Ele tem 26 anos. Em 2011, ele acumulou quase US$ 2.5 milhões em ganhos apenas nos torneios ao vivo. Na internet, mais de US$ 1 milhão. Seus resultados o colocaram no Top 10 do Jogador do Ano 2011 da Card Player, online e live – um feito inédito.
Natural de Southend, Reino Unido, Chris Moorman já ganhou mais de US$ 5.3 milhões em sua curta carreira como profissional – isso sem somar os ganhos, que não são poucos, provenientes de seus “cavalos” (jogadores patrocinados).
Apenas na World Series do ano passado, ele chegou a quatro mesas finais. Em uma delas, ele enfrentou um dos field mais difíceis do mundo, o do Evento Principal da World Series of Poker Europe (WSOPE), quando ganhou seu primeiro prêmio de sete dígitos.
UM FREEROLL, UMAS LIBRAS, UMA CARREIRA...
Moorman e sua irmã mais nova cresceram em constantes competições, mas foi Chris que ficou obcecado pelas cartas. Seu pai era seu principal tutor, e fazia com que todas as suas vitórias fossem o mais difícil possível.
"Durante minha vida, sempre tentei vencê-lo, fosse na sinuca ou no tênis de mesa", lembra Moorman. "Ele me ensinava tudo o que podia, mas assim que eu chegava a um nível que poderia vencê-lo, nós passávamos para o jogo seguinte. Eu me lembro que, com 12 anos de idade, eu era o mais jovem jogador na mesa de bridge, em que a média dos parceiros era uns 40 anos. Mas o Texas Hold’em só entrou na minha vida nos meus tempos de universitário”.
Moorman descobriu o poker durante o seu segundo ano na Universidade de Essex. Depois de abrir uma conta online, em um pequeno site de poker, ele conseguiu terminar em segundo lugar de um freeroll e ganhou £120. Era o início um bankroll.
"Jogando somente sit ‘n go (SNG), eu conseguir transformar isso em £500", conta. "Uma vez que me senti imbatível, fui para os cash games e imediatamente pulverizei minha grana. Só me restou £20. Pensei que não iria jogar poker, mas eu consegui ganhar um último grande SNG e mantive algum dinheiro na minha conta. A maioria das pessoas provavelmente continuaria jogando SNGs, mas eu estava determinado a vencer nos cash games. E, depois de quase um ano, eu já estava jogando nas mesas de 5-10".
Depois que o site em que jogava fechou, Moorman foi obrigado a migrar para o PokerStars e o Full Tilt, onde a competição era muito mais difícil.
"Eu não consegui fazer meu software de análise de dados funcionar de imediato, então decidi brincar em alguns torneios. Isso foi a melhor coisa que fiz. Os cash games no PS e FTP eram muito mais difíceis", diz Moorman. “Logo de cara, cheguei à mesa final de um dos grandes torneios de domingo. Era um sinal para eu continuar jogando”.
“Na época, eu tinha o mau hábito de jogar sem parar até transformar uma sessão perdedora em uma lucrativa. Lembro que cheguei a jogar por dois dias ininterruptos em diversas ocasiões”, revela. “Os torneios me mantinham sob controle, uma vez que, quando eu perdia, não poderia ficar gastando mais. Com os cash games, sempre havia o risco de sair da linha e perder todo o meu bankroll. Mas, jogando os maiores torneios da internet, eu só quebraria se passasse por uma fase bastante ruim e prolongada”.
Longe dos feltros, Moorman estava se saindo bem na universidade. Ele tinha notas razoáveis, mas o poker era sua verdadeira paixão. "Eu não estava me esforçando muito", admite. "Terminei a faculdade de Economia, mas longe de ter um desempenho excelente. Na Inglaterra, as suas notas influenciam a força da sua graduação. Seu eu optasse por seguir carreira, seria obrigado a começar de baixo. Assim, não foi muito difícil dar uma chance ao poker. Eu disse aos meus pais que eu tinha economizado algum dinheiro, cerca de £25.000, e que tentaria viver do jogo pelos próximos seis meses."
