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Caio Pessagno - Duas vezes ele

O ano era 2006. No ainda inóspito ambiente do poker online, alguns jogadores brasileiros já se destacavam. Um deles, entretanto, lá com seus 19 anos, ainda dava seus primeiros passos. Jogando em limites baratos, ele começava a construir o que seria a base de uma sólida carreira, e, alguns anos mais tarde, viraria referência no poker mundial. Estamos falando de ninguém menos que Caio Pessagno, que, pelo segundo ano, conquistou com folga o troféu de “Jogador do Ano CardPlayerBR”.


Marcelo Souza
O interesse pelo esporte surgiu logo que ele conheceu o poker online. Na primeira cravada, uma certeza: ele iria jogar poker pelo resto da vida. “Não foi só pela empolgação do dinheiro, mas pelo desafio vencido. Aquela sensação da vitória... só quem pratica esse esporte sabe do que estou falando”, revela.

Inspirado por nomes como Christian Kruel e Raul Oliveira, Pessagno começou a dedicar-se aos Sit and Goes (SNGs). Graças à disciplina, uma de suas marcas registradas, os resultados não demoraram a aparecer. Com gráficos impressionantes, os torneios multi-table foram lentamente sendo incorporados à sua rotina de trabalho. E, em 2010, finalmente, ele começou a se dedicar 100% à modalidade – e não se arrependeu...

Viver do poker não é fácil. Do que você abriu mão na busca do seu sonho?

Abri mão de ter uma vida comum.  Ser profissional exige muito mais do que as pessoas pensam. Meu trabalho exige dedicação e comprometimento como qualquer outro, às vezes, mais. Há dias que trabalho 15 horas. Felizmente, meus horários são alternativos, trabalho em casa, não tenho chefes etc.

Na sua entrevista do ano passado, você disse que seu pai é uma pessoa tradicional. Como é a relação com ele hoje?
Minha profissão é essa desde 2008. Mas minha família e amigos demoraram quase dois anos para entender isso. Desde o início, meu pai sempre foi contra. Mas, hoje, ele tem orgulho de dizer que o filho é jogador profissional de poker.

Você disse que não consegue ler livros porque discorda de muitos conceitos que são ensinados. Então, é verdade que seu desenvolvimento foi puramente na prática?
Muitas pessoas não acreditam, mas eu nunca li um livro sobre poker. Eu jogava muito SNGs, que, em minha opinião, é a melhor escola para se aprender. Nos SNGs, você passa por todas as situações de um torneio, porém, em uma proporção menor.

Na minha época, não havia tanta informação como hoje. Eu acompanhava alguns blogs, fóruns, mas a qualidade também não era a mesma, e não existiam coaches. Hoje está mais rápido e fácil de aprender, mas a experiência é um fator fundamental no poker.

Muito se comenta sobre o seu estilo de jogo ser pouco ortodoxo. Por exemplo, você não se prende ao conceito que com 10 big blinds você já deve sair empurrando all-in. Fale um pouco sobre isso.

Desenvolvi esse tipo de técnica jogando SNG Turbo. Com os blinds apertando rapidamente, era preciso encontrar saídas. Eu encontrei as minhas. Essa estratégia, especificamente, eu adotei por me salvar de muitas situações. Tudo depende do adversário, e confundi-lo faz parte do jogo. O objetivo é fazer diferente. Não se tornar previsível.

Esse estilo diferenciado já chamou a atenção de grandes estrelas do poker, como do campeão do Main Event da WSOP, Pius Heinz. Outros jogadores consagrados já vieram atrás de você querendo compartilhar mãos?
A rotina do online faz com que você jogue diariamente com diversos profissionais. Às vezes, eles me questionam no chat, fazem comentários, piadas. Mesmo sem conhecer esses jogadores pessoalmente, eu mantenho contato com alguns através do Skype ou facebook. E sempre que possível, trocamos informações.

Com o Pius Heinz, aconteceu no PokerStars. Estávamos na mesma mesa, quando ele me questionou sobre meu programa de coaching. Ele revelou que admira e respeita muito o meu jogo, assim como seus amigos alemães, e queria mais informações a respeito. Não satisfeito, ele ainda pediu desconto. (Risos)

Mesmo sendo um dos maiores vencedores do online, você ainda não era regular nos torneios mais caros, como o 109+R, 215+R, Sunday 500, Super Tuesday. Não jogá-los envolvia outras questões além do gerenciamento de bankroll?
Eu trabalho muito meu controle de bankroll. Jogar regularmente todos os torneios grandes da internet não é barato, e o nível dos jogadores também aumenta. Com isso, o risco do investimento é muito maior, e a variância, muito mais alta. Então, sou cauteloso e esses torneios acabam sendo coadjuvantes na minha reta.

Por que você não joga com mais frequência ao vivo?
É complicado manter uma rotina jogando online e ao vivo. Como hoje eu respiro poker online, tenho me dedicado menos ao circuito nacional. Jogar ao vivo requer muito tempo. Você sempre tem que viajar, e os torneios duram pelo menos três dias. Mais um ou dois dias de deslocamento... E no final do mês terei perdido uma semana de grind online. Para nós, profissionais, uma semana no mês é muito.

