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LAPT ROSÁRIO - A Terceira Edição da Grande Final


Gabriel Rubinsteinn

Pela segunda vez consecutiva, a Argentina foi palco da etapa de encerramento do Latin American Poker Tour. Desta vez o evento foi realizado no grandioso e recém-inaugurado City Center Casino, na cidade de Rosário, que desbancou Mar Del Plata como casa da Gran Finale do circuito latino-americano do PokerStars.

A terceira temporada do LAPT começou em novembro de 2009 e, antes de chegar à Argentina, passou por Costa Rica, Bahamas, Uruguai, Peru e Brasil. No torneio de encerramento estavam nomes como Chris Moneymaker e Dennis Phillips, os ex-tenistas argentinos Mariano Zabaleta e Gastón Gaudio, além, é claro, de todos os membros do Team PokerStars Pro de países latino-americanos, incluindo "Nacho" Barbero, Christian de León e Humberto Brenes, fora os quatro brasileiros: Akkari, Alê Gomes, Gualter Salles e Maridu.

À exceção dos donos da casa, o país que levou mais jogadores para disputar a prize pool de mais de um milhão de dólares foi o Brasil. Nada menos do que 38 brazucas voaram até Rosário, dentre eles, Luiz “mestrefilipe”, Gustav Langner, Frederico Volpe, Cínthia Escobar, Hugo Adametes e Dayan Vardanega, vice-campeão em Floripa.

Apesar do grande número de jogadores, o Brasil não se deu bem no torneio. Logo no primeiro dia, mais da metade dos nossos jogadores deixou a disputa. Gualter Salles, que não estava num dia bom, foi um deles. Com stack curto, ele empurrou all-in com 6-6 e tomou call de J-J. No flop, fim do sonho para o ex-piloto: J-J-7.

Seu companheiro do Team PokerStars Pro, Alexandre Gomes, também deixou o torneio antes da hora. Depois de perder com K-K para J-8 no board J-T-5-J-3, ele foi all-in pré-flop com A-K, tomou call de 7-7 e nenhuma carta o ajudou. Fim da linha para Alê.

Mas o caso mais emblemático do primeiro dia foi, sem dúvida, o de Hugo Adametes.  No último nível de blinds do dia, ele eliminou José Carlos Domingues "Belém", também do Brasil, e se tornou chip leader do torneio, com quase 220 mil fichas – mais do que o dobro do segundo lugar naquele momento. No entanto, pouco depois, ele tentou blefar com 4-4 no board K-Q-3-T-9 com três cartas de ouros. O adversário Nicolas Fierro deu call valendo todas as suas 70 mil fichas. Resultado? Nut flush para o chileno, que tinha AK! Na sequência, Adametes viu seu A-K ser derrubado pelo A-A do mesmo adversário. Agora seu stack, outrora gigante, ficou reduzido a pouco mais de 25.700 fichas, apenas 5.700 a mais do que quando havia começado o torneio.

O Dia 2 começou com o anúncio da premiação: o primeiro colocado levaria para casa US$ 322.280,00; o segundo, US$ 188.200,00; e o terceiro, US$ 155.270,00; e assim por diante, até o 40º colocado. Mas será que levaria mesmo? Uma nova legislação argentina prevê, caso o jogador seja estrangeiro, a retenção de 31,5% dos prêmios arrecadados. Ou seja, se o campeão do LAPT Rosário não tivesse nacionalidade argentina, US$ 100.000,00 do prêmio seriam descontados em impostos – e, como veremos adiante, foi exatamente isso que aconteceu.

Em nota, a organização do LAPT afirmou que “só ficou sabendo da nova norma da AFIP (Administración Federal de Ingresos Públicos) poucos antes do torneio”. O Casino City Center, que sediou o evento, também não teria sido avisado a tempo. A nota informava ainda que “uma intensa discussão [com as autoridades argentinas] foi realizada, mas nada mudou” e que “como têm de cumprir as normas do país”, todos os torneios do LAPT Rosário estariam sujeitos a essa regra. Conseguiram, entretanto, fazer com que o imposto não fosse cobrado sobre o valor do buy-in, o que amenizou a situação de quem ganhou prêmios menores.

Só que esse entrave fiscal atrapalhou os eventos paralelos do LAPT, que ficaram esvaziados após a notícia. Os estrangeiros não aceitaram a cobrança e preferiram não jogar outros torneios além do principal – nesses side events, o field era composto praticamente só por argentinos. O impasse, no entanto, não desqualificou o main event, que, além da boa estrutura e do field, teve uma premiação bastante atraente.

