EDIÇÃO 59 » COLUNA NACIONAL

Nem tudo que reluz é ouro


Felipe Mojave

No artigo desta edição, vou analisar uma mão que aconteceu comigo na World Series of Poker 2012, em um evento de no-limit hold’em com buy-in de US$ 1.500.

O torneio estava no quarto nível de blind, 150-300 com antes de 25. Dois jogadores entraram de limp. Eram jogadores com idade um pouco mais avançada e que gostavam muito de ver flops, independente do tamanho de seus stacks. Minha estratégia era entrar com um raise forte sempre que isso acontecesse. Até o momento, eu vinha tendo sucesso, conseguindo que eles desistissem da mão no flop ou no turn.

Dessa vez, não foi diferente. Do button, disparei uma aposta de 1.100, com 4-3. Sem surpresa, os dois pagaram. O flop veio 3-3-4. Sim, eu tinha acertado um full. Agora, a decisão era complicada: como extrair valor se, até ali, todas as minhas continuation bets tinham funcionado?

Eu estava pensando nisso quando, para minha surpresa, o jogador do meio saiu apostando 2.000. Nesse caso, eu, que tinha 15.000 fichas restantes, tive uma tarefa bem mais simples, e apenas dei call – e minha surpresa foi ainda maior quando o jogador do UTG também pagou.



O turn foi um 5, e o bordo continuou rainbow. Meus dois oponentes pediram mesa. Agora, eu tinha que analisar qual o range de mãos que apostaria/pagaria no flop, mas desse fold no turn. Depois de pensar um pouco, cheguei à conclusão que, da maneira como eles jogaram o flop, eles dificilmente desistiriam no turn. Assim, decidi repetir a aposta de 2.000 do meu adversário, esperando ser pago e levar a mão para o river. Acredito que na gama de mãos dos meus oponentes estivessem todos os pares médios e ases fracos do mesmo naipe, como A-2, A-3, A-4 e A-5.

O river foi um 6. O UTG pediu mesa novamente, mas o senhor do meio da mesa mandou uma aposta de 4.000, em um pote de 15.750. Eu tinha exatamente 11.000 fichas. Existem diversas linhas de como jogar essa mão até o river, e acho que adotei uma satisfatória. Mas, agora, temos uma decisão mais complicada.

Vejamos o raciocínio:

– Quais são as mãos que saem apostando no river?
– Quais dão check-call no turn e tomam a dianteira no river?
– Quais apostam no flop, dão check-call no turn e saem apostando no river?

É uma situação complexa. Pelo perfil dos oponentes, ninguém daria fold com uma sequência e, eu, possivelmente, jogaria um par alto da mesma forma. Com isso em mente, a nossa decisão tende ao call ou raise-all-in, esperando ser pago por algo como 7-7 ou, menos provável, 2-2.

E por que não levarmos em conta a opção de dar fold nesse full house? Se, normalmente, os pares baixos e médios são parte predominante do range de mãos dos dois, então, há boas chances de encontrarmos um full maior, com 4-4, 5-5 e 6-6.

Discutindo a mão com o Akkari Team, em Las Vegas, Vico e Vitinho disseram que dariam apenas call. Opinião compartilhada por Thiago Decano. Já André Akkari, por acreditar que existe a chance de uma sequência ou pares médios, como 7-7, 8-8, 9-9 e 10-10, na mão dos meus oponentes, empurraria all-in para tentar extrair o máximo de valor.



Quanto a mim, acreditei que havia um risco grande de estar perdendo, mas, conforme o pensamento do Akkari, eu acreditava que o UTG também daria call. Então, se eu apenas pagasse, poderia puxar um pote grande, e, caso estivesse errado, ainda teria 23 big blinds para seguir no torneio.

Acabei dando call, e o pior cenário se confirmou. O jogador que estava no meio da mesa tinha 5-5. O UTG tinha 7-7 e, como previsto, também pagou.

Essa é uma mão muito interessante pela questão do risco x retorno e por termos a oportunidade de analisar oponentes em um torneio da WSOP.

Espero que tenham gostado da mão e que este artigo agregue bastante ao jogo de vocês.





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