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O Primeiro Grande Título De Chris Moorman


Julio Rodriguez
A última vez que Chris Moorman estampou a capa da Card Player Brasil foi em maio de 2012. Naquela época, ele se tornou o primeiro jogador a terminar no top 10 de ambos os rankings de Jogador do Ano da Card Player, online e ao vivo. Desde então, o jogador do Reino Unido continuou a dominar no poker online.

Em setembro de 2013, ele se tornou o primeiro profissional a ultrapassar a marca de US$ 10 milhões em ganhos na internet, quase US$ 3 milhões a mais que o segundo colocado. No entanto, faltava alguma coisa no currículo vitorioso de Moorman. Aos 28 anos, ele já havia conseguido um 2º lugar no Main Event da World Series of Poker Europe (WSOPE) de 2011 e outras três mesas finais na WSOP. Ele também foi finalista no Aussie Millions e no European Poker Tour (EPT), mas a tão sonhada vitória insistia em escapar pelos seus dedos.
 
Em 2012, Moorman reafirmou que não estava preocupado com as traves. “Eu já tinha me acostumado a terminar em segundo”, conta em tom de brincadeira. “Na verdade, era frustrante, mas eu mantinha as coisas em perspectiva. Poker não é como o tênis, em que você tem um prazo de validade curto. Não é como se eu perdesse Wimbledon. Eu planejo jogar pelas próximas cinco décadas, então eu teria muitas oportunidades. Era só uma questão de tempo”.
 
Mas ele não teve que esperar tanto. No último mês de março, Moorman superou um field de 534 jogadores no evento principal de US$ 10.000 do World Poker Tour L.A. Poker Classic (LAPC). Além do troféu e do prêmio de US$ 1 milhão, o alívio de tirar um incômodo peso de suas costas.
 
O britânico agora tem quase US$ 4 milhões em ganhos, apenas em torneios ao vivo, e está entre os cinco melhores na corrida pelo Jogador do Ano da Card Player. 
 
Julio Rodriguez: Em fevereiro de 2014, você destruiu no online. Foram mais de 200 ITMs e cerca de US$ 300.000 em prêmios. Como você se mantém no topo em meio a tanta variância?
 
Chris Moorman: Quando eu planejo jogar um mês de modo intenso, tento tratar cada sessão de maneira individual. Obviamente é impossível não deixar que o seus resultados recentes influenciem no seu humor ou na sua confiança para o futuro, mas eu tento retirar isso do meu plano de jogo tanto quanto posso. Só porque estou em uma boa sequência de vitórias, eu não acredito que a minha próxima sessão também será vitoriosa, e vice-versa. Desde que você mantenha o seu foco, sair de uma fase ruim é um processo natural.
 
JR: Quando você está jogando online, qual é a sua rotina, sua agenda, seu volume de jogo?

CM: Meu jogo online mudou muito nos últimos anos. Quando comecei no poker, costumava jogar seis ou sete dias na semana. Minha vida era em função do jogo. Hoje, tenho mais equilíbrio e jogo quatro vezes por semana. No entanto, ainda sou capaz de manter o mesmo volume de antes. Devido ao meu foco, sou capaz de jogar sessões muito mais longas do que antigamente. No momento, evito jogar online da Europa. Os horários para “grindar” por lá são desgastantes e não me permitem ter uma vida social saudável.
 
JR: Em que você mais teve que trabalhar na sua transição do online para o ao vivo? Qual é o seu maior orgulho, quando falamos de suas habilidades de ser um jogador de elite em ambas as esferas? 
 
CM: Levou um tempo para eu fazer a transição completa do online para o ao vivo. Acredito que uma das principais diferenças é como o jogo é decidido. Acredito que, ao vivo, suas decisões estão muito mais ligadas ao pós-flop, especialmente nos turns e rivers. Já no online, a dinâmica está predominantemente no pré-flop. Isso tem uma explicação simples: jogamos com stacks bem maiores ao vivo. Outra grande diferença é o psicológico. A chave para jogar ao vivo é paciência. Por exemplo, no LAPC, eu joguei por seis dias, cerca de oito horas diárias. Em média, são apenas 25 mãos por hora. Isso significa que você tem muito tempo para se distrair com outras coisas. Outro detalhe, se você cometer um erro ou entrar em tilt, é muito difícil se recompor e voltar aos eixos.

