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Pius Heinz Vence o Main Event 2011

“Pius Heinz?” A interrogação resume bem a reação de muitos ao saberem do resultado final. Também com razão. Pouca gente acreditava que esse jovem de 22 anos, vindo de um país sem tanta tradição no poker ao vivo, e que carregava apenas o sétimo maior stack entre os finalistas, fosse aprontar alguma coisa.


Marcelo Souza
 “Ben Lamb.” Essa era a resposta mais freqüente quando o assunto fosse o grande favorito do Main Event da WSOP 2011. E não era para menos. O norte-americano atravessava uma fase incrível. Apenas nesta edição da World Series, ele já havia conquistado um bracelete, feito outras duas mesas finais e embolsado mais de 2 milhões de dólares. De quebra, sagrou-se “Jogador do Ano da WSOP”. Difícil não apostar em Lamb.

Não seria surpresa, entretanto, se outros nomes emergissem com o título. Caso do chip leader tcheco, Martin Staszko; do grinder com nome de cantor, Phil Collins; ou do irlandês filho de ex-finalista do Main Event, Eoghan O’Dea.

“Pius Heinz?” A interrogação resume bem a reação de muitos ao saberem do resultado final. Também com razão. Pouca gente acreditava que esse jovem de 22 anos, vindo de um país sem tanta tradição no poker ao vivo, e que carregava apenas o sétimo maior stack entre os finalistas, fosse aprontar alguma coisa.

Bem, o PokerStars acreditou nele. E isso já é motivo para se prestar atenção ao garoto: nos últimos três anos, todos os campeões do Main Event traziam no peito a estrela branca cravada no naipe vermelho.

E pensar que, poucos meses antes do início da WSOP, esse jogador nascido em Colônia cogitou desistir do pano verde depois passar por uma péssima fase no poker online – coisas do destino, esse velho malandro.

E foi justamente no Main Event, que bem poderia ter sido a despedida precoce de Heinz dos feltros, que veio a redenção. É bem verdade que, alguns dias antes da formação do November Nine, ele já havia faturado um oitavo lugar no Evento #48. Seria um sinal enviado pelos deuses do poker?

Início da guerra
Com um dos menores stacks da mesa final, Heinz sabia que não poderia ficar muito tempo parado. Do contrário, seria engolido por seus oponentes. Entretanto, bastaram quatro órbitas para que ele assumisse a liderança do torneio. E sem showdown.

No maior pote até então, Heinz abre raise do cutoff e vê Ben Lamb apenas pagar do button. Mas Eoghan O’Dea acordou no big blind e reaumenta em três vezes a posta do alemão. Depois de pensar por alguns instantes, ele dá call. Lamb desiste. O flop traz 884 e o irlandês sai atirando metade do pote. Heinz paga.

O turn é um 2. O’Dea mantem a proporção e dispara metade do pote novamente. Isso faz Heinz ir para o tanque, pois essa aposta é metade do seu stack. Depois intermináveis sete minutos ele volta all-in. O’dea não precisa pensar muito antes de jogar suas cartas fora. Os gritos no salão mostravam que a disputa seria longa. Quem acompanhou a transmissão pela ESPN viu que o alemão tinha QQ e o irlandês, AQ.

A primeira eliminação aconteceu algumas mãos depois. O jogo não encaixou para o short stacked Samuel Holden, que acabou sendo eliminado por Ben Lamb.

Uma órbita depois, um embate entre os dois mais jovens da mesa. De um lado, Anton Makiievskyi, 21 anos; do outro, Pius Heinz, 22. Como se sabe, não foi dessa vez que o recorde de Joe Cada, mais jovem campeão do Main Event, foi superado. Com a eliminação do ucraniano, Heinz se consolidava como chip leader.

O próximo a cair foi o grande azarão da noite. Badih Bounahra, de Belize, era o mais velho na disputa e trazia consigo o sonho idílico de uma nação de 400 mil habitantes. Bounahra não ganhou, mas saiu de lá milionário. Em termos esportivos, foi uma das maiores conquistas desse pequeno país da América Central.

A batalha short-handed
Com a mesa reduzida a seis jogadores, a ação tornou-se insana. A cada órbita, as fichas iam de um lado a outro da mesa. Matt Giannetti acertou um full house e puxou 15 big blinds de Pius Heinz, assumindo temporariamente a vice-liderança.

