(MARCELO LIMA - BELO HORIZONTE, MG)
Os blinds estavam em 50/100, e um jogador do meio da mesa anunciou um raise para 400. O BTN pagou, e a ação chegou até mim no big blind, que já tinha colocado uma ficha 100. Eu queria dar apenas call e joguei uma ficha de 500 na mesa, sem retirar a de 100, mas o diretor do torneio me obrigou a dar o raise mínimo, de 700. Eu sei que jogar apenas uma ficha, sem verbalizar a ação, significa call. O fato de eu já ter um ficha de 100 na mesa (o small blind) muda essa configuração? Quero dizer, a minha ficha, correspondente ao BB, já não seria parte do pote, ou seja, ela já não me pertencia mais, certo? Sendo assim, acredito que eu não deveria ser obrigado a dar o raise mínimo.
Olá Marcelo,
Nesse caso relatado, o diretor do torneio agiu da maneira correta. Vamos entender:
Em primeiro lugar, todas as fichas colocadas no pote pertencem, realmente, ao pote. Quando você tinha uma ficha de 100 colocada no pote, isto significa que este valor do seu stack já estava comprometido. Isso não quer dizer que aquela ficha, fisicamente, não possa ser trocada por outra mas, sim, que, no mínimo, as 100 unidades já são do pote.
Agora, sobre ter que dar o raise ou não, temos que observar que existe uma confusão comum que alguns jogadores fazem, entre o call com uma ficha de grande valor e a aposta com múltiplas fichas.
No regulamento do BSOP, regra #43 [Apostas Com Ficha De Valor Grande], o texto diz: “Jogar uma única ficha de grande valor será considerado um pagamento (call) se o competidor não anunciar que é um aumento antes de a ficha tocar a mesa”. Contudo, esta regra só é válida se não existir nenhuma aposta ou fichas à sua frente, e se você jogou uma ficha de valor elevado sozinha na mesa.
Quando utilizamos mais de uma ficha (que foi o seu caso), a não ser que todas as fichas sejam do mesmo valor (o que não foi o seu caso), sempre que o valor superar 50% do raise mínimo, a direção entende que houve a intenção de aumentar a aposta e, portanto, obrigará o jogador a completar o aumento.
Caso as fichas fossem de igual valor, seria observada a regra #44 [Utilização De Múltiplas Fichas De Um Mesmo Valor]*. Portanto, caso a situação volte a ocorrer, o que você deve fazer é retirar a sua ficha de 100 antes de colocar a outra de 500.
*Sempre que enfrentamos uma aposta, a não ser que um aumento seja declarado, a utilização de várias fichas do mesmo valor em uma aposta será considerada um pagamento se a remoção de uma das fichas deixar um valor inferior ao do pagamento. Exemplo, pré-flop, com blinds 200-400: o Jogador A aumenta para 1.200 (aumento de 800). O Jogador B coloca duas fichas de 1.000, sem declarar um raise. Isso será um pagamento, pois ao retirar uma ficha de 1.000, restaria apenas outras ficha de 1.000, valor menor do que o necessário para pagar os 1.200.
(LUCAS COSTA – BELO HORIZONTE, MG)
Minha dúvida é sobre a regra da famosa "falinha" na mesa. Nos torneios ao vivo que jogo, a falinha é coibida pelos dealers e diretores. Porém, quando vejo jogadores como Daniel Negreanu na TV, eles não param de conversar por um minuto. No LAPT São Paulo, inclusive, que o Negreanu jogou, ele conversava a todo o momento na mesa. Afinal, é permitido conversar na mesa ou não?
Olá Lucas,
Este é um dos pontos mais polêmicos e debatidos no mundo do poker e existem diferentes formas de se encarar ao abordar as falas na mesa.
Hoje, a recomendação da ADTP e o padrão que o BSOP segue é a de que não é permitido falar sobre a mão que está acontecendo no momento. Não significa que a mesa tenha que estar em silêncio. O poker é um jogo sociável, e uma das partes mais prazerosas é justamente fazer amizades e conhecer novas pessoas. Então, desde que não se comente sobre uma mão que está acontecendo, não existe problemas em conversar à mesa.
Existe realmente um seleto grupo de jogadores de poker que possui uma magnífica habilidade em extrair informações de outros jogadores ao conversar com eles. Daniel Negreanu é, sem dúvidas, o principal expoente deste grupo e, obviamente, o maior defensor de se poder fala livremente à mesa.
Contudo, saindo do meio de altíssimo nível disputado por figuras como Negreanus, Iveys e Hellmuths, a "falinha" mais atrapalha do que ajuda. No dia a dia dos torneios, diretores de torneios do mundo todo verificaram que o número de problemas, discussões, mal-entendidos e confusões à mesa diminuem vertiginosamente (ou tornam-se quase inexistentes) à medida que os jogadores não podem mais falar sobre a mão que está acontecendo. Esse fato também acelera o andamento da disputa e torna o jogo mais dinâmico e proveitoso para todos.
Além disso, é preciso entender que a mesa da TV dos maiores torneios é uma instância à parte. Tudo o que acontece na mesa televisionada é destinado a fazer um bom programa de televisão, portanto, é natural que se permita relaxamentos na aplicação de algumas regras para que se tenha uma transmissão mais agradável e emocionante.
A maioria dos jogadores de poker – me arrisco a dizer que mais de 90% - pertence a categoria dos jogadores amadores e recreativos. Isso significa que dificilmente terão qualquer benefício com uma regra que permita que se fale livremente à mesa.
A WSOP possui uma regra complicadíssima e muito criticada pela comunidade internacional de diretores de torneios. A regra deles diz que é permitido falar sobre a mão se:
• Você estiver heads-up na mão.
• For a sua vez de agir.
• Não reabrir a ação para o outro oponente (só pode dar call ou fold).
• O oponente não pode responder.
Vejam que esta regra tem tantos pré-requisitos, justamente, porque a WSOP entende que a "falinha" pode ser danosa para a disputa. É uma regra que beneficia um grupo muito específico de jogadores – acredito que bem menos de 5% de todos os jogadores. Só que, de tão complexa, ela não chega a ser aplicada corretamente, pois mesmo os dealers não entendem ao certo o seu funcionamento. Em resumo, é quase impossível, em um torneio de grande porte, aplicar com eficácia uma regra como essa.
Portanto, continuo defensor do ponto de vista de que a "falinha" indiscriminada é muito mais prejudicial à disputa e que não deve ser permitida.