EDIÇÃO 7 » ESTRATÉGIAS E ANÁLISES

Cada caso é um caso


Raul Oliveira

Todos os que jogam poker já há algum tempo, ouviram a fatídica pergunta vinda de um iniciante: “De KJ na terceira posição da mesa, como você joga?” Claro que o KJ aqui é apenas um exemplo, e esse jogo poderia representar diversas outras mãos marginais que deixam os iniciantes com dúvidas sobre o modo jogar. Mas é com base no KJ que vou escrever este artigo.

O que quero mostrar aqui é que essa pergunta vai de encontro ao lado mais belo do hold´em, que é o fato de, num jogo tão matemático, não existir uma fórmula vencedora e muito menos uma jogada correta padrão. 

Abaixo analisarei KJo em quatro situações, todas elas no contexto de um suposto torneio, cujo buy-in seja, digamos, $100, e restarem 40 jogadores, do quais 30 serão premiados. O torneio teve 320 inscritos, que começaram com um stack de 5K cada, logo, entre os 40 jogadores restantes a média de fichas se encontra em 40K. As mesas são compostas por 10 jogadores e você está na posição UTG+2, e os blinds estão em 1000-2000, com antes de 200.

Situação 1

Neste primeiro exemplo você é o chip leader do torneio, com 125K em fichas. O nível da mesa é fraco e você está com o controle da mesma, por isso, penso que um raise de 2,5x blinds seja eficaz. Afinal, nessas condições, esse valor é suficiente para roubar o pingo ou extrair informações dos adversários.

SB – 14K
BB – 39K
UTG – 54K
UTG+1 – 38K
VOCE – 125K
M1 – 63K
M2 – 28K
L1 – 41K
CUTOFF – 52K
DEALER – 33K


Situação 2

Desta vez você se encontra em uma mesa extremamente agressiva, na qual, por várias vezes, quem abriu com raise tomou reraise. Aqui, a melhor a jogada a meu ver é dar fold, pela proximidade da bolha, e, dada a quantidade de fichas dos adversários que jogam depois de você, a chance de tomar um all-in é muito grande. Além disso, como com KJo não poderá pagar, acredito que o melhor seja largar a mão e esperar por uma situação melhor.  

SB – 14K
BB – 39K
UTG – 54K
UTG+1 – 38K
VOCE – 40K
M1 – 63K
M2 – 28K
L1 – 41K
CUTOFF – 52K
DEALER – 33K

Situação 3

Neste caso a melhor jogada é entrar de all-in. Com 22K em fichas, você está bem apertado e o pote está grande, com 5K rm fichas (quase 25% do seu stack). Por isso, um KJo aqui é mais do que suficiente para se colocar todas as fichas. Dar raise aberto não parece ser o movimento ideal, já que mãos como AT, AJ e KQ podem entrar de all-in por cima – sendo que, dentre as três, a única que deve pagar, dependendo do adversário, é o AJ.


SB – 14K
BB – 39K
UTG – 54K
UTG+1 – 38K
VOCE – 22K
M1 – 63K
M2 – 28K
L1 – 41K
CUTOFF – 52K
DEALER – 33K


Situação 4

Você está numa mesa extremamente “bailarina”, ou seja, os jogadores gostam de ver flops e muitos call são dados em posição. Para você é interessante roubar o pingo e, nesse caso, um raise um pouco mais forte parece ser o melhor movimento. Aumentar para 7K mostraria força aos adversários e faria com que mãos marginais dessem fold – o pingo seria seu na maioria das vezes. 


SB – 14K
BB – 39K
UTG – 54K
UTG+1 – 38K
VOCE – 60K
M1 – 63K
M2 – 28K
L1 – 41K
CUTOFF – 52K
DEALER – 33K


Essas situações acima são apenas algumas dentre as milhares possíveis, e mostram o quanto qualquer variável do jogo influencia em sua decisão. Por isso, antes de pensar o que fazer numa determinada circunstância, analise o que afeta a sua escolha. Assim, você começará a treinar seu cérebro para raciocinar em função de todas essas condições, e nunca sobre suas próprias cartas.

Por exemplo, imaginemos uma mesa em que quase todos os raises abertos ou levam o pingo ou tomam all-in por cima: nesse caso, abrir raise com KJo ou 82o dá no mesmo, já que, em ambos os casos, se voltarem all-in, você largará. Dessa forma, em uma mesa como essa, as variáveis “posição” e “quem são os blinds” se tornam mais relevantes do que “suas próprias cartas”.

Como conselho, sugiro que pensem (e botem num papel) todas as variáveis relevantes para sua decisão em uma determinada jogada, e passem a analisar as mãos em função delas. Com certeza seu índice de decisões acertadas subirá, assim como seu desapego às próprias cartas.

Um grande abraço!




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