EDIÇÃO 81 » COLUNA NACIONAL

Pergunte ao Diretor

O mais renomado diretor de torneios do Brasil tira todas as dúvidas dos leitores da Card Player Brasil. Para ter sua pergunta respondida, envie um e-mail para contato@cardplayerbrasil.com ou mande uma mensagem em nosso facebook.


Devanir "DC" Campos
Rodrigo Ferreira Nunes (São Paulo – SP)
 
Geralmente,   como funcionam as punições em torneios? Jogando um evento, durante uma mão, dois jogadores estavam de all-in e havia um terceiro pensando. Eu e mais duas pessoas da mesa comentamos a situação. O jogador que estava pensando acabou dando call e triplicando seu stack. Um dos envolvidos na mão ficou bastante revoltado, gritou e perdeu totalmente o controle, e começou a colocar pressão em cima do diretor. Por pressão, acabamos tomando uma órbita de punição. O jogador que se exaltou fez o rebuy e não foi punido. Mas e quanto à nossa punição, não foi muito dura? E o jogador que se exaltou também não deveria ter sido punido? E em quando se aplica cada punição: advertência, órbitas ou expulsão do torneio?
 
Olá, Rodrigo.
 
As punições em um torneio são ferramentas que a direção tem para manter a ordem e forçar a aplicação do regulamento. De forma análoga, é como a falta e o cartão para um juiz de futebol. É necessário aplicar sanções aos jogadores, pois, algumas vezes, inclusive da forma mais ingênua e não intencional, eles acabam infringindo o regulamento.
 
De acordo com a regra 58 do regulamento do BSOP (PENALIDADES E DESQUALIFICAÇÃO), vemos que a direção possui níveis escalados de penalidades disponíveis para aplicação. A penalidade apropriada para cada caso vai da gravidade da infração que o jogador teve, contudo, este é um ponto em que pesa muito a experiência e avaliação da direção.
 
Voltando à nossa comparação com o futebol, vemos que muitas vezes, dentro de um mesmo jogo, um juiz considera uma falta como leve e um dos árbitros auxiliares pode considerar como digna de um cartão amarelo. Portanto, a subjetividade na análise de quão forte foi a infração ao regulamento existe em todos os esportes. No poker, eu sempre gosto de analisar o quanto a atitude que o jogador teve influenciou na ação ou no resultado da mão, o quanto ele infringiu preceitos éticos ou comportamentais descritos no regulamento e o quanto a experiência que este jogador tem pode ter sido um fator na infração. Veja que, em minha opinião, um jogador reconhecidamente profissional vai ser tratado com menos tolerância em algumas situações mais simples do que um jogador sabidamente novato.
 
Por exemplo, digamos que você desista da sua mão antes da sua vez de falar porque quer ir logo ao banheiro. Na maioria das situações, quando um jogador profissional faz isso, eu considero-o digno de receber uma punição que o faça perder algumas mãos. Afinal, ele conhece muito bem a regra, e o desrespeito desta foi intencional. Já quando é um “marinheiro de primeira viagem”, na mesma situação, poderei relevar para uma advertência na primeira vez. [Nota: sobre essa situação específica, no BSOP, aplicamos uma punição de três mãos, independente de quem seja o jogador].
 
Sobre a situação que aconteceu com você, acredito que a decisão de punir quem comentou durante a mão é acertada. De acordo com a regra de “NÃO DIVULGAÇÃO”, não se pode comentar, criticar, sugerir ou orientar uma jogada enquanto a mão está em andamento. Agora, em relação ao outro jogador, que se exaltou, isso depende de como foi a exaltação. Eu considero que qualquer ofensa ou agressão, física ou verbal, deve ser punida imediatamente.
 
 
 *************************************************
 
Arthur Gomide (São Paulo – SP)
 
É permitido “falinhas” na mesa quando uma mão não está em andamento? Por exemplo, em um torneio com reentrada: “Ah, eu vou dar rebuy nas próximas mãos”, e fica repetindo isso sempre que a mão está para começar; ou: “Você devia ter pagado aquele all-in porque estava comprometido com o pote, tinha equidade etc.” Então, qual é o limite para essas conversas paralelas?
 
Olá, Arthur.
 
Existe uma grande diversidade de entendimentos para a palavra “falinha”. Por ter uma abrangência semântica tão grande, a falinha, da forma como você explicou, não me parece algo nocivo à disputa, desde que não entre em nenhum dos três aspectos a seguir:
 
1 – Sobre a mão que está acontecendo no momento
 
Não aceito como válida qualquer conversa que tenha como o assunto a mão que está acontecendo no momento da fala. Pode-se falar sobre mãos anteriores ou sobre os mais diversos assuntos, mas não sobre a mão que está sendo jogada.
 
2 – Declarações condicionais
 
Declarações do tipo “se você fizer tal coisa, farei outra” são proibidas pelo regulamento do BSOP (regra 44) e são passíveis de punições.
 
3 – Conversa excessiva ou que atrapalhe o bom andamento do jogo
 
Quando um jogador é extremamente falante e isso causa o desconforto dos demais jogadores, atrasos nas jogadas ou influencia nas decisões, acredito que a direção deve tomar uma atitude limitando o volume de conversa a fim de que o ambiente da disputa seja agradável a todos.
 
Veja que eu não falo de extremos, ou seja, não é para se jogar poker silenciosamente. Porém, sabemos bem que existem pessoas que são falantes ao ponto de exagerarem e gerarem desconforto aos outros competidores da mesa. Isso deve ser apurado com cuidado pela supervisão do torneio e tratado também com certa dose de tato para não haver constrangimentos.
 
Espero que eu tenha sanado as dúvidas. Para mandar outras perguntas, vocês podem utilizar o Twitter, seguindo @DC_Brasil.



NESTA EDIÇÃO



A CardPlayer Brasil™ é um produto da Raise Editora. © 2007-2024. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo deste site sem prévia autorização.

Lançada em Julho de 2007, a Card Player Brasil reúne o melhor conteúdo das edições Americana e Européia. Matérias exclusivas sobre o poker no Brasil e na América Latina, time de colunistas nacionais composto pelos jogadores mais renomados do Brasil. A revista é voltada para pessoas conectadas às mais modernas tendências mundiais de comportamento e consumo.


contato@cardplayer.com.br
31 3225-2123
LEIA TAMBÉM!×