EDIÇÃO 76 » MISCELÂNEA

Final Table

Tradução e adaptação: Marcelo Souza


Craig Tapscott
Grandes campeões analisam mãos chaves que lhes levaram a vitórias nos principais torneios do mundo, seja na internet ou ao vivo.

JUSTIN BONOMO E ALGUMAS ESTRATÉGIAS DINÂMICAS DO POKER: TEXTURA DO BORDO, SAIR APOSTANDO NO RIVER E BALANCEAR O RANGE — PARTE I

Justin Bonomo vem jogando profissionalmente há mais de dez anos. Em 2012, ele venceu o EPT Grand Final Monte Carlo No-Limit Hold’em Super High Roller 8-Max e embolsou US$ 2.167.000. Ele é um dos jogadores mais temidos do circuito ao vivo, seja em torneios (MTTs) ou em high-stakes cash game. Seus ganhos combinados (live e online), apenas em MTTs, já ultrapassaram a barreira dos 7,5 milhões de dólares. 

Evento    2013 Seminole Hard Rock Poker Open
Jogadores    2.384
Buy-in    US$ 5.300
Primeiro Prêmio    US$ 1.745.245
Colocação    2º

Hand #1
Conceitos-chave: Tamanho de aposta, textura do bordo, sair apostando no river e balanceamento de range.
Craig Tapscott: Por que você escolheu as mãos em questão para a nossa análise?

Justin Bonomo: Bem, elas ilustram falhas muito comuns no jogo de vários profissionais. Em ambas, dei check-call no turn, mas a carta do river mudou completamente a textura do bordo. Nessas situações é importante ter um range com o qual você sai apostando no river. Nesta primeira mão, a dinâmica está no tamanho dos stacks. Blair e eu temos dois grandes stacks, mas ele teve sorte ao ficar na minha esquerda.

CT: O que você sabe sobre o jogo do Blair?

JB: No geral, ele é um grande jogador, assim como a maioria dos profissionais de torneios. As apostas dele são pequenas, então não preciso ficar preocupado em quebrar. Essa é uma boa notícia para mim, já que ele não deve me pressionar demais, mesmo sendo o chip leader e tendo posição.

Com J9, Bonomo aumenta do UTG para 300.000.

CT: Em que você está pensando quando abre um raise do UTG com esse tipo de mão?

JB: Não é sempre que você deve fazer isso com J-9 suited dessa posição. No entanto, aqui nós temos 100 big blinds e quatro pessoas esperando alguém quebrar. Dito isso, esse é um raise obrigatório.
Do meio da mesa, Blair reaumenta para 750.000.

CT: E então?

JB: A 3-bet de Blair não é uma surpresa, apesar de eu achar que o tamanho da aposta dele é um erro. Nós temos cerca de 120 bbs, então uma 3-bet apropriada seria de três vezes o meu raise ou maior. Do jeito que ele jogou, vou continuar na mão com 100% do meu range. Ele está me dando odds de 3-para-1. Blair é um grande jogador e que gosta de jogar aplicar 3-bets e jogar em posição, então há muitos blefes em seu range. Obviamente, ele pode estar segurando um monstro, mas ele faz esse tipo de jogada com tanta frequência que estou disposto a aproveitar minhas odds e jogar pós-flop. Para que você possa “recusar” odds de 3-para-1, seu range de call tem que estar constantemente atrás do range de 3-bet do seu adversário, e não há mãos, no meu range de abertura do UTG, que se encaixem nessa descrição contra um oponente como Blair.

Flop: K64 (pote: 1.875.000)

JB: Um flush draw. Ótimo!

Bonomo pede mesa.

JB: Todos pedem mesa aqui, mas é importante entender por quê. Em situações como essa, o adversário que aplicou a 3-bet tem um range mais forte e também mais polarizado, então ele irá apostar na maioria das vezes. No geral, se alguém está propenso a apostar, você deve pedir mesa com todo o seu range e deixar que ele coloque fichas no pote.

Blair aposta 525.000.

Bonomo paga.

CT: O que você pensa sobre o tamanho dessa aposta?

JB: Esse é um bordo seco e Blair não pode puxar o pote com uma c-bet (continuation bet) pequena. Minha opinião é de que esta c-bet deveria ser um pouco maior, mas isso não é nada de mais.

CT: Você pensou em aumentar?

JB: Acredito que é melhor apenas pagar com a maior parte do meu range. Mãos como K-J são fracas para dar raise por valor, então não tenho mãos de valor o bastante para balancear com o meu amplo range de blefe. Blair ainda tem mais mãos fortes/nuts/polarizadas do que eu tenho. Então, raramente, serei o agressor nesse tipo de situação.

Turn: 2 (pote: 2.925.000)

Bonomo pede mesa. Blair atira 1.500.000.

CT: Blair apostou metade do pote. Isso é bom ou ruim, levando em consideração seu range?

