EDIÇÃO 58 » COLUNA NACIONAL

Adote um pote

Aumente sua taxa de vitória e lucratividade no longo prazo


Diego Brunelli

Já faz algum tempo que o poker está nivelado por cima. Desde o “boom” do poker online, após o título do Chris Moneymaker no Main Event da WSOP em 2003, o esporte cresceu muito.

Fora das mesas, o poker adquiriu status de esporte e se tornou uma classe organizada e regulamentada no Brasil e em vários países da Europa. Dentro delas, houve uma grande evolução nas estratégias e habilidades de jogo.

Qualquer jogador que joga nos limites intermediários e altos, e que acompanhou essa evolução, reconhece isso. Talvez, até nos jogos mais baratos seja possível perceber essas diferenças. Cabe a nós, então, manter o esforço para estar sempre à frente da curva de aprendizado.

Bem, vou contribuir com os meus dois cents e falar hoje sobre os “potes órfãos”. Como o nome já sugere, eles são muitas vezes esquecidos; e “adotá-los” vai aumentar muito nossa taxa de vitória e lucratividade no longo prazo. Estar atento a eles é um diferencial.

O primeiro passo antes de sair à caça é entender porque eles surgem. Depois, em quais cenários. E, enfim, reconhecê-los e adotá-los, ou melhor, ganhá-los.



POTES ÓRFÃOS
Os potes órfãos surgem quando os jogadores envolvidos lutam pouco por eles. Uma de suas principais características é o seu tamanho. Normalmente são pequenos – por isso recebem menos atenção, e não há muito esforço despendido para conquistá-los.

Jogadores de Sit ‘n Go (SNG) ou de Multi Table Tournament (MTT) sabem a diferença que dois ou três blinds podem fazer nas fases finais de um SNG ou de um MTT.  Às vezes, é isso que determinará se você terá espaço para raise ou terá que já sair empurrando all-in pré-flop. Se poderá defender seus blinds ou terá que desistir por não possuir fichas suficiente para fazê-lo. E ainda se você terá fold equity ou não. Resumindo, dois ou três blinds têm o poder de mudar tudo.

Em cash games, da mesma forma, qualquer jogador sabe da importância ou até da necessidade e da diferença que faz roubar os blinds, e de como isso influencia sua win rate. No final, puxar alguns pequenos potes extras por hora pode ser a diferença entre um jogador break-even e um vencedor.

O CENÁRIO
A princípio, eles surgem em cenários passivos. Isso não quer dizer, necessariamente, que os jogadores envolvidos também sejam passivos, e sim que em determinadas situações eles se comportam dessa maneira.

Atualmente, no poker online, é muito comum que os regulares adotem um estilo tight-aggressive (TAG) quando jogam muitas mesas. Contra jogadores com essas características, que são muito mais difíceis de serem explorados em potes grandes, abre-se a possibilidade de levarmos vantagem nos pequenos. Potes com limpers ou que o small blind apenas completa a aposta tendem a ser menores também.
 
Porém, as melhores situações estão nos multi way pots, quando três ou mais jogadores pagam para ver o flop. Isso porque um TAG sempre lutará pelos potes quando estiver em heads up – com c-bets, second barrels etc. –, mas em potes com vários jogadores, ele dificilmente oferecerá resistência quando o flop for virado.



Geralmente, quando todos dão check, e na mesa só há as apostas do pré-flop, o pote será pequeno no turn. Uma situação típica é quando o flop traz cartas baixas e médias desconectadas. Como elas não acertam o range do vilão, que estará com a atenção dividida em outras mesas, nessa situação, os potes tendem a ser esquecidos ou deixados de lado.

Claro, se lutarmos por todos esses potes, eles vão deixar de ser pequenos, e o feitiço pode virar contra o feiticeiro. Então, mixar a ação e estar atento à nossa imagem é fundamental para saber o momento de tomar a iniciativa.  Mas a regra é simples: enquanto ninguém reagir à sua postura de atacar os potes pequenos, continue agredindo.

Com o tempo, vamos incorporando essa arma ao nosso arsenal. Utilizando-a na frequência adequada, ela começará a produzir resultados. 

AÇÃO E REAÇÃO
O último passo em relação a essa nova ferramenta é estar atento às consequências e efeitos do metagame. Um jogador experiente, que perceber o que estamos fazendo, certamente vai tentar tirar proveito disso e irá dar reraises blefando nessas situações. Da mesma forma, quando identificarmos jogadores utilizando essa estratégia, não podemos deixar a oportunidade passar, já que sempre haverá uma aposta extra no pote.

Claro que isso é uma variação, e esse pote já não poderá ser chamado de órfão. Mas o ideal é manter as coisas simples e não procurar esse tipo de confronto. Assim, preservamos nossa imagem e podemos continuar atacando sem que ninguém se oponha.

Portanto, fique de olho, e a próxima vez que você se deparar com um pote multi way, pequeno, sem dono e com oponentes aparentemente desinteressados, seja caridoso e leve ele para casa.



Ficou na dúvida?
Fold Equity – é a chance de o adversário desistir de uma mão diante de uma aposta sua.

Winrate – em cash-games, o desempenho do jogador pode ser medido por quantas big bets (equivalente a dois big blinds) ele ganha a cada 100 mãos jogadas. A isso, damos o nome de winrate.

Break-Even – quando um jogador não é ganhador nem perdedor no poker, dizemos que ele é break-even.
Limper – é o jogador que não deu raise, apenas pagou o valor do big blind.

C-bet – A continuation bet é uma aposta feita no flop pelo jogador que deu raise pré-flop.

Second Barrel – quando um jogador aposta no flop, a segunda aposta, no turn, é chamada de second barrel.

Vilão – É o nosso adversário na mão.

Metagame – é um termo usado para definir qualquer estratégia ou método utilizado com base em fatores que extrapolam as informações visíveis.


Diego “vgreen22” é membro do Team PokerStars Online, foi o segundo brasileiro a conquistar o status de Super Nova Elite no PokerStars.
@vgreen22 - vgreen22.net




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