EDIÇÃO 72 » COLUNA NACIONAL

Usar ou não usar softwares de estatísticas?

Dilema Shakespeariano


Fabio Eiji

No artigo de hoje, pretendo introduzir um assunto de bastante interesse dos jogadores iniciantes: softwares de análises e estatísticas.

Esses tipos de programas armazenam, processam e exibem informações sobre adversários de acordo com a base de dados, que é formada pelos histórico de mãos que o jogador possui em seu computador. O Hold'em Manager e o Poker Tracker são os softwares mais utilizados.

Há tempos discuto com amigos a verdadeira importância e efetividade no uso de tais softwares auxiliares, já que existem jogadores muito bons que abdicam deste tipo de auxílio, e cheguei a algumas conclusões a respeito.

Em primeiro lugar, a maioria dos jogadores vencedores que não usam esses tipos de programas costumam jogar poucas mesas simultâneas. Além disso, os melhores jogadores ainda têm uma habilidade especial em perceber e interpretar detalhes de maneira a explorar as fraquezas dos oponentes dentro daquela determinada dinâmica. Porém, de maneira geral, quando se joga muitas mesas simultaneamente, essa habilidade fica um tanto comprometida – e  algumas tendências dos adversários podem passar despercebidas. Ou seja, se você não é um gênio, mas pretende jogar muitas mesas, recomendo fortemente a utilização de um software auxiliar, como o HM, senão correrá o risco de ficar um tanto perdido em relação ao perfil dos jogadores que você enfrenta. Além disso, o HM também é um ótimo método de estudos, no qual podemos analisar nossas próprias estatísticas e inclusive compará-las com as de outros jogadores.



Vamos analisar as principais informações que o HUD (Heads-Up Display) nos fornece:

VPIP/PFR

Estas são as mais básicas. Dizem respeito à porcentagem de mãos jogadas. VPIP significa Voluntary Put Money in Pot, ou seja, mostra a porcentagem de vezes em que o jogador entrou na mão sem ser obrigado (como no big blind ou small blind). PFR é a sigla de PreFlop Raise, e diz respeito às mãos que o vilão jogou agressivamente, abrindo raises. Quanto maior for a diferença entre as duas, mais passivo tende a ser o vilão. Por exemplo, alguém que joga 18/15 costuma entrar de raise na maioria das mãos que joga, diferente de alguém que joga 20/11; este tende a dar mais calls (inclusive limps).

 

3-BET/FOLD TO 3-BET

Autoexplicativo. Dentro da amostragem, mostra a tendência do jogador a aplicar 3-bets (reraises), e como reage quando enfrenta uma. Mas atenção, esta estatística, diferente do VPIP e PFR, precisa uma amostragem maior de mãos para que seja confiável. Se, por exemplo, o adversário recebeu boas mãos em poucas órbitas, suas estatísticas apontarão um jogador agressivo, mas isso não significa que o vilão necessariamente tenha esse perfil.
Uma dica importante é prestar atenção na tendência de 3-bets por posição. Geralmente, a porcentagem de 3-bet aumenta conforme as posições chegam ao final da mesa. Isso significa que a maioria dos jogadores têm uma porcentagem de 3-bet bem maior no BTN do que nas posições inicias (EP - early position). Obviamente, com mais pessoas a agir, a tendência é jogar mãos mais fortes quando estamos em EP.

 

CONTINUATION BET/FOLD TO CONTINUATION BET

Também é autoexplicativo. Mostra a tendência do jogador em fazer continuation bets (apostar no flop depois de ter dado raise pré-flop). Essa informação é muito importante, pois nos mostra se o range que estamos enfrentando é realmente forte e, no caso de sermos os agressores, nos ajuda a manipular o tamanho das apostas para extrair valor ou blefar. Se enfrentamos um jogador com tendências altas a cbets, é interessante:

1) Analisar também a porcentagem de cbet turn, para podermos reagir corretamente no flop e construir um plano para o restante da mão.
2) No caso de se mostrar muito agressivo nas próximas streets, fortalecer o range com o qual o enfrentaremos.

Já quando somos os agressores, podemos fazer apostas cada vez menores à medida que a porcentagem de fold to cbet do vilão aumenta. Isso pode lhe economizar preciosas fichas quando estiver blefando.

 

 

STEAL

Aqui temos a porcentagem de mãos que o vilão aumentou quando todos deram fold até ele nas posições finais (CO e BTN). Essa informação também é valiosa, principalmente para nos ajudar a reagir dos blinds. Quanto maior a porcentagem de steal, que literalmente significa roubar, maior também será nosso range de call ou 3-bet no small blind e no big blind.

Essas são as principais estatísticas para quem está começando a usufruir de um software de análises. É claro que o Hold'em Manager e o Poker Tracker têm muito mais ferramentas e informações a serem exploradas, tantas que mal caberiam apenas em um artigo. Não esqueça de utilizar os softwares constantemente para analisar seu próprio jogo. Ele pode denunciar leaks (falhas) que não conseguiríamos perceber sozinhos. Podemos constatar, por exemplo, se estamos jogando de maneira muito tight no começo do torneio, aplicando muitas cbets etc. Além disso, podemos, inclusive, analisar as estatísticas de nossos adversários, procurando fraquezas as quais possamos explorar.

Atualmente, considero um erro abdicar desses programas. Eles estão cada vez mais complexos, funcionais e com o custo baixo, comparado com os seus benefícios. Para jogadores que jogam em limites mais baixos (micros), há versões ainda mais baratas.

Lembre-se, é importante manter-se atualizado sobre o uso de tais ferramentas e do papel fundamental que elas desempenham no desenvolvimento do jogador.




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