E logo no primeiro nível de blinds do Dia 2, o curitibano Gustav Langner, que tem obtido ótimos resultados no poker online, conseguiu dobrar seu stack, que já estava acima da média de 40 mil. Pouco depois, porém, ele se envolveu em um pote com o único jogador de sua mesa que possuía uma boa quantidade de fichas. O brasileiro, com K-K, acabou perdendo quase tudo para o adversário, que tinha A-A. Na sequência, já short-stacked, ele não teve outra alternativa senão empurrar all-in com seu A-7. O mesmo jogador que o havia enfrentado antes deu call com J-K e viu um rei dar as caras no river – e “tchau” para o brasileiro.

Os jogadores foram caindo, o torneio se encaminhando para a reta final e, quando o suíço Severin Walser acabou eliminado na 41ª posição, todos os jogadores que ainda estavam na briga puderam comemorar, pois estavam na faixa de premiação. Dentre eles, apenas três brasileiros: Gustavo Flessak, André Akkari e Diogo Guttman.

Pena que Guttman tenha sido o primeiro a cair após a bolha estourar. Pouco depois, foi a vez PokerStars Team Pro André Akkari dar adeus à competição no 38º lugar. Ambos faturaram um prêmio de US$ 6.470,00. Akkari, que tinha poucas fichas, conseguiu dobrar quando seu A-3 derrotou o K-5 do adversário. Pouco depois, ele foi all-in com A-J quando viu a terceira carta de ouros no turn – o seu valete era deste naipe. Com quatro cartas baixas na mesa, Robby Westrom não hesitou em dar call com 8-8, o suficiente para derrubar o brasileiro.

O torneio continuou até restarem apenas 24 sobreviventes, que voltaram no dia seguinte para a penúltima batalha do LAPT Rosário. Neste grupo, o único brazuca restante era Gustavo Flessak, de Curitiba. Ele, que ganhou uma vaga no LAPT através de um satélite da Liga Curitibana de Poker, não chegou a acumular muitas fichas em nenhum momento até então, mas, “comendo pelas beiradas”, foi deixando adversários para trás.

No grupo que chegou ao terceiro dia do evento, o grande destaque era o austríaco Mathias Habernig. Depois de ter vencido a etapa brasileira do LAPT, em Florianópolis, ele poderia igualar o feito do argentino José “Nacho” Barbero que esse ano se tornou o único jogador bicampeão do circuito latino-americano do PokerStars – ele venceu as etapas de Punta del Este, no Uruguai, e de Lima, no Peru.

Quando o terceiro dia estava para começar, Habernig, que passou grande parte do torneio entre os líderes em fichas, sonhava em chegar à mesa final. “Estou um pouco ansioso, mas confiante. Claro que ter dois títulos consecutivos seria ótimo, mas chegar à mesa final já é uma grande vitória”, disse o jovem de apenas 19 anos.

Recomeçava a batalha e o representante brasileiro Gustavo Flessak tinha muito trabalho pela frente: com 146 mil fichas, precisava crescer para chegar à média de 211 mil. Flessak não mudou seu estilo de jogo, seguro, roubando potes importantes e ganhando showdowns sem muita ação. Ele conseguiu sobreviver até o final do dia, quando restavam apenas nove jogadores. Assim que alguém caísse, a mesa final estaria formada e a disputa seria interrompida até o dia seguinte, mas sobrou para o brasileiro ser o bolha da final table. Depois de ver um adversário dar fold com A-Q suited quando tinha ele A-A, num momento em que os blinds devoravam seu stack, ele não teve muitas opções a não ser esperar cartas pelo menos razoáveis para apostar todas as suas fichas de uma vez. Isso aconteceu quando ele estava no cutoff com K-T. O jogador que estava no button, Roberto Bianchi, dono do maior stack do torneio naquele momento, deu call com 7-7. Com um 7 no flop, nem o rei aberto no river salvou Gustavo, que ficou com um prêmio de pouco mais de US$ 17 mil. "Este foi meu primeiro torneio fora do Brasil. Ficou um gostinho de quero mais, já estava imaginando a mesa final... faz parte. Estou satisfeito, ainda mais porque vim pra cá através de um satélite", disse o jogador, que não é profissional do poker, mas sim advogado.

Com a queda do último brasileiro no Gran Finale de Rosário, a mesa final foi formada com os seguintes nomes:

1 - Roberto Bianchi (Argentina) - 1.242.000 fichas
2 - Bolívar Palacios (Panama) - 1.000.006 fichas
3 - Martin Sansour (Peru) - 952.000 fichas
4 - Daniel Ades (Argentina) - 514.000 fichas
5 - Matthias Habernig (Austria) - 465.000 fichas
6 - Nicolas Fierro (Chile) - 406.000 fichas
7 - William Ross (EUA) - 352.000 fichas
8 - Ivan Saul (Argentina) - 179.000 fichas

Chegou o último dia e, com ele, o sonho de registrar o nome na história do LAPT, conquistando uma de suas etapas de encerramento, que têm sempre um buy-in mais caro do que nas demais.

