EDIÇÃO 74 » MISCELÂNEA

Jogos Mentais: Blefar ou não Blefar? Eis a questão

Com Jonathan Little, Todd Brunson, Darryll Fish e Andy Frankenberger


Redação
Diferentes pontos de vistas, uma mesma situação. A complexidade do poker impressa em algumas páginas. Nesta edição, os segredos para usar uma das artes mais plásticas e importantes do jogo: o blefe.

Quais são os maiores erros que os jogadores inexperientes cometem na tentativa de um blefe?
Jonathan Little: Para que o seu blefe seja bem-sucedido, é preciso fazer o seu oponente pensar que você tem uma mão forte. Geralmente, você não deve tentar representar o nuts —já que o nuts é difícil de ser feito — mas, sim, algo como top pair ou dois pares. Na maioria das vezes, faça apostas médias, como se quisesse ser pago. Jogadores com menos experiência tendem a disparar grandes apostas aleatoriamente, esperando com isso levar o pote.

Todd Brunson: O blefe não é algo ocasional, por isso é tão difícil de se ensinar. A continuation bet e a tentativa de levar o pote em posição não são mais segredos. Na verdade, mesmo os jogadores mais fracos já estão familiarizados com essas jogadas. Isso não quer dizer que elas devem ser abandonadas, mas apenas devemos saber o momento certo de utilizá-las.

Andy Frankenberger: Um erro comum é não contar uma história consistente. Os melhores blefes são aqueles que constroem uma história embasada durante as streets jogadas. Por exemplo, um jogador aumenta do UTG com KQ. O flop vem A59. Neste caso, você pode usar a continuation bet e disparar um segundo tiro no 4 que apareceu no turn, representando um Ás com um kicker decente. Porém, se o river é um Dois, um jogador inteligente não apostará novamente, pois a história da força da sua mão perde o sentido, já que um Três é uma carta que dificilmente estará no range de raise e second barrel do UTG. Um jogador amador pode ver nesse bordo uma boa oportunidade de fazer uma grande aposta, sem perceber que um jogador experiente juntará as peças e perceberá que, dificilmente, haverá valor no range de mãos do UTG que aposta nesse river. Resumindo, os melhores blefes são aqueles que fazem sentido não apenas na street em que acontecem, mas também em todo o contexto em que ele foi preparado previamente.

Darryll Fish: O maior erro que vejo é tentar blefar em situações nas quais você não terá muita credibilidade. Basicamente, a história contada durante a mão não tem consistência. Um exemplo comum seria dar check-call em duas streets no bordo J1034, esperando por um flush, e então sair apostando quando um Seis preto aparece no river. Com uma mão pronta, a maioria dos jogadores pediria mesa novamente, para induzir um blefe de um draw que não bateu. Nesse caso, você será pago por qualquer coisa melhor do que a sua mão ou será blefado pelo seu oponente. Outro erro comum está no tamanho da aposta. Ninguém dará fold em uma boa mão tendo odds de 5-para-1 no river. Você deve estar disposto a se comprometer com a jogada – e isso, muitas vezes, significa arriscar muitas fichas para fazer tudo funcionar.

Você poderia descrever algumas situações, tipos de bordos ou perfis de jogadores que você procura quando quer tentar um grande blefe?

Jonathan Little: Para cada jogador existem situações em que os blefes funcionarão bem. Por exemplo, alguns jogadores nunca darão fold em um bordo do tipo 9-8-7-6-2, se eles acertarem um par, já que eles veem aí uma ótima oportunidade de blefar. Outros, no entanto, a não ser que possuam uma sequência, sempre optarão pelo fold. Outro exemplo: se você apostar nas três streets, em um bordo K-7-6-3-2, algumas pessoas podem não dar call com K-Q por acreditarem que você tem algo como A-K, trincas etc.; porém, alguns nunca largarão top pair com o segundo kicker, o que, para eles, é uma boa mão. Blefar não é simples como "vou apostar neste bordo porque ele é scary (que assusta, que completa um ou mais draws, coordenado)". Na verdade, você tem que descobrir o que o seu oponente acha scary e então usar isso a seu favor.