JR: Como você se concentra em um único evento, como o LAPC, sendo que você poderia estar jogando dezenas de torneios online enquanto está sentado lá?

CM: É algo difícil e que você nunca fará com perfeição. Obviamente, isso varia de quanto tempo o torneio leva. O LAPC em questão foi mais tranquilo. Eles não tinham dinner breaks (intervalos para a janta). Esses intervalos são complicados, pois você tem que recuperar o seu foco depois de ficar muito tempo parado. Além disso, é possível que você coma demais e fique cansado pelo resto do torneio. Quando sei quantos níveis jogaremos e a que horas começa e termina o torneio, tudo fica mais fácil.

JR: Quais são os maiores erros que você vê os jogadores cometendo nos torneios?

CM: Há alguns erros que vejo as pessoas cometerem com frequência nas mesas. Um dos maiores é dar call no flop, fora de posição, contra um bom jogador, com muitas mãos e que dificilmente melhorarão. Um exemplo é defender o big blind com 4-4 contra um raise do UTG e então dar check-call no flop 9-6-6. Apesar de provavelmente você ter o melhor jogo, é muito difícil ir para o showdown com a sua mão contra um bom e agressivo jogador. Na maioria das vezes, você ainda terá que enfrentar mais uma ou duas apostas quando overcards aparecerem no bordo. Isso colocará você em uma situação de adivinhação. Sem falar na possibilidade de o bordo parear novamente e seu par de mão não valer mais nada. Contra ranges relativamente fortes, prefiro jogar esses tipos de mão apenas para acertar a minha trinca. Outros erros: jogadores com poucas fichas pagando raises pré-flop com mãos especulativas e abrindo raises pequenos — e com muitas mãos — em guerra de blinds.

JR: O que é necessário para ser um jogador forte em retas finais de torneios? Como você desenvolveu isso no seu jogo? E o que os iniciantes devem fazer ao chegarem nesse estágio?

CM: Saber jogar as retas finais é um dos pontos fortes do meu jogo. Em torneios, o que interessa, financeiramente falando, está nos três primeiros lugares. Então, saber jogar a fase final é essencial para maximizar os seus lucros. Basicamente, o que me levou ao patamar que estou hoje foi a experiência de jogar centenas de mesas durante todos esses anos. Uma das coisas que aprendi, quando há shorts na mesa, é colocar pressão nos stacks menores do que o meu. É natural que eles desejem que os jogadores com stacks curtos sejam eliminados e a faixa de premiação seja alterada. E é preciso lembrar-se de que quando estamos em uma mesa com seis jogadores ou menos, a força relativa das mãos muda e jogar agressivamente para a vitória é a base.

JR: Você acha que é possível entrar no poker agora, depois desse boom do poker online, e ainda ser lucrativo?

CM: Hoje, os jogos são bem mais difíceis, mas ainda é possível. Desde que você tenha um psicológico bem preparado e trabalhe com ética, o céu é o limite. A habilidade natural pode lhe ajudar em algum ponto, mas não é essencial. Eu atribuo minha ascensão ao topo mais à minha ética dentro no jogo do que a qualquer outra coisa.

JR: Você tem trabalhado em um livro, que será lançado ainda neste ano. O que o Moorman’s Book of Poker [ainda sem tradução em português] irá ensinar ao mundo? O que os leitores terão de conteúdo que eles nunca leram em nenhum outro livro de poker?

CM: Há alguns meses, eu fiz uma promoção em que analisava alguns históricos de mãos. Foi um sucesso. Isso me inspirou a escrever um livro nesse formato, em que eu analiso as mãos de jogador de limites médios e mostro o que ele está fazendo certo e o que ele poderia fazer para melhorar e subir para os limites mais altos. Isso é algo que nunca foi feito antes. Os leitores pensarão o jogo de uma maneira que eles nunca pensaram antes.