Quais a principais diferenças entre o poker online e ao vivo? Você acha que ainda terá que se adaptar para conseguir o sucesso que te consagrou na internet?
Pra mim, a grande diferença é o timing do jogo. Estou acostumado a jogar muitas mesas simultâneas. Jogar apenas uma é bem diferente. Você tem mais tempo para analisar seus adversários e a velocidade do jogo é muito menor. Mas, no final das contas, poker é poker. A fórmula para chegar ao resultado final é sempre a mesma: dedicação e disciplina. Então, tenho que me dedicar tanto quanto me dediquei na internet.

Quando vamos ver o Pessagno jogando eventos como WSOP, PCA ou WPT?
Jogar esses torneios, além de um objetivo, é um grande sonho. Mas, para este ano, apenas a WSOP pode ser um realidade. Vamos ver.

E sobre os patrocínios? É algo que você projeta?
Patrocinadores são sempre bem-vindos em qualquer esporte. No poker não seria diferente. Estou muito feliz por ser patrocinado pela grife River Poker Life Style. E, um dia, ainda quero ser profissional de algum grande site.

Em quem você se espelhou no início da carreira?
Sem dúvidas, CK, Raul (Oliveira), (Igor) Federal, (André) Akkari, (Thiago) Decano, (Leandro) Brasa e Léo Bello. Eles foram os precursores, e os primeiros grandes jogadores que o País conheceu.

No online, Grayson “spacegravy” Physioc e “The_venetian”. Eles foram determinantes para eu optar pelos SNGs e, consequentemente, a “obrigação” de fazer volume.

Quais os três jogadores de MTT que você mais admira?
No Brasil, vou citar quatro: Thiago Decano, por ser um jogador completo e vencedor online e ao vivo, há anos. André Akkari, não só por sua técnica diferenciada, mas também pelo trabalho a favor do esporte no Brasil. Christian Kruel, o primeiro que vi jogar. Dispensa apresentações. E, por fim, o Ariel Bahia. Assim como o Decano, ele tem destruído tanto no live quanto no online.

E na internet, os três primeiro que me vêm à cabeça, por conseguirem manter um volume alto, um ROI (retorno sobre investimento) excepcional e a variância baixa, são: Dean “dean23price” Price, Brian “bfizz11” Fite e “inheritance”.

Qual sua visão sobre o futuro do poker?
O poker com certeza será um dos esportes de maior destaque num futuro próximo. Em 2006, quando comecei, tudo era bem menor. As salas online operavam com um número muito menor de jogadores. No Brasil, podíamos conta nos dedos o número de profissionais.
Agora, veja hoje. A história do poker está apenas começando. Neste ano, ganhamos muitas batalhas. Nosso esporte foi reconhecido no Brasil. Quantos eventos são realizados no ano?  Temos o BSOP, maior evento da América Latina, e o Master Minds, único torneio conceitual do mundo. Então, eu paro. Penso. Olho o passado. O presente. Imagino futuro. Daqui a cinco ou seis anos, o poker será febre nacional.

Qual a sensação de conquistar o bicampeonato de jogador do ano da Card Player Brasil?
É muito empolgante ganhar pela segunda vez o título da Card Player. É uma forma de visualizar todo esforço e dedicação empenhada nesse esporte. Tenho como objetivo sempre fazer o trabalho da melhor forma possível. O topo do ranking é sempre uma consequência. Ver minha foto na capa da revista me motiva ainda mais a continuar trabalhando cada vez mais pesado.

E os planos para 2012?

Será um ano intenso. Pretendo continuar com a minha rotina online, jogar alguns dos principais torneios ao vivo e ainda ministrar palestras e treinamentos.

Todas as informações sobre o meu programa de treinamento estão no meu site:
www.caiopessagno.com.br.

Para finalizar, uma frase sobre o poker.
Eu acredito no poker e vou lutar sempre para o crescimento do esporte! 

CINCO DICAS DO PESSAGNO PARA OS INICIANTES
1.    Jogue 10.000 Sit and Goes e analise seus números. Comece pelos buy-ins menores e vá subindo de nível conforme seus resultados estiverem melhorando.

2.    Mantenha-se 100% concentrado e focado no jogo. Qualquer desvio de atenção pode lhe causar prejuízo em longo prazo.  Cuide da saúde física e mental, e tenha certeza de estar usando 100% da sua capacidade mental.

3.    Tenha um controle de bankroll impecável. Esqueça resultados imediatos. Pense em longo prazo.

4.    Seja forte. Transforme desculpas em motivação. Não ache que tudo é uma conspiração contra você. Não existe trabalho fácil para quem quer se destacar.

5.    Esteja preparado para fazer sacrifícios. Tenha a noção que os dias ruins virão com mais frequência que os bons. Que as tristezas serão mais comuns que as alegrias. Porém, o prazer da vitória irá sempre superar qualquer dificuldade.





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