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Punta del Brasil

Portalegrense Marcelo Fonseca supera profissional do PokerStars em heads up e traz o segundo título do Latin American Poker Tour para o Brasil.


Marcelo Souza
Alguma coisa diferente estava guardada para Punta del Este. Algumas semanas antes do início do evento, os Team Pros André André Akkari e José “Nacho” Barbero divulgaram um desafio no melhor estilo Brasil x Argentina: qual país colocaria mais jogadores na etapa do Uruguai.

Com a “confiança” que é característica dos hermanos, “Nacho” tirou onda e deu uma vantagem para o adversário. A aposta seria de US$ 4.000 do argentino contra US$ 2.000 de Akkari.

O maior ídolo do esporte mental brasileiro não perdeu tempo e iniciou uma campanha fortíssima para que os feltros uruguaios fossem invadidos pelos jogadores tupiniquins. E deu certo.

Dos 375 inscritos para a segunda etapa da 5ª Temporada do LAPT, 110 carregavam as cores verde e amarela. Definitivamente, Akkari sentiu-se defendido ao andar pelas mesas e ver que entre essa centena de jogadores estavam nomes do calibre de Caio Pessagno, Felipe Mojave e João “INeedMassari” Simão.

Com as fichas no pano, o Brasil conseguiu se destacar no primeiro dia. Apesar de não colocar nenhum jogador entre os dez que acumularam mais fichas, dos 245 sobreviventes, 72 eram brasucas.

No Dia 2, como esperado, muitas baixas. Cássio “cassiopak” Kiles, Alessandra Braga e Stetson Fraiha foram alguns dos que ficaram pelo meio do caminho. Ainda assim, o número de brasileiros restantes era bastante animador, 22 – quase um terço dos 76 jogadores que voltariam para o Dia 3.

Junto com o terceiro dia de torneio, veio o estourou da bolha. O panamenho Bolivar Palacios acabou caindo na 57ª posição, e para o mais doloroso dos coolers: reis contra ases.

No duelo além dos feltros, as coisas pareciam caminhar bem para André Akkari. Apesar de estar de fora da competição, o Team Pro ainda tinha 19 “cavalos” correndo por ele. Mas o que parecia um sonho tornou-se um pesadelo. Um a um os brasileiros foram caindo – e quando a mesa final foi formada, os argentinos dominavam, quatro deles contra apenas dois dos nossos.

Com a aposta perdida, restou a Akkari torcer pelos gaúchos Marcelo Fonseca e Francisco Baruffi. Eles eram o Brasil na mesa final.


MESA FINAL
Era difícil dizer quem seria o campeão. Entre os finalistas estavam jogadores experientes como o Team Pro e detentor de bracelete Angel Guillen, o uruguaio Pablo Melogno, quarto colocado no Torneio Milionário do Conrad 2010, e o próprio Marcelo Fonseca, primeiro jogador brasileiro a chegar por duas vezes em uma mesa final de LAPT. Além deles, Guido Ruffini e Ivan Luca, ambos da Argentina, tinham mais de 60 big blinds em seus stacks, e prometiam infernizar a vida dos oponentes.

Mas as coisas não saíram muito bem para a tropa de “Nacho”. Os argentinos não chegaram nem ao 4-handed.

Com os hermanos de fora, Angel Guillen mandou o único local, Pablo Melogno, para casa rapidamente. E em um embate verde e amarelo, Marcelo Fonseca, com 9-9, achou um nove logo no flop e acabou com as esperanças do A-5 de Francisco.

No heads up, apesar da experiência de Marcelo, o favorito era o mexicano Angel Guillen. Mas o que se viu na mesa foi um show do portalegrense.  Puxando pote atrás de pote, o brasileiro disparou na liderança e pressionou bastante o jogador do Stars, sempre com apostas muitas fortes.

Pressionado e cansado, Guillen finalmente cometeu um erro fatal, ao empurrar, com A-9, quase 30 big blinds depois do raise de Marcelo, que tinha A-K. O flop 10-7-J ainda deu alguma esperança aos torcedores mexicanos, mas um 2, no turn, e um 5, no river, deram o segundo e histórico título do LAPT para o Brasil. Festa verde e amarela em Punta del Este.

