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Isaac Haxton - O nômade dos High-Stakes

Tradução e adaptação: Marcelo Souza


Erik Fast
Há uma seriedade inesperada na voz de Isaac Haxton quando ele explica porque ele ama jogar. “Quando estou jogando, alguma coisa acontece no meu cérebro. Tudo faz sentido. As regras e os objetivos são tão claros que qualquer outra coisa desaparece, e fico focado apenas nisso — é a coisa mais relaxante e estimulante do mundo”.
 
Haxton nasceu em 1985, é um dos melhores jogadores de cash-game do mundo e possui mais de oito milhões de dólares ganhos em torneios. Ele descobriu a sua obsessão por jogos de estratégia ainda cedo, aos quatro anos, quando aprendeu o xadrez. Aos 10, ele já derrotava seu pai com consistência e começou entrar em torneios. Na adolescência, sua atenção foi para o jogo de cartas Magic: The Gathering. “O colégio era chato e estressante. Eu encontrei no xadrez e no Magic o que realmente era importante para mim. Mesmo quando fiquei mais velho, jogar continuou sendo o que eu mais gostava de fazer”, conta Haxton.

Ele percebeu que alguns dos melhores jogadores de Magic tinham uma renda extra com o jogo, e passou a sonhar com o dia que ele poderia viver apenas jogando. Seu desejo tomou forma com o “boom” do poker. Amigos da comunidade de Magic lhe apresentaram o poker, e ele nunca olhou para trás novamente. Ele largou a universidade e adotou o esporte da mente em definitivo. 

Haxton se mudou para Las Vegas com a namorada, Zoe, fez milhões jogando cash games online e torneios ao vivo. Era o “Sonho Americano”, até o fatídico dia 15 de abril de 2011, data que o Departamento de Justiça dos Estados Unidos fechou os principais sites de poker que operavam por lá.
 
DEIXANDO OS EUA
“Eu não via como poderia continuar jogando profissionalmente sem o poker online. Era algo que eu já dominava e que demoraria muito para adaptar se eu fosse jogar apenas ao vivo”, conta Haxton. Ele sabia que se quisesse seguir na carreira dos seus sonhos teria que se mudar dos Estados Unidos.
“Quando comecei a arrumar as coisas para a mudança, eu pensei: ‘Bem, isso será simples. Só tenho que escolher um bom lugar no mundo e ir para lá’. Até aquele momento, eu ainda não tinha sequer pensado em tirar um visto. Eu não tinha ideia que você não pode simplesmente escolher um lugar para morar e ficar por lá pelo resto da sua vida”, revela. “Isso pode parecer muito estúpido, é claro que já ouvi falar de imigrantes ilegais, mas nunca imaginei uma situação em que eu seria uma dessas pessoas”.

Devido à proximidade, Canadá e México foram as duas primeiras opções para ele. Mas o tempo frio, no caso do primeiro, e as questões de segurança, no caso do segundo, impediram que Zoe e ele se mudassem para os vizinhos mais próximos dos EUA.

O jovem casal procurou várias opções na Ásia, Europa e Oceania até ouvirem sobre um programa para morar em definitivo em Malta. “Basicamente, você apenas tinha que demonstrar que possuía bastante dinheiro para se sustentar, que não iria tentar arrumar um trabalho no País e que não possuía antecedentes criminais”, diz Haxton.

Na época, ele, com 26 anos, e Zoe, com 28, se viram de frente a montanhas de papéis que, geralmente, apenas aposentados encaravam para passar seus últimos anos no sul da Europa. “Foi uma coisa estranha. Eu estava tratando com firmas de advocacias e empresas acostumadas a receber esse tipo de pedido de pessoas que estavam para se aposentar. A maioria das pessoas que conversei em Malta, na verdade, eram britânicos aposentados”.

Zoe Haxton já estavam juntos há oito anos. Durante a World Series of Poker 2011, enquanto Haxton jogava torneios, Zoe foi para Malta, sem muitas expectativas, mas disposta a tentar fazer dar certo, já que era a melhor alternativa para os dois.

“Ela foi e adorou tudo. Depois de começarmos a nos preparar para fixar residência, percebi que se nos casássemos, a burocracia seria menor”.

Os dois se casaram no dia 1º de setembro de 2011 e voaram para Malta já no dia 15. Depois de meses lidando com papéis e burocracia, finalmente parecia que eles poderiam começar uma nova vida longe dos Estados Unidos. No entanto, o destino pregou uma peça no casal. O programa de residência permanente, que era o principal motivo para se mudar para lá, havia acabado.

“O dia que nós chegamos lá estava em todos os jornais, literalmente. As pessoas estavam tirando vantagem do programa de residência permanente para conseguirem plano de saúde gratuito. Então, a partir daquele momento, quem quisesse morar lá teria que pagar ao governo 500 mil euros”, revela Haxton. “Eu tinha apenas o visto padrão, que me permitia ficar na Europa 90 de cada 180 dias. Então passei metade do ano em vários outros lugares”.

Apesar do percalço, Haxton foi agraciado com uma mudança radical e benéfica em seu estilo de vida. No final, a Black Friday havia sido uma benção disfarçada para ele.

“Eu ampliei meus horizontes e cresci muito nos últimos anos por causa da Black Friday. Não quero usar uma palavra negativa como ‘estagnada’, mas a vida em Vegas era muito previsível. Eu estava bem no poker, o ambiente era bom, mas tudo era tão unidimensional. Eu não fazia muita coisa além de jogar poker e sair com outros jogadores”.