Na decisão do torneio, desde a primeira mão distribuída pelo dealer na mesa final, apenas um nome se sobressaiu: Martin Sansour. O peruano começou sua participação na final table com o terceiro maior stack, mas já na sua primeira mão eliminou o chileno Nicolas Fierro com uma bad beat e entrou de vez na briga: Fierro deu raise pré-flop e Sansour voltou all-in com K-K. O chileno então deu insta-call com A-A. O flop abriu T-Q-J, e o 9 no river deu a sequência para o jogador do Peru, que se tornou chip leader do torneio.

E Sansur continuou eliminando adversários, um a um, até chegar ao heads-up contra o panamenho Bolívar Palacios. Dos sete adversários que enfrentou na mesa final, ele eliminou seis. Fierro foi apenas o primeiro. Na sequência, foi a vez de Ivan Saul sucumbir, quando o 8-8 de Sansour segurou o A-T do rival.

Depois foi a vez de Matthias Habernig. O austríaco foi all-in do small blind e a mesa rodou em fold. Sansour deu call com A-7 e viu o adversário mostrar Q-3. Um ás no flop tirou o jovem jogador da luta pelo bicampeonato.

O quarto jogador a deixar a mesa final foi o argentino Roberto Bianchi, que começou o dia como chip leader. Nesse duelo de gigantes – eles eram os dois jogadores com mais fichas naquele momento –, melhor para o peruano, que deu raise pré-flop e só foi pago por Bianchi. O flop veio Q-J-8. Bianchi deu check e Sansour apostou 70 mil, quase três vezes o valor do big blind. Biachi pagou e viu um 6 aparecer no turn. O argentino deu check mais uma vez e pensou muito antes de pagar a aposta de 100 mil fichas do adversário. Então, veio a surpresa: quando apareceu outra Q no river, Biachi imediatamente anunciou all-in e Sansour, tão rápido quanto o adversário, disse que pagaria. No showdown, constrangimento para o argentino, que tinha 3-3 e tentou roubar o pote com seus dois pares, enquanto  Martin Sansour tinha flopado uma sequência com T-9 e acabou eliminando mais um jogador.

A essa altura, Sansour já acumulava um stack maior do que a soma das fichas de todos os outros jogadores. E o jogo deu uma esfriada. Por terem muito menos fichas, seus adversários passaram a jogar de maneira mais conservadora.

Foram mais de duas horas até a eliminação seguinte. O norte-americano William Ross tinha poucas fichas e foi all-in com Q-3 de paus. Sansour deu call novamente, agora com A-2. O flop não ajudou ninguém, mas, quando uma dama apareceu no turn, todos imaginavam que Sansour perderia seu primeiro embate no dia. Ledo engano: um ás no river fez o peruano eliminar mais um.

Quando restavam apenas três jogadores na disputa – Martin Sansour, Bolívar Palacios e Daniel Ades – o jogo ficou equilibrado. Sansour perdeu alguns potes sem showdown, distribuindo uma boa quantidade de fichas. Mas mesmo assim, ele liderava a disputa com folga.

Daniel Ades não resistiu e acabou eliminado na terceira posição. E, por mais surpreendente que possa soar, não foi Martin Sansour o seu carrasco. Com blinds em 25.000-50.000, Bolívar Palacios abriu raise de 110 mil do button. Daniel voltou all-in do small blind e foi prontamente pago. Palacios abriu AK e Ades, J7. Um rei no river garantiu o panamenho no heads-up contra Sansour.

Apesar de entrar na disputa final com muito menos fichas, Palacios jamais poderia imaginar que sua vida seria tão difícil na briga pelo título.

Logo na segunda mão do heads-up, Martin Sansour e Bolívar Palacios foram all-in: o primeiro tinha A-K, o segundo, A-Q. O bordo não favoreceu ninguém e Sansour, imbatível nessa mesa final de cerca de seis horas de duração, garantiu o título da Grande Final. Então, ao som de "We Are The Champions", do Queen, e com muito papel picado voando, ele levantou o troféu e comemorou muito o primeiro título de um peruano no LAPT.

E assim terminou mais uma temporada do circuito latino-americanos do PokerStars. Que venha a quarta temporada, dando continuidade ao processo de evolução do LAPT: mais e melhores jogadores em lugares cada vez mais atraentes para amantes do poker de todos os continentes.




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