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Max Pescatori - O Recordista Europeu de Braceletes da WSOP


Brian Pempus
Quando se fala em braceletes, nenhum jogador que tenha nascido na Europa pode se comparar ao italiano Max Pescatori. Hoje, aos 44 anos, ele vive em Las Vegas, cidade onde voltou a brilhar neste ano. Depois um hiato de cinco anos, ele conquistou não um, mas dois braceletes da World Series of Poker (WSOP).

Suas vitórias no $10,000 Seven Card Stud Eight-or-better e no $1,500 Razz catapultaram seus ganhos ao vivo para US$ 4,1 milhões e o fizeram entrar para a história. Em tempos da iminente regulamentação do poker no Brasil, a Card Player conversou com Pescatori sobre o poker na Europa, sua carreira e, claro, braceletes.
 
Brian Pempus: Como você se sente sendo o melhor Europeu da história da WSOP?
 
Max Pescatori: É uma honra. Sou um dos caras que jogou por toda Europa ainda no início da última década. Eu costumava ir para França, Polônia, Inglaterra e vários outros lugares, o que me permitiu observar os mais variados tipos de jogadores. Ver o resultado disso hoje é gratificante.

BP: E como foi ficar sete anos sem vencer um título da WSOP?

MP: Eu estava dando o melhor de mim, mas quando voltei para a Itália, todos jogavam apenas no-limit hold’em (NLH). Sou um especialista em mixed games, então, posso afirmar que, nessa época, o NLH tirou muito de mim. Para vencer na WSOP, você tem que vencer os melhores e isso requer treino constante.  Nos últimos anos, mudei drasticamente minha rotina de treinamento e voltei a jogar mixed. Tornei-me um cara completamente diferente nas mesas. Entre 2010 e 2012, eu cometia erros bobos, entrava em tilt e tudo dava errado. Mas reconhecer os erros é o primeiro passo para o crescimento.
 
BP: Por ter jogado em tantos lugares diferentes, você acha que melhorou seu jogo baseado nos diferentes estilos que enfrentou nas mesas?
 
MP: Bem, se tornar experiente é sobre isso. Tudo pode ajudar. Mas o principal nem está diretamente ligado ao jogo em si. Ao conviver com diversos jogadores, é possível enxergar muitos erros que eles cometem e quais lições tirar disso. As pessoas acham que a vida de jogador de poker é apenas glamour. Longe disso. Poker é uma profissão maravilhosa, mas é uma das poucas em que você sai para trabalhar e pode perder dinheiro. 
 
BP: Voltar ao topo é um sinal que você é um grande jogador?
 
MP: Com certeza. Isso significa que levo o poker a sério, que amo o jogo e a competição. Vejo muita gente com bastante talento, mas que simplesmente jogam tudo pelo ralo. A verdade é que eu sempre estive fazendo um bom trabalho na Itália, mas a WSOP é algo diferente, você tem que se adaptar todos os anos.
 
BP: Como está o poker na Itália hoje?
 
MP: Infelizmente, passamos por uma situação desafiadora. O volume do jogo online diminuiu muito. Ao vivo, estamos indo bem. O que aconteceu é que tínhamos algo como 150 jogadores patrocinados na Itália. Eles ganhavam dinheiro das companhias, mas tinham que jogar muito para manter isso. Quem não possuía isso, também tinha que jogar bastante para chegar onde os outros estavam. Quando as empresas começaram a largar o poker, os jogadores patrocinados começaram a desaparece. Foi como o estouro da bolha de patrocínios. Acho que chegamos a um ponto que encontraremos estabilidade, mas no geral, o ano de 2015 tem sido bem ruim para o poker italiano.
 
BP: Por que chegou a esse ponto com os patrocínios?
 