Sua formação acabou ajudando a evitar algumas das armadilhas que atormentam outros tantos jovens profissionais do poker que, de repente, se encontram perdidos com a "síndrome de muito dinheiro".
"Eu não sou fã de apostas", explica Moorman. "Mas gosto de ter vantagens. Qualquer coisa que eu faça com o meu dinheiro tem que ter uma expectativa positiva. O poker, de muitas maneiras, é simplesmente um investimento. Aqueles que fazem o dever de casa e conhecem o seu negócio, provavelmente, conseguirão um bom retorno para os seus investimentos. Veja todos esses eventos high rollers acontecendo. Eles normalmente não me interessam. Eu prefiro muito mais jogar um torneio grande, com bastante amadores, do que competir contra os melhores jogadores do mundo em um field reduzido. Isso pode parecer muito óbvio para algumas pessoas, mas há a coisa do ego na comunidade do poker, e muitos jogadores sentem a necessidade de provar alguma coisa."
FAMÍLIA DIVIDIDA
Moorman não teve problemas em convencer o seu pai que ele poderia ter uma carreira de sucesso no poker. O mesmo não podia dizer da sua mãe.
"O meu pai me apoiou. Acho que porque ele já gostava de jogos quando comecei. A minha mãe, por outro lado, só começou a acostumar com a ideia recentemente. No meu primeiro ano, ela sempre me enviava informações sobre vaga de empregos. A princípio, foi difícil explicar que o poker não só era uma profissão legítima como eu também poderia me sobressair nela".
O britânico ainda descreveu uma conversa engraçada que teve com a mãe, depois de um difícil começo nos torneios ao vivo. "Ela estava assistindo poker na televisão, e me chamou para perguntar por que os outros jogadores estavam usando óculos escuros. Eu expliquei que, algumas vezes, isso tornava mais difícil a leitura do jogador. Ela então me perguntou por que eu não usava óculos escuros, e eu disse que eu me sentia um tolo usando em ambientes fechados. Ela então disse que eu deveria tentar, já que eu não poderia me sair pior do que já estava me saindo. Essa é a minha mãe", conta com um sorriso.
Enquanto a mãe de Moorman ainda tinha que ser convencida da sua mais nova fonte de renda, o pai só precisou olhar os extratos bancários. "Ele sempre fazia isso, como se policiasse a minha carreira. Eu realmente estava sendo cuidadoso com o meu bankroll, e me certificava de manter registros precisos. Eu não posso me lembrar do valor exato que eu tinha ganhado depois desses seis primeiros meses, mas, nesse ponto, o meu pai estava muito impressionado, e até me pediu para ensiná-lo a jogar".
RUMO AO TOPO
Moorman então começou a sua ascensão nos rankings online. Rapidamente, estava entre os melhores jogadores do mundo. Em 2008, ele terminou o ano na 19ª colocação do “Jogado do Ano da Card Player – Online”. Em 2009, ele foi o 4º. No ano seguinte, ficou atrás de apenas Steve "gboro780" Gross, a quem ele de chama de melhor do mundo. Neste ano, apesar de ter se dedicado mais ao poker ao vivo, ele ainda conseguiu ficar entre os dez melhores.
Embora esses números impressionem, Moorman insiste que a importância dos rankings, para ele, não tinha nada a ver com ego. "Naquela época, eu queria reconhecimento”, explica. "Não porque eu desejava ser conhecido como o melhor. Eu apenas queria ter mais acesso aos outros grandes jogadores do mundo”.
E foram esses profissionais que o ajudaram a melhorar o seu jogo ao vivo. Em 2011, Moorman começou chegando à mesa final do Evento Principal do Aussie
Millions. Na World Series of Poker, foram cinco ITMs, sendo um segundo e um terceiro lugar. Meses mais tarde, ele terminou novamente em segundo, dessa vez, no evento principal da WSOP Europe, quando perdeu para Elio Fox. Embora não tenha conseguido um título, suas performances foram suficientes para colocá-lo em segundo lugar no ranking de “Jogador do Ano” da Card Player.
