EDIÇÃO 47 » ESTRATÉGIAS E ANÁLISES

Gerenciando Expectativas

Muitas decepções se devem a um planejamento mal sucedido


André Dexx

Depois de tanto tempo jogando e tendo contato com outros jogadores, a gente acaba chegando a algumas constatações importantes. Uma das coisas que pude perceber é que boa parte dos jogadores comete o erro de ter grandes expectativas com relação ao poker. Pois bem, este artigo é uma tentativa de fazer com que essa jornada não acabe em frustração.

Vale dizer que os problemas com as altas expectativas no poker costumam acontecer principalmente no início da carreira, quando tudo parece possível. E já adianto a vocês que muitas dessas decepções se devem um planejamento mal sucedido.

Quase todo mundo já ouviu aquela história de um jogador de micro stakes que ganhou, sei lá, 10 buy-ins ($100) e pensou que, se ele naquele dia fez $100, vai continuar fazendo $100 todos os dias. Assim, bastaria multiplicar $100 por trinta para saber seu lucro certo e infalível ao final do mês. Pena que o mundo real seja tão mais cruel.

Histórias como essa nos mostram como é frágil o nosso raciocínio quando damos os primeiros passos no pano verde. Elas ilustram um profundo desconhecimento das variáveis do jogo. E é com essa mentalidade que muitos jogadores acabam se desapontando com os resultados, que parecem não chegar nunca. O motivo disso tudo é que você, eu, ou quem quer que seja não está gerenciando bem as expectativas.

Ainda que não pareça, só é possível alcançar resultados sólidos e constantes no poker após muito esforço e dedicação. A questão é que os jogadores são livres para “viajar” e se iludir da forma que quiser. Alguns sonham alto com uma conta de sete dígitos do dia para a noite sem ler um artigo sequer. Seria como achar que basta passar no vestibular para que surjam oportunidades de emprego magníficas. Não é um plano realista do ponto de vista do longo prazo. É alienação. Outros jogadores, os que têm os pés no chão, imaginam o mesmo cenário de uma conta recheada só depois de muita dedicação.

Acredito que essa falta de planejamento seja a principal causa por que tantos jogadores perdem o ritmo ou se decepcionam, chegando ao ponto de desistir dos seu sonho de viver do feltro. Obviamente, esse fenômeno também acontece em outras áreas da vida, não apenas no poker. Muita gente se ilude achando que o caminho para se fazer qualquer coisa bem feita seja fácil e tranqüilo, em vez de árduo, cansativo e maçante.

Para mim – e isso é bastante claro – existem três grandes fases na vida de um jogador. A primeira é a que ele conhece o jogo e se diverte como nunca. O sujeito fica maravilhado, entorpecido, com a dinâmica do poker.

A segunda, a mais difícil, é quando ele resolve levar o poker realmente a sério, estudando, fazendo depósito e fixando conceitos e mais conceitos. É nesse estágio que se separam os que vão crescer no jogo dos que vão se acomodar e cair fora.

Agora, a quantidade de informações começa a pesar nas costas dos jogadores. Uns podem caminhar mais lentamente, outros vão aprender mais depressa. Nessa fase buscamos dominar a complexidade do jogo e construir o alicerce que servirá de base para pensarmos no jogo com mais facilidade no futuro. É quando nos adaptamos à teoria e à psicologia exigidas na hora do jogo, seja para definir com precisão o range de um adversário ou para não se abalar com as bad runs que passam por nossas vidas. Para sobreviver a essa fase tão difícil, é necessário manter as expectativas sob controle e continuar enfrentando os obstáculos com os dois pés no chão.

Eis que chega a terceira fase, aquele em que todos os jogadores gostariam de estar, o momento em que tudo fica mais estável: seus rendimentos, seu controle mental psicológicos e a sua vida, que de fato fica mais agradável. Você já saiu daquela completa escuridão, e os conceitos estão bem fundamentados em sua cabeça. Esse conhecimento faz com que você se adapte muito mais rápido a quase todos os tipos de situações. É perfeitamente possível inventar uma estratégia nova, já que você conhece todas as “ferragens” do jogo, sentindo-se livre para criar e modificar o que já foi criado com muito mais abertura sem “pré-conceitos”.

Ao ter essa visão geral, você percebe que não é à toa que os jogadores mais bem sucedidos são pessoas que, ao longo das suas carreiras, não focaram exclusivamente no dinheiro que estavam ganhando ou que tinham que ganhar. Os bem sucedidos jogaram por prazer, na expectativa de ficar entre os melhores de suas modalidades. O resultado final disso, claro, só poderia ser a vitória.




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