Os Profissionais: Marcos Sketch, Leandro Brasa e Gabriel Goffi
Doyle Brunson, lenda viva do poker, diz que AK é a sua mão preferida: “Ao contrário do par de ases, se ela não me fizer ganhar muito dinheiro, me fará perder pouco”. Na clássica tabela de David Skanskly, ela está no Grupo 1, no mesmo patamar de AA, KK e QQ. Mesmo assim, quando perdem com ela, muitos jogadores juram quem não querem mais vê-la pela frente.
A seção Jogos Mentais desta edição traz Marcos Sketch, Leandro Brasa e Gabriel Goffi revelando alguns dos segredos por trás do AK, uma mão ao mesmo tempo muito poderosa e bastante vulnerável.
EM RELAÇÃO A TORNEIOS, QUAIS OS MAIORES ERROS QUE OS JOGADORES COMETEM COM AK?
Marcos Sketch: Geralmente, jogadores iniciantes aprendem que AK é uma das melhores mãos do hold'em e acreditam que podem ir até o final como favoritos. Quando comecei a jogar, muitas vezes apostava ou pagava nas três streets e não entendia por que perdia tanto. A principal vantagem do AK está na sua força pré-flop, e não pós-flop, ou seja, você precisa jogar agressivamente antes do flop para contar com sua fold equity. Ao tomar raise ou reraise, muita gente joga de forma passiva, com medo de ter que ir all-in e encarar algo como um coin flip. Mas quando se é o agressor, há a possibilidade de o vilão dar fold. Se ele pagar, você tem uma equidade enorme no showdown. Em situações deep stack, dificilmente você vai conseguir ir all-in contra um range menor que seu AK. Então é preciso achar o ponto certo entre ser o agressor da mão e contar com a fold equity pré-flop, mas sem precisar envolver todo o seu stack, vez que, à medida que os raises crescem, o range do vilão se torna menor.
Leandro Brasa: O maior erro que vejo é o chamado overplay: jogar com AK como se estivesse com uma mão imbatível, como se fosse AA. Quem leu Sklansky sabe que AK está classificada entre os primeiros grupos em grandeza, mas isso não é garantia de vitória, como os ases também não são. Muitos erram ao empurrar all-in pré-flop quando a situação pediria um reraise menor. Outro erro é ir all-in em um flop baixo, quando a melhor opção é uma continuation-bet ou até mesmo check-fold.
Gabriel Goffi: No geral, as pessoas jogam de forma bem agressiva com AK. Isso é bem lucrativo. Não existe nenhum grande erro quando se joga AK: tudo depende dos stacks, de sua imagem na mesa e de outros fatores. Quando falamos de amadores, acredito que o maior erro é a passividade. AK é uma mão para ser jogada agressivamente.
COMO VOCÊ JOGA COM AK NOS DIFERENTES ESTÁGIOS DE UM TORNEIO?
Marcos Sketch: Gosto de jogar um pouco mais devagar no início, especialmente se eu tiver um mais de 100 big blinds. Tomo a iniciativa de ser agressivo abrindo raise ou reraise, mas jogo com cautela se tomar uma 3-bet ou 4-bet. Quando encontro resistência de mais de um jogador (exemplo: dou raise, um jogador aumenta e um terceiro reaumenta), eventualmente posso largar. Mas contra apenas um adversário, vou sempre jogar a mão, pois quando acertar um par será o top pair com top kicker. Nos estágios intermediários e avançados, por causa dos stacks reduzidos, o range de all-in dos vilões é muito maior, então faço de tudo para induzir esse all-in, sendo sempre agressivo com raises e reraises. Jogo quase como se fosse AA ou KK, já que ir all-in pré-flop com AK é bastante lucrativo no longo prazo.
Leandro Brasa: Eu jogo com AK de forma bem conservadora no início dos torneios, sem overplay. Abro raise. Se errar o flop, dou c-bet. Se encontrar resistência, dou fold. No meio do torneio, se meu stack efetivo estiver pequeno, passo a tentar resolver a questão pré-flop. Mesmo assim, dependendo dos blinds, há espaço para bet-fold. No fim do torneio, quando os blinds apertam qualquer stack, AK normalmente é no-brainer: “all you can eat, baby!”
Gabriel Goffi: Novamente, depende dos diversos fatores que envolvem uma mão. Eu costumo variar bastante, mas o mais comum é uma 3-bet. Gosto de dar flat-call quando sei que há jogadores agressivos por falar e que provavelmente vão fazer um squeeze. Nessas situações, gosto de preparar uma trap com meu AK e extrair o máximo de fichas.
Marcos “Sketch” é um dos idealizadores do Time 4BET, do projeto Poker Villa e um dos maiores pensadores do esporte no país. @marcossketch
Leandro “Brasa” foi o primeiro brasileiro a chegar a uma mesa final da World Series Of Poker. @brasapoker
Gabriel Goffi é especialista em cash games e considerado por muitos o melhor jogador do país nessa modalidade. @gabrielgoffi