MP: Não importa o quanto você ganhe nas mesas, é preciso abraça a marca. Você tem que fazer tudo ao seu alcance para promovê-la. As empresas se decepcionaram com os jogadores nesse ponto. Eles não entenderam que se uma empresa investe em você, é necessário entregar algo em troca Eu sempre procurei promover meus patrocinadores em tudo o que faço.
 
Durante o boom do poker era fácil conseguir apoio, mas os jogadores não abraçaram seus contratantes. Acredito que viam as empresas apenas como caixas eletrônicos. Eles queriam o dinheiro, mas não queriam trabalhar adequadamente para isso. Tenho patrocínios, sim, por causa dos meus resultados, mas também porque sempre promovi as marcas que estiveram ao meu lado. Faço tudo que posso.
 
BP: Você acha que o poker europeu está em decadência? O que é preciso acontecer para as coisas mudarem?
 
MP: É estranho. Se você olhar os números, somos os melhores ao vivo, mas com resultados pífios no online. As pessoas amam o poker, mas existem algumas arestas a serem aparadas. Penso que os problemas legais e o monopólio nos afetam negativamente. Mas eu não sei o que será do poker na Europa. Quero dizer, se um país como os Estados Unidos até hoje não resolveu esse problema do poker online, então o que esperar daqui?
 
BP: E quanto ao rake? A Europa é bem conhecida pelo alto valor das taxas cobradas pela casa.
 
MP: No geral, o rake na Europa é absurdo. Nos torneios, nem tanto. Nos cash games, sem comentários — e eles não querem mudar isso. Não adianta explicar que eles podem ter taxas mais altas do que as de Las Vegas, mas justas. Cassinos não entendem que o rake caro mata o jogo no longo prazo. Espero que a Itália comece mudando isso. O Reino Unido é ok nesse ponto. Na França, chega a ser obsceno.
 
BP: Voltando ao início da sua carreira, o que lhe levou para Las Vegas e para o poker?
 
MP: No início, fui para Las Vegas apenas para aprender inglês e me tornar um crupiê. Em 1999, eu dividia meu tempo entre poker e trabalho. Em certo momento, eu simplesmente saí do meu trabalho regular e decidi viver do jogo. Se não desse certo, eu voltaria a trabalhar normalmente.
 
BP: Por viver do poker antes do boom (2003), você se considera um cara da velha guarda da WSOP?
 
MP: Com certeza (risos). É engraçado que sempre vi caras como Daniel Negreanu jogando e sempre estive um ou dois passos atrás dele. Neste ano, fiz mesa final com ele no stud hi-lo. Depois do título, ele me mandou os parabéns pela conquista. É um cara que todos deveriam se espelhar. Negreanu representa o poker e veste como ninguém a marca que ele representa.
 
BP: E quanto ao Doyle Brunson? Quanto braceletes você espera ter quando chegar à idade dele?
 
MP: É uma pergunta interessante. Nunca pensei sobre isso. Sei que quero chegar à sua idade amando o poker como ele. Quem sabe um bracelete a cada três anos? 2015 serviu para restabelecer minha confiança. Daqui para frente, a tendência é melhorar.
 
BP: Parece que agora você é uma aposta certa para o Hall da Fama do Poker. Já pensou sobre isso?
 
MP: Honestamente, sim. Há muitos jogadores que merecem estar lá também. Mas ser o Europeu com maior número de braceletes me coloca em uma boa posição. Se o público achar que mereço, ficarei muito feliz. Acho que fui um grande embaixador do jogo, ser lembrado seria maravilhoso.
 
OS TÍTULO DE MAX PESCATORI NA WORLD SERIES OF POKER
ANO BUY-IN EVENTO PRÊMIO
2006 US$ 2.500 No-Limit Hold’em US$ 682.389
2008 US$ 2.500 Pot-Limit Hold’em/Omaha US$ 246.509
2015 US$ 1.500 Razz US$ 155.947
2015 US$ 10.000 Seven Card Stud Hi-Lo 8 or Better Championship US$ 292.158
 



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