EDIÇÃO 44 » ESTRATÉGIAS E ANÁLISES

Teoria da projeção em ação


Diógenes Malaquias

Na última edição, apresentei a vocês a Teoria da Projeção. “Um jogador acredita que os outros pensam como ele”, é o que afirma esse conceito psicológico. Agora, vamos ver como funciona isso na prática.

Talvez vocês não saibam, mas os sites de poker gravam no seu computador todas as mãos que você joga. É quando os softwares de poker entram em ação, transformando esse histórico em dados estatísticos. (Outra forma de captar dados, claro, é durante o próprio decorrer do jogo. Enquanto a ação rola solta, você deve tomar nota das jogadas dos adversários).

Como eu disse na edição passada, o Hold’em Manager é o programa que eu uso para garimpar informações. Sabendo como os adversários jogam, eu consigo entender de que maneira eles projetam meu jogo. Vamos ver como isso se dá na prática.

Neste exemplo, o oponente é um jogador regular vencedor e agressivo que aplica muitos floats, ou seja, paga uma aposta só para blefar na próxima rodada quando você pede mesa. A mesa é no-limit $2-$4, e nós temos stack efetivos de $400. No momento dessa mão, o jogo entre nós dois estava agressivo, com vários raises e reraises.

Ele dá raise para $12 do cutoff. Eu pago do button com AJ.

Esse meu call em posição com uma mão que está na frente do range dele é bem tranquilo.

O flop vem 5 5 8, e ele aposta $20 num pote de $30. Eu pago.

Ele faz essa aposta com todo o range dele, mas eu continuo na frente. Reparem que o fato de eu ter posição deixa minha vida bem mais fácil.

Tenho vários planos para o turn. Por exemplo, se bater um ás, ele deve atirar aqui e no river, com uma boa frequência de blefes, pois o ás está totalmente no range dele e não no meu. Posso dar call de maneira confortável. Se no turn vier uma carta de ouros que completa o flush, posso representar essa mão dando raise na aposta dele, ou apostando se ele pedir mesa. Se no turn meu adversário não apostar, quase sempre eu mesmo aposto para levar a mão. É o bom e velho float.

O turn é um 5. Ele aposta $44 em um pote de $70.
Aqui, o call de $44 já não é uma jogada padrão. Muitos adversários não pensam tanto em range e, depois de me ver pagar no flop, já desistem no turn. Só que esse adversário aplica muitos floats, assim, ele projeta que nós aplicamos muito floats. A chance de ele continuar blefando no turn e no river é grande. Podemos somar a este argumento o fato de que meu range perceptível (gama de mãos que meu adversário acha que eu tenho) é um par baixo ou um draw para sequência ou flush. Full house seria mais raro. Isso me deixa frágil contra agressões e torna o cenário geral ainda mais atrativo para ele continuar blefando e me expulsar da mão.

Eu dou call de $44 e bate um 6 no river. Ele aposta $80 em um pote de $158. Eu dou call novamente. Ele mosta JT, sem nada.
Há muitos argumentos para eu dar call no flop. No turn, até posso pagar. Mas no river seria impossível fazer isso sem o apoio da Teoria da Projeção. Ela foi o fiel da balança nessa mão com ace high.

Explorando um pouco mais a Teoria da Projeção, surge uma pergunta: se eu tivesse tido uma leitura de que meu adversário gosta de fazer slowplay e de dar raise blefando contra apostas em flops que acertam poucas mãos, eu deveria ter dado esses calls?

A resposta é não. Se ele dá raise blefando em flops secos e faz slowplay, projetará que nós fazemos isso também. Portanto, ele terá medo dos nossos calls e raramente apostará três vezes blefando. Contra um adversário com essas características, devemos aplicar muitos floats.

Por hora, é isso. Espero que vocês tenham gostado da Teoria da Projeção e que ela lhes seja útil. No meu próximo artigo, pretendo falar de outra teoria psicológica dos cash games high stakes que nunca foi discutida em português e que também é muito interessante. Não percam.




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