Moorman percorreu um longo caminho desde o seu primeiro evento ao vivo, em 2006, quando encarou a pressão que muitos profissionais do online enfrentam no período de adaptação. "O meu primeiro torneio ao vivo foi um evento paralelo de $1.500 da WSOP. Quando me sentei, apenas cinco posições estavam ocupadas, o que eu achei um pouco estranho. Depois de algumas órbitas, David Willians, Kathy Liebert e Antonio Esfandiari se sentaram. Eu estava apavorado. Realmente eu não teria chances naquele torneio. Fui eliminado muito cedo, mas disse a mim mesmo que da próxima vez eu estaria preparado. No fim do dia, estávamos todos no mesmo jogo novamente. Depois disso, eu não ficaria com medo de mais ninguém."
Mesmo não estando mais nervoso, Moorman não foi bem. Enquanto o poker online continuava a ser sua menina dos olhos, o ao vivo insistia em zombar da sua cara.
"Antes de 2011, eu bati na trave por várias vezes. Eu construía grandes stacks, mas perdia tudo em um coin flip ou bad beat. No ano passado, a variância finalmente voltou-se a meu favor. Em vez de ser eliminado na bolha da mesa final, agora eu estava chegando na liderança. Também continuei a dizer para mim mesmo que eu não precisava ganhar todos os potes. Eu definitivamente me tornei mais paciente."
Moorman também atribui o seu sucesso ao tempo que ele gasta online, o que lhe permitiu permanecer sempre atualizado sobre o jogo. "Eu não quero ser aquele sujeito que consegue algum sucesso ao vivo e
depois vê o seu jogo na internet se deteriorar", comenta. "É muito importante, não apenas para o seu bankroll, mas também o seu desenvolvimento como jogador, manter-se atualizado sobre as últimas tendências em ambos. O fato é que o poker ao vivo pode ter muitas oscilações, mas há torneios online o suficiente para equilibrar essa variância."
Foi ele quem liderou a invasão britânica no ano passado, que colocou diversos jovens e bem-sucedidos profissionais da Terra da Rainha no topo dos maiores eventos do o mundo. É esse tipo de união que faz uma série de torneios se parecer mais como uma festa do que um trabalho.
"Todos os britânicos tendem a ficar juntos, e eu acho que o último ano foi como a nossa festa de debute", analisa Moorman. "Se você olhar para 2011 , ficará impressionado com as performances não apenas minhas, mas de camaradas como Jake Cody, James Dempsey, Sam Trickett, Toby Lewis e muitos outros. Há um apoio interno incrível dentro desse time. Se um de nós for eliminado de um torneio, ele ficará na torcida, encorajando os outros a ganhar. De muitas maneiras, é como se fosse a Inglaterra contra o mundo".
SEMPRE A DAMA, AINDA NÃO A NOIVA...
Você pode ter notado um tema recorrente nesta história: Chris Moorman terminou muitas vezes em segundo lugar. Embora faça disso uma piada, ele admite que é difícil não lembrar de determinadas decisões com algum pesar. Mas, segundo ele, isso não vai diminuir as suas realizações.
"Estou me acostumando a terminar em segundo" diz em tom de brincadeira. "Não apenas fui vice na disputa de “Jogador do Ano da WSOP”, perdendo para Ben Lamb, mas também na disputa da Card Player. Para tornar as coisas piores, de alguma forma eu também terminei em segundo em dois eventos por braceletes. Isso tem sido extremamente frustrante para mim, mas, ao mesmo tempo, eu tento manter as coisas em perspectiva. O poker não é como o tênis, uma vez que você não tem um prazo de validade. Não é como eu ter perdido a final de Wimbledon, porque eu planejo continuar jogando pelas próximas cinco décadas pelo menos, o que me dará algumas centenas de oportunidades. Realmente, é apenas uma questão de tempo".