A primeira bad beat veio quando Phil Collins, com cerca de 15 big blinds, empurrou all-in do button com JQ. Ben Lamb deu call do big blind com AQ. Mas quando flop e turn foram virados, Collins acertou um chamado “monster draw”. Com o bordo mostrando K5310, ele precisava de um ás, um nove, ou qualquer carta de ouros para dobrar seu stack.

Lentamente, o dealer queimou uma carta do monte. Quando uma Q pousou na mesa, a torcida do jovem grinder de 26 anos foi à loucura. Agora, o stack do favorito Ben Lamb estava reduzido a 20 big blinds.

A essa altura, com três jogadores pilotando stacks entre 20 e 25 big blinds, os resteals eram as jogadas mais comuns. Num deles, Ben Lamb se recuperou e deixou o irlandês Eoghan O’dea com apenas quatro big blinds. Depois de um confronto de A9 contra Q8, um oito fez o salão explodir novamente. De fato, aquela não era a noite do irlandês. Duas mãos depois, ele deixaria o torneio,mas certamente sob os aplausos do pai, Donnacha O’dea, que também chegou à mesa final de um Main Event, em 1983.

Em seguida, quem deu adeus ao torneio foi Phil Collins. O xará do ex-baterista do Genesis tentou um resteal contra Phius Heinz, só que o resultado, definitivamente, não foi “mais um dia no paraíso”. Entretanto, por ter chegado tão longe nesse show, Phil Collins desceu do palco dois milhões de dólares mais rico.


Com quatros jogadores restantes, a próxima eliminação significaria uma pausa de um dia para que os três últimos sobreviventes pudessem descansar e voltar revigorados para o restante da batalha.

E a noite parecia ser mesmo de Pius Heinz. Usando todo seu arsenal de jogadas, ele dominava os adversários dando raise em praticamente todas as mãos. Em certa altura, o alemão chegou a ter quase a soma das fichas dos outros três adversários. Num dos raros momentos em que se deu mal, Heinz pagou um all-in de Staszko, que acertou uma trinca e dobrou seu stack. Mas o recém-contratado do PokerStars continuou colocando pressão e rapidamente se recuperou.

Agora era Ben Lamb quem se encontrava em apuros. Com pouco mais de 20 big blinds, era dele o menor stack entre os restantes. Sua vida no torneio correu sério risco quando ele foi all-in contra Matt Gianetti. Cartas à mostra: A7 vs. J-J. O flop com K95 trouxe muitos outs extras para Lamb.

No turn, porém, um milagroso 4 fez as arquibancadas do Rio Casino quase virem abaixo. Gianetti ainda chegou a dobrar novamente, mas teve seu destino selado pelo próprio Lamb. Agora, restavam apenas três jogadores.

Quem tivesse ligado a TV dez minutos depois do início da batalha 3-handed deve ter esfregado os olhos, tentando enxergar se era verdade o que aparecia na tela. Apenas duas mãos haviam sido jogadas, e a ESPN mostrava Martin Staszko liderando com folga. E Ben Lamb, com 10 big blinds, à beira da eliminação.
É que logo na primeira mão Lamb aumentou, Heinz correu e Staszko reaumentou do big blind. O americano pensou por algum tempo e empurrou all-in. O tcheco deu call, criando um pote de 70 big blinds. Era um confronto entre KJ e 77.

Após um bordo sem nenhuma figura, a pequena torcida de Staszko comemorou como se o título já fosse da República Tcheca. Ainda mais na mão seguinte, quando ele assumiu a liderança após pegar um grande blefe de Heinz.

Duas mãos depois, já quase sem forças – digo, sem fichas – Ben Lamb caiu. Ele, que trazia consigo a marca do favoritismo, chegou muito perto do título. Esse terceiro lugar foi a coroação da brilhante temporada de Ben Lamb, que recebeu o título de jogador do ano da WSOP.

Alemanha contra República Tcheca
O heads-up começou bastante equilibrado, com ligeira vantagem para o tcheco. O que ninguém esperava é que fosse demorar tanto: foram mais de seis horas, quase 150 mãos. Jogadores, espectadores, comentaristas e narradores todos chegaram ao limite da exaustão.  “Estou completamente sem voz e com dor de garganta, mas vale a pena este esforço. Estamos abrindo muitas portas, todo esforço será recompensado!”, disse André Akkari no twitter, após a transmissão antológica da mesa final pela ESPN, que também contou com a participação dos jornalistas Ari Aguiar e Sérgio Prado.

