EDIÇÃO 33 » ESTRATÉGIAS E ANÁLISES

Bankroll Management e Variação

Jogue com um plano


Ed Miller

Seus oponentes em no-limit hold’em blefam. Eu sei que isso pode lhe chocar, mas é verdade. Você vai deixá-los sair ilesos, ou vai fazer algo a respeito?

Se você não tiver um bom plano para lidar com os blefes dos seus oponentes, você os deixa saírem impunes. Embora quase todos os jogadores blefem às vezes, a maioria não blefa com frequência bastante para que você possa dar call e mantê-los honestos. Se você não escolher suas oportunidades com cuidado, é provável que deva simplesmente abrir mão do blefe ocasional.

Mas eu não estou satisfeito com essa resposta, então vou lhe ajudar a desenvolver um plano. Seus oponentes não vão sair impunes! Pelo menos às vezes não.

Eis o primeiro princípio para detectar blefes: seus oponentes não vão blefar com mãos que têm valor de showdown. Eles vão blefar apenas com mãos com que acham que não têm chance de ganhar um showdown. Em outras palavras, seus oponentes podem tentar blefar com 9 7 em um bordo com K 8 6 2 A, mas provavelmente não vão tentar blefar com 9 7 em um bordo de K 8 6 2 9. Com essa última mão, a maioria dos jogadores tentaria dar check e ir para o showdown.

Suspeite de blefes quando seu oponente puder ter uma ampla gama de mãos sem valor e evite dar call quando ele tiver poucas mãos possíveis desse tipo. Eis alguns exemplos de mãos com as quais podemos usar essa técnica para detectar possíveis blefes (ou para evitar um call ruim).

Trata-se de uma mesa de no-limit hold’em de $2-$5 com estoques efetivos de $500 para a maioria dos jogadores. A mesa roda em fold até você, a quatro posições do button. Você tem A K e aumenta para $25. O jogador loose no button dá call e os blinds dão fold.

O flop vem J 9 3. Você aposta $35 e ele dá call. Há agora $127 no pote.
O turn é o 4. Você dá check e seu oponente também.
O river é o 4. Você dá check e seu oponente aposta $100.



Você pode cogitar dar call aqui. Eu não recomendaria pagar automaticamente contra todos os jogadores, mas essa mão satisfaz o critério do “ampla gama de mãos sem valor”. Como?

Seu oponente é loose e, portanto, poderia facilmente ter visto o flop com mãos como Q-8, 10-7, 5 2 etc. O flop, J-9-3 com duas cartas de copas, possibilita muitos draws: quedas para flush e straight rodeiam J-9. Quando ele dá call no flop, frequentemente terá um desses draws. Se ele tivesse uma mão forte como 3-3, J-9 ou A-J, talvez tivesse dado raise no flop. Mesmo que ele desse apenas call para fazer uma armadilha, mãos fortes são incomuns, por sua natureza. Portanto, o call no flop indica, provavelmente, um draw de algum tipo (e há muitos possíveis) ou um par de força mediana como J-6, 9-7 ou 5-5.

O check do seu oponente no turn confirma que ele quase certamente não segura uma mão forte. Pares fracos e draws ainda são possíveis.

A carta do river não melhora quase nenhuma das mãos com as quais seu oponente teria dado call no flop. Apenas mãos estranhas como 7 4 teriam chegado até aqui. Desse modo, ele ainda tem os pares fracos e os draws, cuja maioria agora é inútil. Aplicando nosso princípio de detectar blefes, ele provavelmente daria check com mãos como 9-7 ou 5-5 para chegar ao showdown. Assim, sua aposta relativamente no river alta pode facilmente ser um blefe.

Eis outra mão. Você está no button com A Q. Alguém entra de limp e você aumenta para $25. O big blind dá call, assim como o limper.

O flop vem 10 5 5. Todo mundo dá check até você, que aposta $45 no pote de $77; apenas o big blind paga.
O turn é o 9. O big blind dá check e você também. O pote é de $167.
O river é o J. Seu oponente aposta $100.

Nesse caso, você deve dar fold. Seu oponente pode ter apenas algumas mãos sem valor e, portanto, a aposta provavelmente não é um blefe.

Ele deu call no flop fora de posição com um jogador excelente depois dele. O flop é rainbow e com par virado, não oferecendo nenhum draw. As mãos com que ele provavelmente dá call são trinca de cincos, um 10, um par na mão ou talvez duas cartas altas, como A-K ou K-J. No river, mãos como K-Q e Q-J lhe dominam, e você ainda perde para pares e trincas. Você não ganha de quase nada. A aposta provavelmente não é um blefe, e não há razão que justifique você dar call para manter alguém honesto aqui.



Os exemplos anteriores representam dois finais para o espectro do detector de blefes. Na primeira mão, muitos blefes eram possíveis. Na segunda, quase não havia nenhum. Há muitos potes entre esses dois extremos, e pagar ou não pagar se torna uma decisão baseada nas tendências do oponente.

Por exemplo, um jogador que entra de limp com $5 a uma posição do button. O small blind paga e você aumenta para $30 do big blind com K Q. Só o limper paga.

O flop vem 9 7 6. Você aposta $50 e seu oponente dá call.
O turn é o Q. Você aposta $140 no pote de $165 e seu oponente dá call.
O river é o A. Você dá check e seu oponente vai all-in com $310 no pote de $445.

Ou seja, essa é uma situação naturalmente muito difícil. O ás é uma carta verdadeiramente perigosa, pois flush draws com ás e mãos como A-9 e A-8 lhe derrotam. Mas muita gente não jogaria com um ás dessa maneira. Talvez eles dessem fold no turn com um draw fraco como A-8, ou talvez não fossem all-in no river com uma mão como A J. Portanto, embora o ás seja definitivamente uma ameaça, muitos jogadores raramente utilizariam um ás precisamente dessa maneira, a não ser que tivessem tido a rara sorte de ter dois pares com uma mão como A Q.

Se o ás não é uma ameaça totalmente verossímil, do que você tem medo no river? No turn, a melhor mão parece ser a sua. O ás não completa o flush draw nem o straight draw.

Essa aposta pode muito bem ser um blefe. Muitos draws no flop ruíram, e seu oponente pode estar usando a carta perigosa em proveito próprio. Mas essa aposta também pode representar uma mão alta que não perdeu a força até o momento. Não há uma resposta certa aqui. Eu daria call contra alguns oponentes e fold contra outros.

Mas, não importa o que faça no último exemplo, você não estará agindo de forma aleatória. Pode-se usar o primeiro princípio detector de blefes para concluir que essa é uma situação em que um blefe é possível e, portanto, um call pode ser uma boa jogada.

Se você seguir o princípio, não vai acertar todas as vezes. Mas estará jogando com um plano e, se ficar bom nisso, você logo estará dando calls excelentes que jamais teria cogitado executar antes.

Ed Miller é uma das maiores autoridades mundiais em teoria do poker. Ele é instrutor do stoxpoker.com, e também escreve no seu próprio site, notedpokerauthority.com.




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