EDIÇÃO 50 » ESTRATÉGIAS E ANÁLISES

Como jogar no turn em bordos com muitos draws


Diógenes Malaquias

No início da minha carreira, eu ouvia muitas pessoas falarem sobre controlar o tamanho do pote com mãos fracas e tentava aplicar isso ao meu jogo. Depois descobri que essa ideia é apenas especulação de quem não consegue colocar seu adversário em um range adequado e jogar de acordo com isso. Quer um conceito realmente útil e lucrativo? Então trate de aprender como jogar no turn em bordos com draws. Vamos lá.

$2/$4 NL Hold’em, 5 players
Btn: $179
Sb: $400
Bb: $984.60
Utg: $508
Hero (co): $521.25



Pre-flop: 10J, dealt to hero (co), utg folds, hero raises to $12, 2 folds, bb calls $8

Do cutoff, eu dou um raise padrão pré-flop com valete-dez de naipes diferentes. Esse raise é ok porque tenho pela frente apenas três adversários.

O button é um oponente fraco e passivo. Digo isso porque, do contrário, eu teria dificuldade em jogar fora de posição contra ele e provavelmente não abriria raise com J-T. O small blind é um tight-aggressive padrão que joga poucas mãos, sempre agressivamente. Já o big blind é um jogador fraco que torna meu raise ainda mais lucrativo, pois, contra um oponente assim, ter posição com qualquer mão jogável significa lucro quase certo.

Flop: ($26) 2, Q , J (2 players), bb checks, hero bets $18, bb calls $18

O flop vem com draws para flush e straight, e eu ainda acerto um segundo par. Aposto pelo valor, de modo que ele dê call com várias mãos piores que a minha – nesse caso, os draws.

Turn: ($62) 6 , (2 players), bb checks, hero bets $45, bb folds

Meu adversário paga, e no turn vem uma carta que não muda em nada a situação. Nessas circunstâncias, muitas pessoas defendem dar check se o adversário também tiver feito isso (check-behind), argumentando que tenho apenas segundo par e estaria perdendo para qualquer Dama dele. Com certeza não é a melhor forma de jogar essa mão. O certo seria colocar nosso adversário em um range e então analisar quando perderemos e quando ganharemos.

Nosso adversário raramente teria J-J, Q-Q, K-K, A-A, A-K ou AQ. Com essas cartas altas, ele daria 3-bet pré-flop ou raise no flop, com Q-J ou 2-2, aumentaria no flop. Por que ele faria isso? Porque todas essas mãos são muito fortes pré-flop ou no flop, por estarem ganhando do meu range ou pelo fato de o flop ter trazido várias possibilidades de draws, praticamente obrigando o jogador com essas cartas a dar raise no flop para se proteger contra essas possíveis mãos incompletas.

Dessa forma, na maioria das vezes, o check-call dele no flop representa algo como um draw, J-X ou Q-X com kicker baixo. A chance de o adversário ter Q-J também é pequena, pois já temos um valete diminuindo as combinações possíveis de dama-valete, sem falar que grande parte dos Q-J que ele tivesse também seriam jogados com raise no flop para extrair valor de mãos mais fracas e se proteger dos draws. Raramente veremos um adversário que não tenha nada ou que esteja segurando apenas pares baixos.

Se dermos check nesse turn, quase sempre nos depararemos com uma aposta do adversário. Ele apostará com todos os blefes que tiver, e com todas as damas e flushes que baterem. Talvez ele não aposte com J-X por não haver tantas mãos piores que paguem a aposta. O que fazer diante de uma aposta dessas no river é uma decisão difícil. Algumas vezes eu largarei, outras, darei call. Isso vai depender de outras características do adversário e de como está minha imagem no jogo.



Para descomplicar, eu sempre apostarei no turn quando tiver mãos com valor de showdown, como o segundo par – às vezes, até mesmo com high card – e quando o bordo estiver cheio de draws.

O fundamento dessa linha de ação é extrair valor de draws, que compõem uma parte considerável do range do adversário. Além disso, várias vezes ele largará mãos como Q-8 ou Q-9, que estão ganhando de mim, mas não conseguem resistir a tanta agressividade. Aqui, uma ressalva: existem muitos jogadores fracos ou bastante fortes que pagariam três apostas com Q-8. Identifique-os, principalmente os fracos, e não blefe contra eles em outras situações.

Mesmo diante dessa possibilidade de tomar call em três apostas, ainda é lucrativo ser agressivo nesse tipo de situação, pois você evita a apertada decisão entre pagar ou não a aposta do adversário no river, além de balancear bem o seu range para os adversários não terem uma leitura fácil sua quando você apostar com suas mãos fortes.

Trocando tudo isso em miúdos, procure sempre apostar no turn quando você tiver mãos com valor de showdown e o bordo apresentar draws. Suas decisões ficarão mais fáceis, e seu bolso, mais cheio.





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