Com um novo senso de equilíbrio em sua vida fora das mesas, Haxton estava pronto para se focar novamente em seu objetivo: tornar-se o melhor jogador de poker que ele poderia ser.
 
DE VOLTA AOS NEGÓCIOS
Depois de alguns anos de incertezas pós-Black Friday, globalmente, o poker continuou a crescer e mudar. Entre as novas tendências dos circuitos estão os “Super High Rollers”, torneios com buy-ins de seis dígitos. Como um jogador dos high-stakes online, experiente em torneios ao vivo, Haxton era um presentes nesses eventos com fields pequenos e muito dinheiro a ser ganho.

“Acho que foram mais de 20 super high rollers em 2013, mas há aquele sentimento de que esses eventos não são sustentáveis, que todos que jogarem acima do bankroll, eventualmente, quebrarão. Na verdade, eu não concordo com isso. Há uma boa porcentagem do field que é composta por jogadores recreativos — e enquanto houver isso, os profissionais, com certeza, conseguirão lucro”.
Haxton vem provando que sua fala é verdade. Os dois maiores prêmios da sua carreira vieram em torneios do tipo. Em junho do ano passado, em Macau, ele terminou em quinto lugar em um torneio com buy-in de US$ 128.000, que lhe rendeu um prêmio de US$ 1,3 milhão. Neste ano, no meio de fevereiro, Haxton terminou em segundo no desafio de US$ 225.000 do Aussie Millions e embolsou US$ 2,5 milhões, seu terceiro prêmio de sete dígitos. Com os resultados, o profissional de cash games chega a US$ 8,3 milhões em prêmios apenas em torneios.

Hoje, mais e mais torneios com buy-ins gigantescos começam a aparecer por todo o mundo, e Haxton parece satisfeito com isso: “Acredito que isso mostra uma grande injeção de dinheiro dos amadores na economia dos torneios de poker, o que não acontece nos high-stakes cash games”.

Falando de jogadores recreativos nos high-stakes cash games, quando esteve em Macau, Haxton não teve a oportunidade de jogar nos jogos mais caros do mundo: “Não joguei porque esses cash games, que todos ouvem falar, são extremamente privados e eu não fui convidado”, revela. “Mas há bons jogos caros e públicos. No Wynn, em Las Vegas, os cash games de $100-$200 fariam minha viagem até lá valer à pena, em vez de jogar online de casa. Mas em termos de diversão, prefiro muito mais jogar pela internet”.

A versatilidade de jogar online foi o que permitiu Haxton viajar pelo mundo, e ainda é a sua principal fonte de renda: “Eu tenho jogado o que o online me oferece, o que, recentemente, tem sido $50-$100 NLH 6-max. Também tenho jogado nas mesas nosebleed de heads-up contra o Viktor “Isildur1” Blom. Acho que ele é a única pessoa contra quem tenho jogado HU em limites superiores a $100-$200. Jogamos muito $500-$1.000, com cap [o valor máximo do pote tem limite] e um pouco de $300-$600 e $400-$800. Eu apenas tento jogar o que é bom para mim, mesmo que só consiga ação de vez em quando”.
 
SEMPRE PENSANDO À FRENTE
Além do sucesso no circuito ao vivo, o excelente desempenho no online — cerca de US$ 3,5 milhões de dólares de lucro — renderam a ele um contrato com o gigante PokerStars: “Eu vinha conversando com o PS desde 2007, quando fiz mesa final no PokerStars Caribbean Adventure. O diálogo voltou no final de 2011, depois dos desafios de heads-up (SuperStar Showdown) contra o “Isildur1”. Estava jogando contra ele de Malta, e no meio de 2012 chegamos a um acordo. Estou muito feliz de fazer parte do Team PokerStars Online. Até agora, tudo tem sido bem divertido”.

Desde então, Haxton esteve envolvido em vários eventos e promoções do site: “Fizemos várias coisas legais. No ano passado, joguei micro-stakes cash games e heads-up sit-n-gos, e havia prêmios extras para quem ganhasse um pote ou partida de mim. Também joguei o desafio Team PokerStars versus The Professionals (Full Tilt), em que enfrentei Tom “durrrr” Dwan; o Daniel Negreanu jogou contra o Gus Hansen e o “Elky” contra o “Isildur1”.  Foi sensacional, até porque nós destruímos (risos)”.

Haxton está feliz de ter alcançado o sucesso depois de ter deixado os Estados Unidos. Ao contrário de muitos profissionais, seus ganhos não são para quebrar recordes e nem para manter uma vida rodeada de luxos.

“Carros importados, relógios da moda e outras coisas desse tipo nunca foram meu estilo, mas com todas essas viagens, uma coisa de que não abro mão é comer bem. Eu gasto muito dinheiro em bons restaurantes. Também planejo ter filhos, e isso não é barato. Bater os high-stakes, para mim, está muito além de colocar meu nome em evidência”, conta o Team Online.

Com o prospecto de construir uma família, Haxton está feliz que a Black Friday, que deveria ter sido um desastre, tenha se tornado um catalisador para ele, guiando-o para uma vida mais balanceada enquanto continuava com o sonho de viver do jogo.

“Eu estou feliz com as coisas como estão. Tudo vai bem no online, no ao vivo e minha relação com o PokerStars é excelente. Espero que, nos próximos anos, as coisas se mantenham nesse ritmo”, finaliza.



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