Mas Moorman foi rápido em destacar ele já venceu um torneio ao vivo.
"Acredite, eu sei o que é a vitória. No último verão, antes da WSOP, uns dois amigos meus e eu fomos jogar um torneio de £50 em um bar. Um amigo sempre diz que o sucesso gera sucesso, assim eu imaginei qual a melhor maneira de começar rapidamente o meu próprio sucesso do que vencer um evento pequeno. Eu ganhei cerca de £1.000, e levei aquilo tudo muito a sério, o que realmente me ajudou com a minha confiança pelo resto do ano. Agora, eu apenas tenho que fazer isso de novo em um grande torneio. Talvez isso aconteça em 2012".
Principais Resultados da Carreira (premiações em dólares):
Abril (2009) SCOOP - Main Event 8º Lugar $112.950
Agosto (2009) FTOPS - Evento #17 2º Lugar $204.000
Março (2010) The Sunday Brawl 1º Lugar $109.620
Janeiro (2011) Aussie Millions - Main Event 7º Lugar $174.244
Março (2011) $1K Monday 3º Lugar $235.592
Junho (2011) WSOP - Evento #26 3º Lugar $271.800
Junho (2011) WSOP - Evento #46 2º Lugar $716.282
Outubro (2011) WSOPE - Main Event 2º Lugar $1.068.690
“O Moorman é um dos jogadores mais consistentes e imprevisíveis que já vi. Desde que comecei a jogar, várias fases passaram e o cara sempre esteve ali, entre os melhores do mundo”
Marcos Sketch – Técnico da seleção brasileira de poker e um dos fundadores do time 4Bet
“Em um torneio importante, ele é a última pessoa do mundo que você vai querer em uma "guerra de level", pré-flop”
Fabiano “Kovalski1” Kovalski – Membro do 4Bet, tem mais de US$ 1.000.000 em prêmios online
“Um dos jogadores mais difíceis de enfrentar. Sabe usar muito bem sua imagem mega-loose e tira muita vantagem disso”
Rafael “Lirola” Monteiro – Membro do Steal Team, tem mais de US$ 600.00 em prêmios online
“O Moorman é um fenômeno do poker moderno. Muito agressivo e eficiente. Resumindo, o cara é um monstro!”
Ariel Bahia – Um dos melhores jogadores do Brasil tanto online quanto ao vivo.
“Consegue mixar arrojo e planejamento. Entende muito bem os fatores do jogo e erra pouco, por isso se tornou consistente, inclusive ao vivo”.
Felipe Mojave – Especialista em Mixed Games, é um dos principais nomes do poker no Brasil.
Quando colocamos “poker”, “mulher” e “Brasil” na mesma frase, é difícil que o nome de Maria Eduarda Mayrink, a Maridu, não esteja no meio. Parte da “old school” do poker brasileira, ela é uma das grandes amigas de Chris Moorman. Veja o que ela nos contou sobre o britânico:
Não vou ficar elogiando o Moorman, porque todo mundo já deve estar fazendo isso. Falando como "ele joga bem e blá, blá, blá" – isso é óbvio. Vou contar algo engraçado.
Inglês que é, ele bebe bem, feito gente grande. Há uns três anos, durante a World Series, uma noite voltando pra casa, ele adormeceu na calçada de tão bêbado, e foi preso porque estava "interrompendo o dia dos cidadãos".
No ano seguinte, ele teve que se apresentar à corte devido ao incidente e, por causa disso, não pôde comparecer ao evento da WSOP que, em 2011, ele terminou em 2º lugar (No-Limit Hold’em/Six Handed Championship). Para vocês verem como certas coisas estão escritas no destino de certas pessoas. Neste ano, ele deve ganhar o bendito evento.
E ele é cara muito divertido, mas fuma muito, e como neste ano eu parei, não vou mais ter os breaks, durante os eventos da WSOP, lá fora, fumando e rindo com ele. Não tem problema, garanto que ele ainda vai passar muitos dinner breaks aqui em casa com a gente.
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