No pano, Heinz se mostrava mais agressivo e tinha a torcida de grande parte dos profissionais ao seu lado. Staszko, porém, acertou mãos muito fortes. Foram sequências, trincas e full houses que lhe renderam a liderança por várias mãos. Isso parece ter abalado um pouco a confiança do alemão, que chegou até mesmo a questionar seu próprio jogo. Entretanto, graças à transmissão com 15 minutos de atraso, ele soube que estava largando as mãos no momento certo e, pacientemente, conseguia equilibrar, ficha a ficha, a disputa.

“Foi bom saber que cada vez que ele puxava um grande pote, realmente tinha uma boa mão. Isso serviu para eu recuperar minha confiança porque, caso ele não estivesse acertando suas mãos, significaria que ele estava jogando muito melhor que eu”, disse Pius Heinz ao término do heads-up.

Com mais de cinco horas de disputa, era claro que nenhum dos dois conseguia mais jogar seu melhor poker. E a liderança ainda estava com Staszko, quando uma mão chave aconteceu.

O tcheco entra de limp do button e paga o aumento de Heinz. O flop traz K107, e o alemão sai apostando. Statszko não pensa muito e volta reraise, deixando Heinz com uma difícil decisão a tomar. Com AQ, o alemão empurra all-in. E não deve ter gostado quando dá instacall. Para sua surpresa, o tcheco tinha apenas Q9, e precisava de uma carta de paus ou de um nove para vencer a mão. Mas turn e river foram irrelevantes, e Heinz agora tinha uma imensa vantagem.

Staszko não conseguiu se recuperar da grande fatiada, e algumas mãos depois o evento chegaria ao fim. Com isso, Pius Heinz se tornava o primeiro alemão a conquistar o título do Main Event da WSOP, levando para casa a bagatela de $ 8,7 milhões de dólares e garantindo seu lugar na história do poker.

9° - Sam Holden (US$782.115)
Com pouco mais de 10 big blinds, Sam Holden vê Ben Lamb aumentar e volta all-in com A J. Lamb dá instacall com AK e acerta o nut flush com seu rei.

8° - Anton Makiievskyi (US$1.010.015)
Makiievskyi all-in com KQ do small blind, e Pius Heinz paga do big blind com 9 9. O flop faz o jogador da Ucrânia ir à loucura quando traz K J J, mas um 9 no turn dá um full e o pote para o alemão.

7° - Badih Bounahra (US$1.314.097)
Após ser engolido pelos blinds e ter em seu stack menos de cinco big blinds, Bounahra empurra all-in com A 5 depois do raise de Martin Staszko. Sem pensar, o tcheco paga com A 9, e o bordo não traz surpresas.

6° - Eoghan O’Dea (US$1.720.831)
Quase sem fichas, O’Dea vai all-in do UTG com Q 6 e toma call de Martin Staszko, que tem 8 8. Fim da linha para o irlandês.

5° - Phil Collins (US$2.269.599)
Depois do raise Pius Heinz, Phill Collins empurra seu últimos 18 big blinds com A7. Pilotando quase 70 big blinds, o alemão ainda demora a dar call com 9-9. O bordo ainda assusta quando traz 4569, mas o river é um inofensivo 7.

4° - Matt Giannetti (US$3.012.700)
Com 10 big blinds, Giannetti empurra all-in do button com A3. Lamb paga com par de reis e ainda acerta uma quadra no flop.

3º Ben Lamb (US$ 4.021.138)
Do small-blind, Ben Lamb empurra seus últimos 10 big blinds com Q6. Martin Staszko paga rapidamente com JJ. Desta vez, o bordo não ajuda o norte-americano, grande favorito antes de a ação começar.

2º Martin Staszko (US$ 5.433.086)
Com pouco mais de 15 big blinds, o tcheco sai empurrando all-in com 107. Pius Heinz dá instacall com AK. O turn traz alguns outs extras para Staszko, que fica para a broca. O river apenas confirma o título do alemão.

1º Pius Heinz (US$ 8.715.638)

FICHA TÉCNICA
Main Event da World Series of Poker 2011
Datas: 07 a 20 de julho; 06 e 08 de novembro
Local: Rio All-Suite Casino, Las Vegas
Field: 6.865 jogadores
Buy-in: US$ 10.000
Prize Pool: US$ 64.531.000,00




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