EDIÇÃO 75 » COLUNA NACIONAL

Sistema Complexo


Fábio Eiji

Para muitos dos leitores e leitoras, jogar pares pequenos (2-2 a 7-7) pode parecer um tanto complicado. Em minha experiência, em torneios ao vivo e online, noto que é característica marcante de jogadores menos experientes jogarem de maneira equivocada esses tipos de mãos, pagando apostas ou reaumentando quando não deveriam.

Neste artigo, pretendo mostrar os conceitos que embasam as estratégias básicas e, dessa forma, desmistificar alguns paradigmas do jogo com pares pequenos.

IMPLIED ODDS
Este é um conceito fundamental, especialmente utilizado no jogo com pares pequenos, que vai definir se você deve ou não pagar um raise pré-flop.

As implied odds, diferente das pot odds, dizem respeito às odds implícitas, ou seja, as odds de apostas futuras. Para estimar as implied odds em uma mão, levamos em consideração dois pontos principais:

1) O tamanho dos stacks envolvidos.

2) Aspectos subjetivos do perfil do vilão que enfrentamos. Por exemplo, a tendência do vilão a dar calls nas streets futuras quando acertamos uma grande mão ou completamos um draw.

Ou seja, este conceito norteia qualquer ação que tomamos pensando nas próximas streets, principalmente quando temos draws.

No caso dos pares pequenos, há alguns anos, recomendava-se que o Herói tivesse no mínimo 10-para-1 em implied odds — ou seja, um stack efetivo de 10 vezes o valor da aposta do vilão para trás — para que um call pré-flop com pares valesse a pena, considerando que vamos acertar a trinca, mais ou menos, uma a cada oito vezes.

Porém, com a evolução do poker, atualmente, os ranges são muito mais fracos, e os jogadores mais competentes, de maneira que fazer um set no flop já não garante um grande pote com uma frequência tão alta. Por isso, há um consenso entre os grandes jogadores de que as implied odds devem ser muito maiores. Alguns falam em 20-para-1, outros, até mais.



PAGANDO RAISES
Quando pensamos em um call, há muito mais questões envolvidas do que somente as implied odds. Por exemplo, em uma mesa agressiva, com uma frequência alta de 3-bets e squeezes, nada garante que um flat call com um par pequeno nos levará a um flop. Por isso, além de boas implied odds, é necessário que tenhamos uma boa posição e uma dinâmica favorável, pois, do contrário, corremos o risco de apenas adicionar dinheiro morto ao pote — já que são raras as situações em que um segundo call, em um squeeze, por exemplo, será matematicamente viável.

Portanto, com pares pequenos, o ideal é pagar raises pré-flop quando temos grandes stacks envolvidos, uma boa posição ou uma mesa tranquila. Pagar com pares em posições finais da mesa, no small e no big blind é muito melhor do que o fazer no começo ou meio da mesa. Dar calls no início do jogo (early game), ainda nos primeiros níveis de blinds, é também uma opção muito melhor do que em retas finais.

ABRINDO RAISES
Um erro ainda mais comum do que dar calls erroneamente é abrir raise quando não deveria. Os pares pequenos são mãos que acertam o flop pouquíssimas vezes e tendem a ter péssima equidade para os moves pós-flop. Isso significa que o Herói se colocará em situações bastante complicadas depois do flop, tendo que executar grandes blefes ou calls heroicos, quando na verdade deveria apenas ter dado fold pré-flop.

As melhores situações para abrir raise com pares são as que estamos jogando deep, ou seja, com mais de 50 bbs efetivos. Sim, efetivos! Não adianta termos 50 bbs se a mesa tem 15, pois nossa mão perde bastante valor. Portanto, em mesas não muito difíceis, podemos abrir raise com pares de quase todas as posições em early game. Recomendo apenas que o leitor tenha cautela ao jogar em EP (early position).
Já com stacks entre 30 e 40 bbs, abrir raise com pares pequenos em EP não é recomendável. O ideal é abrirmos o pote em LP (late position) e, muitas vezes, colocar esse tipo de mão no nosso range de 4-bet-allin contra jogadores agressivos.

Com stacks menores que 20 bbs, contra raises de jogadores em LP, devemos utilizar os pares pequenos no nosso range de resteal. Além do mais, em diversas situações, será mais valioso abrir de all-in do que com um raise. Por exemplo, temos 15 bbs no BTN e 5-5, com o SB e o BB tendo o mesmo stack. Aqui é muito melhor ir all-in para não deixar que mãos do tipo como T-J, Q-J e A-5, por exemplo, tentem um resteal e tenham uma boa equidade contra nós.



STACKS CURTOS
Com menos de 40 big blinds, geralmente, será errado dar call com pares pequenos. Isso acontece porque a frequência com que trincamos e extraímos o máximo de valor não compensa as outras vezes em que não acertamos o flop e temos que simplesmente dar fold para uma 3-bet. Por isso, com essa faixa de stack, são raras as situações de flat call.

Porém, isso não significa que eles sejam inúteis. Com stacks de até 20bbs, por exemplo, os pares são excelentes mãos pra resteal, já que têm uma equidade muito boa contra um range padrão de call. Ao contrário do que muita gente pensa, um 22 é muito melhor que um KJ para esse tipo de jogada.

Já com stacks entre 30 e 40 bbs, muitos jogadores têm pares pequenos em seus ranges de 3-bet light, ou seja, os reraise por blefe. Para o leitor mais inexperiente, não recomendo jogar os pares assim, já que, executada da maneira errada, podemos ficar comprometidos com o pote, pois muitas vezes os pares terão uma equidade suficientemente boa, compensando as pot odds que recebemos.




NESTA EDIÇÃO



A CardPlayer Brasil™ é um produto da Raise Editora. © 2007-2024. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo deste site sem prévia autorização.

Lançada em Julho de 2007, a Card Player Brasil reúne o melhor conteúdo das edições Americana e Européia. Matérias exclusivas sobre o poker no Brasil e na América Latina, time de colunistas nacionais composto pelos jogadores mais renomados do Brasil. A revista é voltada para pessoas conectadas às mais modernas tendências mundiais de comportamento e consumo.


contato@cardplayer.com.br
31 3225-2123
LEIA TAMBÉM!×