EDIÇÃO 80 » ESPECIAIS

Geração Y – Joseph Cheong


Julio Rodriguez
Nos últimos quatro anos, Joseph Cheong tem chamado a estrada de casa. O profissional de 28 anos vem jogando os principais torneios ao redor do mundo e deixando a sua marca: quase US$ 10 milhões em prêmios, apenas no ao vivo, e outros US$ 2,5 milhões na internet.
 
Cheong, que se mudou da Coreia para a Califórnia em 1992, originalmente planejava uma carreira em Wall Street. Depois de graduar-se em Matemática, Economia e Psicologia pela Universidade da Califórnia, ele se voltou para o poker, que está sempre contratando, mesmo em uma recessão. 
 
A aposta foi certeira e, em 2010, ele explodiu para o mundo. Com uma atuação de gala, Cheong terminou na terceira colocação do Main Event da World Series of Poker (WSOP) e embolsou US$ 4,1 milhões. Depois daquilo, ele seguiu provando que não era jogador de apenas um resultado.
 
A Card Player conversou com Joseph Cheong sobre sua ascensão meteórica e o futuro do poker.
 
Julio Rodirguez: Como você entrou no mundo do poker?
 
Joseph Cheong: Quando me graduei, eu queria trabalhar em Wall Street, com fundos de cobertura, mas a recessão fez com que ficasse muito difícil para recém-graduados conseguirem trabalho. A escassez de emprego era uma realidade, então tentei a minha sorte no poker. 
 
JR: Você enfrentou dificuldades logo depois de se tornar profissional?

JC: Eu tive bons resultados logo de cara. Em 2009, venci o Mini-FTOPS do Full Tilt e levei US$ 55.000. Meu bankroll era de apenas US$ 20.000, então, vencer esse torneio me permitiu subir para o próximo nível na minha carreira. Depois disso, aumentei meu volume e me tornei um regular nos torneios high-stakes da internet.

JR: Como a sua família recebeu a notícia que você jogaria poker para viver?

JC: Eu tenho pais asiáticos bem conservadores, e eles queriam que eu tivesse um trabalho tradicional — e o poker não se encaixa nisso. Tenho certeza que eles prefeririam que eu me tornasse um médico ou um advogado. Mesmo hoje, eles ainda dizem para eu arrumar um emprego de verdade, mas pelo menos eles não podem contestar meus resultados. Desde que eu esteja longe de casa e me sustentando, meus pais não podem reclamar.

JR: Depois de um ano de sucesso no online, você venceu uma etapa do WSOP Circuit 2009 e ficou apagado até a sua mesa final no Main Event da WSOP. Então, entre julho e novembro de 2010, você terminou em segundo no high roller do EPT de Londres e ganhou um dos eventos paralelos no Festa al Lago Classic. Foram mais US$ 400.000 em prêmios. Conseguir chegar ao November Nine mudou o seu jogo de alguma maneira?

JC: Depois de chegar à mesa final do Main Event, eu estava muito confiante. Eu sabia que a melhor maneira de me preparar para o November Nine era jogar o tanto quanto pudesse. Então, com o dinheiro que eles pagam aos finalistas, referente à premiação do 9º colocado, comecei a jogar o circuito. Eu fui muito bem, cheguei a duas mesas finais e ganhei bastante experiência. Quando finalmente chegou o momento do November Nine, eu não estava tão nervoso quanto os outros jogadores.

JR: Você terminou em terceiro no Main Event e ganhou mais de US$ 4 milhões, mas foi um pouco criticado por sua jogada extremamente agressiva, uma 6-bet-all-in, contra Jonathan Duhamel [ver “Aconteceu Em Um Torneio”, nesta edição]. Se não fosse por isso, fatalmente, você teria chegado ao heads-up. Você pensa sobre o que poderia ter sido ou ficou feliz com seu desempenho? 

JC: Eu realmente não me prendo ao passado, tento aprender com ele, ver o que funcionou e o que não deu certo. Se não tivesse feito aquilo, eu provavelmente ficaria noites em claro pensando que eu deveria ter feito. Além do mais, é difícil não ficar feliz quando você ganha US$ 4,1 milhões.

JR: Você acha que a jogada feita contra Duhamel afetou de forma negativa a maneira com que os seus adversários enfrentam o seu estilo de jogo?

JC: Meu estilo de jogo é extremamente flexível e totalmente dependente do meu oponente. Minha reputação é de ser um jogador hiperagressivo, que faz jogadas insanas — o que de vez em quando é verdade. Mas acho que as pessoas têm uma tendência a exagerarem por causa das poucas mãos que aparecem na TV.

JR: Você já tem quase US$ 10 milhões de prêmios em pouco mais de cinco anos de carreira. Quanto tempo você acha que continuará jogando para viver?