Resultado Final:
1.    Marcelo Fonseca (Brasil) - US$ 144.240
2. Angel Guillen (México) - US$ 126.240
3. Francisco Baruffi (Brasil) - US$ 116.240
4. Pablo Melogno (Uruguai) - US$ 60.420
5. Ivan Luca (Argentina) - US$ 46.000
6. Osvaldo Silvio Resquin (Argentina) - US$ 35.970
7. Vladimir Dobrovolskiy (Rússia) - US$ 26.770
8. Guido Ruffini (Argentina) - US$ 20.080
9. Carlos Leoncio Mironiuk (Argentina) - US$ 15.390

FICHA TÉCNICA
2ª Etapa do Latin American Poker Tour 5
Local: Mantra Resort (Punta del Este - Uruguai)
Data: 23 a 27 de maio
Buy-in: US$ 2.500
Field: 375 jogadores
Prize Pool: US$ 862.500


CURIOSIDADES SOBRE O LAPT PUNTA DEL ESTE:
– Mesmo com o título brasileiro, André Akkari perdeu US$ 2.000 para “Nacho” Barbero, já que a Argentina colocou quatro jogadores na mesa final, e o Brasil, apenas dois;
– O Brasil teve 19 jogadores In The Money, embolsando uma premiação total de US$ 348.370, valor equivalente a 40% da prize pool arrecadada.
– A TV Poker Pro fez toda a cobertura televisionada do evento e ainda teve a presença da ex-Big Brother Mayra Cardi em sua equipe de apresentadores;
– O brasileiro Fernando “VC_VEM” Araújo, finalista do Master Minds, confirmou sua boa fase em 2012, cravou o Evento #5 [US$ 1.000 Re-Entry NLHE] do LAPT e embolsou US$ 36.230.

ENTREVISTA MARCELO FONSECA
Marcelo Fonseca se tornou um dos grandes nomes do poker ao vivo brasileiro nos últimos anos. Em 2010, ele apareceu para o Brasil ao terminar na terceira colocação do BSOP realizado em Novo Hamburgo. Menos de um ano depois, terceiro novamente, mas dessa vez, no LAPT de São Paulo. De lá pra cá, o portalegrense conseguiu premiações na WSOP e em outros grandes torneios brasileiros. Mas ainda faltava o título. Faltava...

A camisa branca que você usou nos primeiros dias de torneio é a mesma que você usou no LAPT, em São Paulo, de 2011?

Sim, e eu só não usei ela no terceiro dia porque estava muito fedida (risos). Tem uma mística. Eu saí de casa e pensei, “eu preciso levar essa camisa para o LAPT”. Porque no último LAPT que eu fui, no ano passado, também em Punta, eu não levei a camisa. Nesse eu levei, e deu certo.

O que você fazia antes de ser profissional?

Eu sou formado em Administração, com ênfase em análise de sistemas. Antes, eu trabalhava na IBM, mas larguei para seguir a carreira no poker. Aquilo foi um baque para os meus pais. Foi um choque ver o filho largar o emprego para jogar poker. Isso há mais ou menos uns três anos. Hoje, graças a Deus, tudo está dando certo.

Seu primeiro grande resultado foi a mesa final no BSOP de 2010, em Novo Hamburgo. Definitivamente, seu jogo evoluiu muito de lá para cá. Como foi isso?

Realmente, depois daquele prêmio, em Novo Hamburgo, eu comecei a me interessar muito mais. Corri atrás e estudei bastante para aprimorar meu jogo. Como o poker é um esporte de inteligência e estratégia, cada vez mais, surgem adversários mais preparados. Comecei a jogar junto com amigos e aprender muita coisa importante. O Bernardo (Bedias), por exemplo, foi uma das peças fundamentais para esse crescimento.

Em 2011, no LAPT de São Paulo, você recebeu um excelente prêmio ao ficar na terceira colocação (cerca de R$ 300.000, com o acordo). Não é raro vermos jovens, não só no poker, se deslumbrarem diante de uma soma tão grande. Isso aconteceu com você também?

Infelizmente sim. Mas, hoje, eu vejo esse momento de euforia como uma coisa boa, porque aprendi com isso. Como o prêmio foi muito grande, eu, por ser mais novo, fiz muita festa, não dei muito valor ao dinheiro. Depois, fiz uma viagem para Vegas, me arrisquei em jogos azar e perdi bastante dinheiro por lá. Foi uma situação muito triste, mas serviu de aprendizado e tudo já foi superado.

E a sensação de vencer o LAPT?

Não tem como explicar. Euforia, emoção... O momento é inexplicável. Eu estou até olhando para o troféu agora (risos). Eu não acreditei, não conseguia acreditar. Pensava, “meu Deus, isso está acontecendo mesmo?”. Quando cheguei à mesa final, eu já estava maravilhado. Era um objetivo pessoal chegar à outra final de LAPT. Um sonho que se tornou realidade. Cravar então foi surreal. Óbvio que, como todo jogador, eu tinha a meta de cravar, mas era uma coisa da minha cabeça. Até quando já estávamos na mesa final, eu sabia que seria difícil. Havia jogadores excelentes no evento. E ainda teve o heads up contra o Angel. Eu nunca pensei que fosse ganhar dele. O cara é um sensacional. Foi uma coisa fora da minha realidade.



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