 Todd Brunson: Quantos jogadores viram o flop? Qual a textura do bordo? Quão agressivos são os jogadores que ainda estão na luta pelo pote? Eles gostam de aplicar o check-raise? Eles são calling stations (dão fold com uma frequência muito menor do que os outros jogadores)? Essas são as perguntas que você deve fazer. Veja, se você aumenta, recebe três call e o bordo vem J105, uma c-bet sem ter uma mão boa é, basicamente, jogar dinheiro no lixo. Você será pago na maioria das vezes, isso se não aumentarem a aposta. A questão não é apenas desperdiçar fichas, mas também perder a chance de ganhar uma carta grátis no turn. Contra um ou dois jogadores, provavelmente irei apostar em qualquer flop e também irei apostar em bordos secos como J62, mesmo contra três jogadores. Seu oponente é um bom e sólido jogador? Contra ele, se você vem jogando tight, então terá algum crédito quando quiser representar uma boa mão. No entanto, um jogador fraco pode não se importar ou não estar prestando atenção à maneira como você vem jogando.

Andy Frankenberger: Os jogadores recreativos, que assistem poker na TV, devem achar que o blefes — os grandes blefes — são muito mais parte do jogo do que eles realmente são. Na TV, eles mostram com frequência blefes espetaculares, porque isso é divertido de se ver, mas não mostram 99% das mãos que levaram aquela jogada a ser bem-sucedida. Acredito que as pessoas têm mais chances de vencer torneios jogando grandes potes com boas mãos do que executando grandes blefes a todo o momento. A melhor chance de aplicar um grande blefe é quando você conhece bem o seu adversário e, tão importante quanto, sabe qual a imagem que ele tem de você.

Darryll Fish: De um modo geral, você irá blefar quando não tem expectativas de ganhar no showdown, mas ainda assim pode representar várias mão de valor. Isso dependerá da textura do bordo e da linha que você tomou para apostar. O melhor momento para fazer um grande blefe é quando você acredita que o seu oponente tem um range de mãos bem amplo e não pode pagar com a maioria das mãos que estão nele. Um bom exemplo, se você aposta nas três streets em um bordo 9-8-6-J-A, que não completou um flush, há vários draws ou mãos como par e flush draw que deram call no flop e no turn, mas que provavelmente não vão pagar uma grande aposta no river. Blefar está relacionado a cada jogador, mas algumas pessoas odeiam dar fold. É uma questão de conhecer os jogadores na sua mesa e tirar vantagem dos seus hábitos ruins. Outro princípio básico, que parece óbvio, mas merece ser lembrado: em condições normais, quanto maior o stack do seu oponente, maiores as chances de você ser pago. Outra reação que observo, menos óbvia, é que quando os jogadores acabam de ganhar um bom pote, eles têm mais desapego às novas fichas ganhas – então, aqui não é uma boa hora para blefar.

SOBRE OS JOGADORES

Jonathan Little
O dono do FloatTheTurn.com já ganhou cerca de US$ 5,5 milhões em torneios e é profissional do site Ultimate Poker. Ele também escreveu a trilogia Segredos dos Torneios de Poker Profissionais (Vol. I lançado no Brasil pela Raise Editora).

Andy Frankenberger
Jogador do Ano do World Poker Tour em 2011, Andy possui dois braceletes da WSOP. Até 2010, ele era um investidor de sucesso em Wall Street.

Todd Brunson
Filho da maior lenda viva do poker, Doyle Brunson, Todd é conhecido por frequentar as principais mesas de cash game high stakes de Las Vegas.

Darryll Fish

Entre mesas finais do WCOOP e do WPT, ele acumulou mais de US$ 2.000.000 em premiações. Neste ano, ele foi o terceiro colocado no Evento #2 [$5,000 NLH 8-handed] da WSOP, feito que lhe rendeu uma premiação de US$ 215.000.


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