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Filosofia do poker: A Falácia do Apostador


David Apostolico

Um erro comum entre os apostadores é acreditar que são “merecedores”. Em outras palavras, ao jogar uma moeda para o alto 10 vezes e todas as vezes der cara, muitos têm a falsa impressão que a probabilidade de na próxima vez dar coroa é bem maior do que novamente aparecer cara. Contudo, é óbvio que a probabilidade de surgir uma ou outra coisa é de 50%. Cada lance da moeda é completamente independente do anterior. Mas, por mais simples e compreensível que seja, muitos insistem em ignorar esse conceito, conscientemente ou não.

Considere essa idéia em termos de investimento. Se você investe nas ações de uma companhia e elas despencam sem razão aparente, qual é seu primeiro pensamento? Você acha que as ações “merecem” aumentar? Muitos cometem esse erro e investem ainda mais nesses papéis, na esperança de recuperar o dinheiro perdido. Em geral, quando o preço de uma ação cai, isso é sintoma de um problema estrutural ainda maior. Em vez de injetar dinheiro aí, um investidor experiente examina as condições financeiras da empresa e seus prospectos. Ele reavalia o investimento e continua a tomar decisões inteligentes e disciplinadas com base nas informações agora disponíveis. Apenas porque uma ação caiu durante 10 dias seguidos, isso não significa que ela irá subir no 11º dia.

Quando se está jogando poker, é fácil acreditar que você merece boas cartas se não recebeu nenhuma mão decente durante determinado período. Do mesmo modo, se um oponente tem recebido ótimas cartas, você tende a acreditar que a sorte dele irá mudar. O problema com esse tipo de raciocínio é que cada mão é distribuída independentemente da outra. Assim, você se deixa levar pela ilusão da “falácia do apostador”. Depois de algumas rodadas recebendo lixo como 9-2, uma mão como K-10 parece extremamente boa. Contudo, essa geralmente é uma mão enganosa e pode causar muita dor de cabeça. A não ser que você tenha uma vantagem, como boa posição ou uma leitura favorável, uma mão como K-10 deve ser jogada como se fosse a primeira da sessão.

Como os jogadores de poker experientes evitam ficar presos nessa falácia? Eles simplesmente evitam apostas desnecessárias. Utilizam o passado recente para juntar informações sobre as tendências e padrões de jogo de seus oponentes. E não pensam que as cartas agora vão mudar. Se não receberam boas cartas nem viram o flop durante um bom tempo, podem usar sua imagem equilibrada na mesa para tentar roubar alguns potes. Assim eles tiram vantagem da seqüência de cartas ruins, o que é muito diferente de jogar com uma mão marginal apenas porque não receberam uma boa em algum tempo.

A sorte influencia muito no poker, mas o mais importante é a habilidade. Um bom jogador sabe que pode ter de enfrentar pequenas baixas em sua conta bancária em razão do capricho das cartas. E também não vai tiltar ao levar uma fatiada, pois sabe que não precisa recuperar imediatamente tudo o que perdeu. Assim, continua a jogar um poker inteligente e disciplinado, sendo vencedor no longo prazo. Portanto, em vez de se achar “merecedor”, um bom jogador examina seu movimento para se certificar de que está jogando bem e continuar assim. O jogador de poker que confia mais na sorte do que em suas próprias habilidades provavelmente apostará alto quando estiver mal, na falsa crença de que “merece” ter seu dinheiro de volta.

David Apostolico é autor de numerosos livros de poker, incluindo “Tournament Poker and The Art of War” e o recém-publicado “Poker Strategies for a Winning Edge in Business”. Entre em contato com ele no e-mail thepokerwriter@comcast.net.




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