JC: Eu não me vejo jogando poker pelo resto da vida. Não tenho ideia do que vou fazer, mas sei que quero jogar enquanto ainda sou jovem. Joguei tudo que podia nos últimos anos, mas não posso fazer isso para sempre. No momento, o objetivo é fazer o máximo de volume possível, enquanto o jogo ainda é lucrativo. O poker definitivamente irá mudar. Não será do mesmo jeito sempre, mas sei que ele estará lá quando eu decidir voltar a jogar.

JR: O que você quer dizer com “o poker irá mudar”?

JC: A economia do poker está morrendo. O número de jogadores saindo do jogo é maior do que o número que está entrando. Então, a menos que algo drástico aconteça, é inevitável que o dinheiro “dê uma sumida”, especialmente nos torneios high-stakes.

JR: E o que você acha que ajudaria a economia do poker?

JC: Bem, eu acho que a Epic Poker League [liga exclusiva baseada na meritocracia. Foi criada e 2011 e extinta em 2012] teve a ideia certa. Pode parecer um pouco elitista, mas a ideia de ter os melhores jogadores do mundo dividindo as mesas atrai a atenção das pessoas comum. Outro ponto importante seria a legitimação do poker como esporte.

JR: Você passou muito tempo viajando nos últimos anos.  Quais as suas impressões sobre o estilo de vida como jogador profissional?

JC: Eu sou um cara muito afortunado. Não importa qual o local em que eu vá jogar, sempre tenho pelo menos uma dezena de amigos com os quais posso ter bons momentos. É como uma longa festa ininterrupta. Sim, existem algumas coisas chatas, como passar muito tempo em aviões e ficar longe de casa, mas as coisas boas superam as ruins.
 
OS CINCO MELHORES RESULTADOS DE JOSEPH CHEONG
EVENTO POSIÇÃO PRÊMIO (US)
Main Event da WSOP 2010 $4.130.049
Manila Millions do APT Philippines 2013 $1.343.370
Super High Roller do WPT World Championship 2013 $614.250
High Roller da WSOP APAC 2013 $534.776
Main Event da WSOPE 2012 $381.375
 
CINCO DICAS DE JOSEPH CHEONG PARA CONSTRUIR UM GRANDE STACK
Há uma razão pela qual Joseph Cheong sempre é um dos líderes quando chega à mesa final — e não é por ganhar uma série de flips. Alguns jogadores podem ficar satisfeitos por chegarem ITM, mas não Cheong. Ele sempre joga para construir um stack gigantesco, que garanta um jogo confortável na mesa final.

Para colocar a si próprio na melhor posição de conseguir o título, ele diz que é preciso trabalhar nos níveis iniciais. Confira suas cinco dicas para chegar gigante nas retas finais de torneios:

1. Jogue muitas mãos
“Durante os níveis iniciais, quando é barato ver flops, aumente o range de mãos que você abre raise e jogue várias mãos. Você também deve defender seus blinds com uma gama muito variada. O objetivo principal é acertar algo muito bom no flop e pegar seu adversário, que geralmente estará jogando com um range mais tight, então, irá pagá-lo”.

2. Desenvolva uma imagem loose e descuidada
“Essa estratégia (jogar muitas mãos) só funcionará se os outros jogadores não lhe derem crédito por suas apostas. Se você não for criativo, então eles não irão lhe pagar quando você acertar uma boa mão. Procure tomar linhas pouco convencionais e não tenha medo de mostrar um blefe, dando certo ou não”. 

3. Não se preocupe sobre posição quando estiver deep
“Posição é sempre importante em no-limit hold’em, mas isso se torna menos importante quando todos estão com muitas fichas. Como eu digo para os meus amigos: ‘Você não pode dar check-raise se você está em posição’. Isso vai contra o pensamento convencional, mas jogar fora de posição tem seus benefícios, especialmente para construir grandes potes”.

4. Não há necessidade de slow play
“Quando você está jogando mãos especulativas, você frequentemente acertará boas mãos, mas que são vulneráveis. Mesmo se a carta do turn não matar a sua mão, ela poderá matar a ação. É melhor jogar a mão de maneira agressiva e conseguir as fichas o quanto antes. Isso também cria dúvidas na cabeça do seu adversário: ‘Quão forte é a mão dele?’; a verdade é que, geralmente, eles vão se convencer que estamos em um draw”.

5. Procure aquelas pessoas pressionadas pelo dinheiro
“Há alguns anos, pressionar a bolha e ganhar fichas facilmente funcionava, mas as pessoas agora estão atentas. O fato é que hoje, perto da bolha, há poucos jogadores ruins. Os bons jogadores tendem a procurar aqueles que estão pressionados pelo dinheiro. São eles que desistirão dos blinds facilmente, darão check quando não acertarem suas mãos e apostarão forte para lhe tirar do pote quando acertarem em cheio o flop”.
 



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