EDIÇÃO 4 » ESTRATÉGIAS E ANÁLISES

Campeonato Mineiro. O campeão vai pra Vegas!!!


Rafael Caiaffa

Pouca gente sabe, mas graças ao patrocínio do BestPoker, o campeão do Circuito Mineiro de Texas Hold´em vai ganhar uma vaga para disputar o Main Event do WSOP 2008 com tudo pago! Após oito etapas, faltando duas para o final (além da mesa dos campeões que também vai valer pontos), a briga está pegando fogo. Há dois meses estou em primeiro lugar, mas sempre seguido de perto por mais 4 jogadores.
 
A segunda colocação pertence ao atual campeão mineiro, e também colunista da Card Player, Hugo Mora (Kinder Ovo na internet). Ele merece uma atenção especial, já que o considero um dos melhores jogadores do Brasil! Coincidentemente, os outros 3 concorrentes jogam juntos toda semana, são grandes amigos e estão num ótimo nível: Fernando Bunda, Olimpio Couto e Pedro Alvim.

Etapa fora de Belo Horizonte
Mas chega de enrolação e vamos falar de jogo! Como citei o Campeonato Mineiro, vou comentar a última etapa, e falar sobre duas jogadas fundamentais que fizeram com que eu chegasse à mesa final graças à passividade de meus adversários. Essa foi a primeira etapa realizada fora de Belo Horizonte, no Hotel Fazenda Tauá, e por isso o número de participantes caiu dos tradicionais 140 para apenas 70.

Como de costume, na primeira hora de torneio joguei pouquíssimas mãos, agindo de forma bem segura, levando em conta que era um torneio sem rebuy e que não permitia erros. Mesmo assim eu levava o pote em quase todas as mãos que jogava. Geralmente eram potes pequenos, mas fundamentais para que eu me mantivesse na média de fichas do torneio.

Quando restavam 30 jogadores, o blind estava 30-60 e eu tinha cerca de 600 fichas. O utg entra de limp e o utg+1 também apenas coloca o pingo. Eu estava no meio da mesa, recebo AK e aumento para 200. Todos correm, exceto o utg+1, que paga minha aposta. E o flop vem: J-2-2. Ele pede mesa e eu aposto mais 250. Ele pensa e paga. No turn apareceu um 3. Mais uma vez ele dá mesa e eu volto all-in com minhas 150 fichas restantes. Ele nem parou para contar de quanto foi meu all-in nem quanto tinha na mesa: foldou imediatamente e me mostrou AK, dizendo, “é, não dá mais para acompanhar...” Ou seja, se ele jogasse agressivamente como deveria, dando raise ou até mesmo voltando all-in pré-flop, a gente teria dividido a mão. Eu dobrei sem precisar mostrar minhas cartas.

Blocking bets, em bom português: pare por aí!
Logo depois veio a mão que me deixou confortável no torneio. Eu estava acima da média de fichas, com 1400. Quando os blinds estavam em 40-80, o utg dá raise para 200. O dealer, que estava short stack com 360, só paga; o small corre e eu, no big blind com A5s, pago mais 120 para ver o flop, que vem A-J-2. Um fato curioso é que, durante a abertura do flop, eu observava a reação do utg (que deu o raise). Pela minha leitura, vi que ele tinha acertado o flop e que provavelmente tinha na mão um Ás com um kicker maior do que o meu. Enquanto eu pensava, continuava a observá-lo sem que ele percebesse. Ele já contava as fichas para apostar, e pelo visto apostaria pesado. Eu não estava disposto a envolver todo meu stack naquela mão, e por isso adotei uma postura interessante: perguntei para o dealer quantas fichas ainda restavam, como forma de intimidá-los e mostrar que estava confiante com minha mão. Eu já sabia que ele tinha 160 e assim que ele me respondeu, eu apostei exatamente 160, ignorando o utg. Como imaginei, o under the gun ficou com medo, puxou de volta as cerca de 500 fichas que pretendia colocar e, inconformado, só deu call. Era tudo que eu queria. Ver o turn mais barato com meu blocking bet, já que, se eu desse mesa, ele certamente apostaria umas 500 fichas, valor que eu não estava disposto a pagar. O dealer, comprometido com a mão, também pagou. O turn trouxe um 4. Além do meu par, isso me deu uma chance de seqüência no river, caso abrisse o 3. Mais uma vez, resolvi dar um blocking bet e apostei somente mais 160 fichas, imediatamente pagas pelo utg. No river veio um 5 e eu fiz dois pares. Tinha certeza de que aquele 5 havia me colocado à frente e por isso dei all-in de mais quase 1000 fichas. O utg pensou, e falou: Paguei! Não é possível que você tenha feito seqüência! E eu disse: Não, tenho só dois pares. Ele pôs a mão na cabeça, mostrou AK, e perdeu suas 800 fichas restantes. Ele reclamou a falta de sorte, dizendo, Nossa, o river salvou você, que sorte a sua. Mas, convenhamos: não tive tanta sorte assim... Apenas controlei o pote, bloqueando o adversário. E quando eu senti estar na frente, empurrei all-in. Se ele tivesse jogado de maneira agressiva e me desse raise no flop ou no turn, eu teria largado a mão e ele levaria um belo pote. Nessa hora virei um dos líderes do torneio, o que me deixou tranqüilo para fazer minha sexta mesa final no ano.

Finalmente, a mesa final
Como sempre acontece nas mesas finais do circuito mineiro, os blinds ficam bem agressivos (300-600), e após algumas fatiadas eu fiquei com 1800 fichas. Mas acreditem: estava todo mundo mais ou menos assim, com exceção de dois jogadores, que tinham mais de 5000. Eu ia ser big blind e avisei: “eu estou de all-in automático, quem quiser minhas 600 fichas já pode vir apostando 1800 porque eu vou de all-in sem ver as cartas”. O jogador que estava no cut-off deu all-in no meu big e eu cumpri a promessa: paguei sem ver, sabendo que eu tinha no mínimo 30% de chance de ganhar, independente das minhas cartas. Ele mostrou A-10 e eu tinha 3-4. Bateu um 4 no turn e melhorei meu stack novamente. Logo depois, quando estava no dealer, recebi J-10. A mesa inteira correu e eu dei all-in. O small pensou muito, mas foldou. O big abriu as cartas dizendo que ia pensar com o jogo aberto. Ele estava com A-10s. Eu mantive minha postura e, para minha sorte, ele correu.

Em seguida, a mão decisiva. Recebo meu primeiro par alto do torneio inteiro: QQ! (isso mesmo, até então eu não tinha recebido nenhum AA, KK, QQ, JJ, 1010) O utg sai de all-in, um jogador do meio da mesa, com apenas 200 fichas a mais do que eu, repassa o all-in e eu resolvo pagar. O utg abre A-8 e o outro jogador, A-Q. Infelizmente, no flop vem um Ás (um dos dois outs) acompanhado de um 8, que me eliminou na oitava posição. Isso foi o suficiente para que eu mantivesse minha liderança, já que o Hugo ficou em terceiro.

É isso aí, pessoal, mês que vem tem mais e a busca pelo sonho de jogar o Campeonato Mundial de poker continua. Quem quiser trocar alguma idéia pela internet, pode me adicionar no msn (rafaelhenriquegalo@hotmail.com) ou pelo Skype (rcaiaffa).

Aquele abraço!




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