aos temas que fizeram parte dos coachings que tive em 2009, vamos retomar agora o jogo pré-flop e o conceito de ranges, procurando possíveis falhas comuns e maneiras eficientes de melhorar o nosso jogo.
 
Se há um consenso entre os jogadores de poker é o de que o pré-flop é a "street" mais fácil de ser jogada. Temos pouquíssimas informações disponíveis e apenas duas cartas fechadas por jogador, o que torna a gama de variáveis envolvidas muito restrita, ao contrário do pós-flop, em que pode haver situações extremamente complexas e difíceis de se encarar.
 
Falamos que usaríamos o conceito de ranges, mas não da maneira tradicional, separando as mãos por posição, para raise, para 3-bet e outras variáveis já amplamente discutidas e debatidas em outros artigos, meus e de outros autores. Vamos pensar em termos de "range de conexão" com o pós-flop para começar a entender o que eu quero dizer.
 
Afirmamos que o pré-flop é simples de se dominar, porém, um dos maiores problemas é pensar o pré-flop sem pensar o pós-flop. É dar raise automaticamente do button com K2o só porque sua mão está à frente do range dos blinds – raciocínio que nos levaria a dar raise com praticamente 100% das mãos.
 
Suponha que você tenha K7o no button e dê raise porque seu range está à frente do dos blinds e você quer pegar o dinheiro morto. O big blind paga, o flop abre 9 8 3 e ele pede mesa. Você faz sua c-bet padrão e ele paga. No turn abre um 2 e ele pede mesa novamente. Repare a situação em que você se colocou por jogar a mão de maneira automática, pensando em range pré-flop sem pensar no pós-flop: se você pedir mesa, de cara demonstrará que está na parte fraca do seu range e se colocará na posição de ir para o showdown com uma mão sem muito valor ante a ação, fazendo com que um blefe seja necessário. Apostar? O 2 foi uma carta que não mudou muito. O que quer que o vilão tenha acertado no flop, não sofreu muita alteração no turn. Logo, não temos muitos motivos para pensar que ele não pagará uma aposta no turn. Com isso, nossa aposta provavelmente será paga uma grande quantidade de vezes, o que provavelmente tornará nossa aposta blefando no turn uma jogada spewy (vide box ao lado), em que você vai desperdiçar fichas.
 
Como evitar esse tipo de situação? Na hora de estabelecer o range de raise pré-flop num momento em que os jogadores estão relativamente deep e há ação pós-flop nas mesas, penso em escolher mãos que tenham boa equidade pós-flop – estratégia comumente usada no heads-up para dar cold call fora de posição. E que tipo de jogos estamos procurando? Aqueles com as seguintes características: carta alta (high card), possibilidade de flush (suited cards), possibilidade de sequência (connectors). É claro que a combinação de uma ou mais dessas categorias é o que procuramos. Quanto mais combinações, melhor a mão se sairá pós-flop. Vamos falar um pouco de cada uma delas.
 
Cartas do mesmo naipe geralmente são encaradas como uma pequena possibilidade de fazer um flush, apesar de possuírem uma excelente equidade pós-flop, como veremos a seguir. Vamos comparar um A 6 com um A6o. Suponha que tivéssemos um flop 9 8 3. No primeiro caso, teríamos 100% de equidade, contra 50% das cartas off suited. Agora pense em um flop com 9 8 3. Teríamos 50% de equidade da mão naipada contra 15% da mão off, uma considerável diferença de 35%. Imagine, por fim, que o flop traga 9 8x 3x, que a nossa c-bet seja paga e que o turn abra um 2. A mão naipada passa a ter 12 outs, contra apenas três da mão off, o que nos permite continuar com uma estratégia agressiva.
 
Cartas altas também possuem boa equidade. Imagine um AQo, por exemplo. Se acertarmos o ás ou a dama, provavelmente teremos a melhor mão. Se não, provavelmente ainda teremos 6 outs e poderemos continuar jogando agressivamente com equidade que a justifique.
 
Fechando, temos as cartas conectadas, que têm chance de formar uma sequência e nos deixam com cerca de 8 outs e a possibilidade de continuar jogando de maneira agressiva. Apesar de termos, teoricamente, mais outs do que na situação de cartas altas, esse tipo de mão é um pouco menos vantajoso. Os outs diminuem caso haja possibilidade de flush no flop. Esta também é uma mão que não nos permite permanecer agressivos na maioria das vezes caso acertemos nossas duas pontas no turn, como nos casos acima.
 
Se vocês compreenderem os conceitos acima, passarão a encarar como mais fortes mãos como A2s, A3s e A4s do que A6s, A7s e A8s, por exemplo. E perceberão que mãos como 56s e 67s, por exemplo, possuem valores muito parecidos com o de KJo. A ênfase dada na agressividade se justifica porque ela deixa nosso jogo mais duro e difícil de ser batido, nos faz ganhar potes maiores com nossas mãos fortes, faz nosso oponente dar fold com a melhor mão, nos faz coletar o dinheiro morto muitas vezes e deixa nossa mão mais difícil de ser lida.

Agora retome seu jogo pré-flop e pense em termos de pós-flop e de mãos com as quais você poderá aplicar pressão e jogar agressivamente nas streets seguintes. Você vai perceber a diferença ao seu favor.

Antes de me despedir, gostaria de dizer que recentemente tive a honra de participar do World Team Poker e ficar em 2º lugar com o time do Brasil. Queria parabenizar todos os nossos integrantes e agradecer ao Juliano Maesano por fazer parte desse time. Acredito que esse programa de TV e o nosso resultado ajudarão ainda mais a popularizar nosso esporte a derrubar barreiras contra o preconceito.

Gostaria de dizer ainda que fui vencido pelo Twitter. O microblog é realmente uma forma bem legal, rápida e sem tanto compromisso, sem contar o lado de poder saber curiosidades de quem você tem interesse, portanto, estou lá: @christiankruel. Fiquem à vontade para me seguir. Grande abraço!




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