JR: Quais jogadores mais impressionam você e por quê?

CM: Vanessa Selbst é alguém que me impressiona muito. Até há pouco tempo, eu não havia tido a oportunidade de conversar o bastante com ela sobre estratégia. Quando analiso uma mão, considero a maioria das possibilidades, mas quando conversei com ela sobre algumas situações específicas, ela me sugeriu algumas coisas que eu nunca tinha pensado antes. 

JR: Você alcançou muito sucesso na sua carreira, não apenas financeiramente. Você se preocupa mais com o prestígio ou com dinheiro?

CM: Muitas pessoas jogam pelo dinheiro, mas eu estou mais interessado em construir um legado de conquistas. Eu me motivo tentando aprimorar meu jogo constantemente e jogando o melhor possível. Óbvio que o dinheiro é importante, mas se você faz o seu melhor e trabalha constantemente para evoluir, o dinheiro será consequência. Talvez, quando eu aprender a dirigir, eu me preocupe com os prêmios que pagam para os primeiros lugares e com qual carro poderei comprar com ele (risos).
 
 
 
MOORMAN ESCAPA DA ELIMINAÇÃO NO L.A. POKER CLASSIC
Restando apenas três jogadores, com os blinds em 60.000-120.000 e ante de 20.000, Chris Moorman era o segundo em fichas com 5.765.000 em seu stack. Michael Rocco (2.280.000) era o short, e Glenn Lafaye (7.975.000) tinha a liderança.
 
No button, Lafaye aumentou para 250.000. Rocco deu fold do small blind, e Chris Moorman reaumentou para 620.000. Lafaye pensou por quase 30 segundos e pagou. O flop veio 9 7 2. Moorman apostou 515.000, e Lafaye reaumentou para 1.325.000.  Moorman pensou por quase um minuto e pagou. 
 
O turn foi uma Q e ambos pediram mesa. O river foi uma Q. Moorman apostou 1.325.000, Lafaye pensou por quase três minutos e acabou dando call. Moorman tinha KK, mas Lafaye apresentou 22, um full, que lhe deu a liderança maciça e reduziu o stack de Moorman a 2.475.000 fichas.
Analisando a mão, Moorman fica aliviado por não ter sido eliminado:
 
“A mão contra o Glenn foi bastante interessante. Baseado no ICM (Independent Chip Model), era complicado ir all-in naquele momento. Glenn tinha mais fichas do que eu, e Michael Rocco tinha apenas 19 big blinds. Assim, com uma trinca, acredito que era melhor para ele apenas pagar no flop, pois, a menos que eu tivesse uma mão muito forte, seria difícil que eu respondesse ao seu raise.
Quando ele aumentou no flop, decidi apenas pagar. Um reraise para pagar um possível all-in também seria bom. Quando a Dama aparece no turn, se o Glenn tivesse apostado, eu realmente teria empurrado all-in, já que o pote estava muito grande. Então, o check dele acabou salvando meu torneio naquela ocasião. Apesar do check no turn ser uma jogada astuta, que esconde bem a mão dele, eu apostaria para tentar maximizar meu valor.
 
No river, quando a outra Dama aparece, eu tinha 95% de certeza que a melhor mão era a minha. Imaginei que só estaria perdendo para algo como K-Q ou J-Q. Glenn pensou por muito tempo até pagar. Obviamente, ele estava considerando ir all-in, o que seria a melhor jogada, já que eram poucas as mãos do meu range que poderiam vencê-lo. Na verdade, Par de Noves ou de Damas eram as únicas. Com 7-7, eu daria apenas call pré-flop. Mas se ele empurrasse all-in, eu não sei se daria call. Apesar de ele representar pouquíssimas mãos de valor, justamente por isso, seria um blefe ridículo”.
 



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