JB: Esse é um erro grosseiro que muitos jogadores de torneios cometem. Há muitas mãos com as quais dou call aqui, mas que eu daria fold frente a uma aposta maior: flush draws, pares com combinações de gutshot e mesmo apenas um par fraco, como 7-7 ou A-6 suited. Mas você pode argumentar que se Blair tem um Rei ou algo melhor, ele quer ação. No entanto, é preciso pensar que já há muitas fichas no pote. Se eu puder dar call nessa aposta pequena, tendo odds de 3-para-1, com seis ou mais outs, a mão poderá não ter um desfecho interessante para Blair. Seria melhor apostar forte e fazer esses tipos de draws pagarem caro para ver a próxima carta. Claro que ele tem muitas mãos em seu range que não querem ação e apostar forte pode ser a diferença entre ganhar e perder o pote. De qualquer maneira, no “mundo dos torneios”, uma aposta de metade do pote tornou-se largamente aceita como uma aposta forte, e todos os adversários dão fold sem questionar. A verdade é que estamos com 120 bbs e apostar metade do pote não irá maximizar o valor que Blair deveria ter com o seu range.

CT: E contra a sua mão específica?

JB: Minha mão é bem marginal, então, eu certamente não daria call em uma aposta grande. Eu tenho odds de 3-para-1, e a chances de acertar o flush são de 4-para-1. Eu paguei porque, se ele estiver blefando, um Nove ou Valete podem ser boas cartas para mim também. É até mesmo possível que ele tenha algo com 8-7 suited e minha mão possa ganhar (improvável) um showdown no river. E, claro, se eu acertar o flush, posso extrair algum valor dele.

River: 8 (pote : 5.925.000)

CT: Você já tinha um plano para o caso de acertar o flush?

JB: Sim. No turn, eu já estava imaginando sobre o que ele pensaria se eu saísse apostando. Uma aposta por valor só será bem-sucedida se o seu oponente acreditar que você tem a pior mão. Em situações como essas, vários jogadores cometem o erro de pensar, “ele apostou no turn e é o agressor, então vou pedir mesa e deixar que ele termine o serviço”. Na verdade, a carta no river é scary (ruim, que pode acertar a mão dos envolvidos). Óbvio que Blair pode ter um flush ou tentar representar um, sem ter absolutamente nada, mas ele também pedirá mesa com algumas mãos de valor, como Reis marginais, que ele certamente apostaria se o Oito não fosse de copas.

CT: Esta é uma grande situação para demonstrar a “polarização de ranges”.

JB: Sim. Você sempre estará em vantagem em qualquer situação que você conseguir polarizar o seu range e colocar o seu adversário para tomar uma decisão difícil por muitas fichas.  Aqui não é diferente: eu sempre vou sair apostando com todos os meus flushes e transformar as minhas piores mãos em blefe (6-5 e 8-7, por exemplo). Algumas pessoas não gostam de transformar mãos com valor de showdown em blefes, mas é importante saber qual é o bottom do meu range, ou seja, as piores mãos que eu posso ter. Essas serão as mãos que blefarei. Devo sempre ter blefes no meu range, caso contrário, nunca serei pago.

Bonomo aposta 4.700.000

CT: É um valor muito estranho para uma aposta por valor, certo?

JB: Muitas pessoas podem considerar isso uma aposta grande. Não eu. Eu aposto 80% do pote e não há razão para eu apostar menos, já que meu range está tão polarizado. Na verdade, a mão que seguro, é uma das piores que eu posso ter no meu range de valor. Aqui, a maioria das minhas apostas por valor será com o nuts. Afinal, eu tenho qualquer combinação de AX no meu range, exceto AK, já que com essa mão, eu teria dado raise em algum momento, embora não seja necessário.

CT: Não há a possibilidade de Blair ter um flush maior e aplicar um reraise?

JB: Bem, é muito difícil para Blair dar raise contra o range que estou representando, então eu posso apostar forte com relativa segurança. Acho que uma aposta maior do que 4.700.000 também seria bom, mas eu reservo isso para as minhas mãos que tenham um A, estando nuts ou blefando.
Blair pensa por bastante tempo, mas abandona a mão. Bonomo leva o pote de 5.925.000.

JB: Acho que as causas principais para ele ter dado fold são:

1)    Estávamos no começo da disputa da mesa final.
2)    Eu ainda não havia mostrado o quão propenso eu estava a blefar.

A verdade é que você pode dar fold tranquilamente contra maioria dos jogadores nessa situação, contudo, gosto de pensar que eu blefo o bastante para não ser enquadrado nessa categoria.

CT: Alguns minutos depois, você descobriu o que Blair tinha, certo?

JB: Sim. Havia uma transmissão com 30 minutos de atraso para quem quisesse assistir. Ele tinha K8. Mesmo que todos os jogadores tenham ficado sabendo o que eu tinha na mão, eles também viram alguns blefes meus em situações parecidas com essa. Todas essas mãos foram determinantes para o desenrolar da Parte II desta coluna.


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