EDIÇÃO 92 » COLUNA NACIONAL

Agressividade e o Senso Comum: A visão de um jogador profissional


Fábio “F1oba” Maritan
Dentre as estratégias para um poker lucrativo, falar em agressividade é bastante recorrente. Agressividade no sentido de não se esquivar de situações com valor esperado positivo, colocando-se sempre do lado pressionador em confronto com o lado pressionado. Entrando mais a fundo, percebemos que muitos jogadores profissionais abusam da agressividade ao perceber que uma vasta maioria de jogadores pensam da mesma forma em sua essência, o que conhecemos como: senso comum. 
 
São aqueles jogadores mais crus, que pensam e agem de uma maneira padrão e espontânea, baseada somente em suas experiências passadas, sem esforço adicional de entendimento das situações. Mas como assim? Na prática, que tipos de situações ocorrem?
 
Vamos montar um cenário hipotético, mas não raro: suponha que um jogador recreativo está bem próximo de uma mesa final em um torneio online, que ocorre aos domingos, recheado de outros jogadores eventuais, com valor de inscrição de U$ 11 e cerca de 15.000 participantes inscritos. Ele está um pouco acima da média em fichas. Já se passaram nove horas. Aquela é uma situação totalmente nova para ele e o dinheiro distribuído na mesa final representa uma boa alavancagem para sua banca. Qual a tendência de postura desse jogador e da maioria dos recreativos que estão ali na mesa situação? O senso comum diz que eles devem “segurar” um pouco mais o jogo, aguardar os jogadores com stacks menores serem eliminados e garantirem a mesa final e uma premiação maior. 
 
Esses são jogadores tipicamente pressionados e, na verdade, o que eles precisam para que aumentem as suas chances de cravar o torneio são dois pontos: a ausência de jogadores profissionais naquela reta final e que eles assumam uma postura contrária a da maioria. Mas por quê? Como disse, o jogador profissional procura estar sempre do lado pressionador, aproveitando-se exatamente desse tipo de situação. É aqui que ele tende a abrir o leque de mãos jogáveis, usar suas habilidades, tanto pré quanto pós-flop, e assumir riscos controlados, fazendo moves e criando situações em que ele vai estar jogando muito mais contra a pressão que o adversário vem sofrendo do que efetivamente as suas cartas. Afinal, convenhamos, o jogador embebido do senso comum tende a assumir uma postura de total passividade.
 
A grande questão é que para o jogador profissional, aquela reta final muitas vezes representa apenas mais um torneio dentre centenas que compõem seu volume mensal. A pressão tende a não existir e o profissional joga com sabedoria, mas sempre visando a cravada e o maior prêmio. Dessa forma, se há uma tendência da maioria em se retrair e o caminho para se acumular fichas é andar na contramão, é isso que fazemos. Essa também é a explicação para a qual jogadores tecnicamente mais fracos podem, sim, ganhar torneios — se, em reta final, percebem a passividade dos seus adversários e, literalmente, “soltam o braço”. Mesmo que feito de forma inadequada por muitas vezes, se a maioria está largando suas cartas com uma frequência maior, isso também significa que ele está acumulando fichas em decorrência da situação. Até mesmo entre os profissionais pode existir este tipo de pressão, afinal, nem todos jogam na mesma faixa de inscrição e alguns torneios podem significar mais para uns do que para outros. 
 
O senso comum também ocorre em outros aspectos, como em padrões de tamanhos de apostas e jogadas que não podem ser justificadas por valor ou por blefe. O objetivo aqui é escancarar sobre que prisma olhamos as situações e ressaltar o quanto você deve sempre buscar sair do senso comum quando estiver em uma mesa de poker. É se esforçar para entender como a maioria está agindo, pensar e ajustar-se de acordo. Logicamente, caso você busque ganhos regulares, não basta simplesmente querer ser agressivo e aumentar as apostas de forma indiscriminada. A melhor recomendação que temos é procurar auxílio de um profissional já experimentado, para qual você vai expor suas dificuldades e experiências, e fazer ajustes específicos. A observação de jogadores tidos como referências e a prática em limites adequados também trazem resultados positivos. Bom trabalho nas mesas.
 



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