Apontado na edição n. 2 da Card Player Brasil como uma das jovens promessas do poker brasileiro, Thiago “TheDecano” Nishijima superou as expectativas e alcançou, quase que de forma simultânea, a liderança no ranking do site Superpoker, do Circuito ABC e, coroando a sua excelente fase, chegou também ao topo do mundo ao assumir o primeiro lugar no ranking mundial da rede Ongame de poker online, que engloba sites como PokerRoom, BestPoker e PokerLoco.
Nascido na capital paulista, “TheDecano” conta que seu nickname foi retirado de um personagem de Silvester Stallone, no filme “Shade – Nos bastidores do Jogo”. Já em seu primeiro ano de poker, disputando o Circuito ABC em 2006, deu uma amostra do que estava por vir, terminando na segunda colocação desse circuito. Em razão da promissora carreira como profissional, decidiu largar o emprego de bancário e dedicar-se exclusivamente ao poker.
Em entrevista à Card Player Brasil, Thiago fala da evolução de seu jogo, dos desafios de se tornar um profissional do poker, de sua primeira participação no WSOP e muito mais.
Amúlio Murta: Há menos de três meses você foi apontado como uma das novas promessas do poker nacional. Recentemente alcançou o topo do ranking da rede Ongame, além de estar em primeiro lugar no ranking brasileiro do site superpoker e do Circuito ABC. Como você vê a evolução do seu jogo e a que você atribui esses resultados?
Thiago “TheDecano”: A evolução ocorreu com muito estudo e prática. Gosto de analisar mãos e torneios dos principais profissionais. No começo, eu era muito tight e, apesar dos bons resultados, dependia muito das cartas. Com o passar do tempo, aprendi a jogar um número muito maior de mãos – fiquei bem mais loose, melhorei minha leitura e passei a obter melhores resultados. É muito difícil manter o desempenho, pois os bons adversários passaram a estudar meu jogo e me encheram de “notes”. Por isso, é fundamental mixar as jogadas.
AM: Quais tipos de torneios você tem preferido jogar atualmente e em quais você tem conseguido melhores resultados?
TT: Sem dúvida, meus melhores resultados estão nos torneios turbo. Também adoro torneios deep stack, que privilegiam a habilidade e a técnica, permitindo moves e jogadas mais elaboradas. Estou atirando um pouco em outros sites também, buscando os garantidos mais altos.
AM: Você começou a jogar poker em 2006, e construiu seu bankroll em mesas baratas, subindo gradualmente de nível. Como e quando se deu a decisão de tornar-se um profissional? Foi uma escolha difícil?
TT: Administração de bankroll sempre foi uma preocupação, pois eu realmente queria me profissionalizar. A idéia foi amadurecendo desde o início do ano. Decidi que iria pra Vegas e, em seguida, largaria minha profissão de bancário. Foi muito difícil, pois possuía um bom emprego e um salário muito bom para os padrões brasileiros. Quando contei para minha mãe e meus amigos, o primeiro impacto foi negativo, claro. Mas sempre fui muito decidido, mostrei a eles os resultados conquistados e eles acabaram me apoiando.
AM: Em seu começo no poker online você teve resultados negativos, e só passou a obter lucro após um período de estudo. Como foi esse período e qual o seu método de aprendizado?
TT: Estudo é fundamental. É preciso entender que para cada jogada há uma análise a ser feita. Saber o motivo pelo qual foldei, dei check ou apostei. Qual o objetivo da minha jogada? Queria levar o pote ou ser pago? Enfim, estudar as várias facetas de cada mão. Além disso, gosto de acompanhar os resultados dos adversários, bem como dar notes para todos eles. Em minhas anotações, procuro colocar exatamente como o adversário jogou (mão, posição, blinds, se ele costuma dar continuation bet, check-raise; se é tight, loose, agressive ou passive). No que diz respeito à parte teórica, peguei alguns conceitos e estratégias nos livros Harrington on Hold’em, The Theory of Poker (Sklansky) e The Book of Bluffs. Inclusive, achei excelente a idéia da Raise Editora de traduzir e lançar as principais obras-primas do poker em português.
AM: Você já foi o 2º colocado no Circuito ABC em 2006 e, atualmente, ocupa a 1ª colocação nesse mesmo ranking. Como você avalia o seu jogo em torneios live? O que você prefere jogar?
TT: Depois do 2º lugar na etapa passada, conquistei a liderança. Fiquei muito feliz, pois o Circuito ABC me deu diversos amigos e foi lá o meu primeiro contato com o poker.
Confesso que sou mais agressivo online. Gosto muito do live pelo lado social, por estar com esses grandes amigos que fiz e também por aprimorar a leitura dos adversários. Porém, o online é mais vantajoso financeiramente.
AM: Em julho passado, você esteve em Vegas, disputando pela primeira vez uma etapa do WSOP. Como foi sua experiência na maior série de eventos de poker do mundo?
TT: Indescritível. Jogar com um monte de feras e ídolos de diversos países, viver todo aquele ambiente, representar o seu país. Com field gigante e com apenas 3000 fichas iniciais, procurei ser bem agressivo para poder levar um bom pote quando recebesse um monstro. No segundo nível de blinds, já havia dobrado. Porém, após uma fatiada, caí com um call do adversário em um flush draw que acabou batendo. Mesmo assim, foi um sonho realizado, bem como toda a viagem.
AM: Fale um pouco sobre como é a sua rotina diária.
TT: Acordo às 8h, tomo um banho, café da manhã e dá-lhe sit&go turbo de $215 a $525. Uma pausa pra academia (entrei este mês) e almoço. Em seguida, engatamos nos MTT $108 regulares e turbos até às 9 da noite. Lógico que é apenas uma rotina. É fundamental preservar a vida social e familiar.
AM: Obrigado, Thiago, por ter cedido seu tempo aos leitores da Card Player Brasil e boa sorte nos torneios futuros!