No meu último artigo falei sobre o jogo pré-flop. Revimos o conceito de hand ranges, utilizando-o para escolher mãos que nos permitam manter um jogo agressivo pós-flop nas mais diversas situações. Seguindo a mesma lógica, vamos trabalhar um pouco o jogo no turn, tendo sempre em mente a mesma postura agressiva do artigo anterior.
No exemplo da edição passada, tínhamos A♠6♠ e a mesa trouxe 9♠7♦3♣Q♠. Estamos ou não diante de um bom cenário para apostarmos nesse turn? A resposta é sim! A carta do turn é ideal para apostarmos novamente. Primeiro, porque ela nos dá uma equidade de pote extra (doze outs, contra três do A-6 off). Segundo, porque a dama é uma carta alta que não se conecta com o bordo, nos dando uma equidade de fold extra (um oponente com 8-8, por exemplo, teria muito mais dificuldade em pagar esse segundo tiro). Essa combinação dos fatores "aumento da equidade no pote" com "aumento da equidade de fold" nos dá os elementos de que precisamos para nos mantermos agressivos na mão.
Algumas vezes, no entanto, essa combinação pode ser ignorada. Isso acontece porque, em certas situações, temos tanta equidade no pote que a equidade de fold pode ser ignorada. Imaginem, por exemplo, que tenhamos Q♥J♥ e o bordo mostre T♥9♥2♣4♦. Nós acertaremos nosso draw no river tantas vezes que, na verdade, só necessitamos que nosso oponente dê fold diante do segundo tiro uma porcentagem muito pequena de vezes.
Também podemos observar o contrário. Imaginem que temos 2-2 num bordo 8-4-3-A rainbow. O ás no turn nos daria uma equidade de fold tão boa, que a nossa baixa equidade no pote (dois outs) seria compensada pela porcentagem alta de vezes que nosso oponente desistirá diante do segundo tiro.
A tarefa mais difícil, nesse caso, seria medir situações mais equilibradas. Imaginem que tenhamos A♠5♠ num bordo com 9♠7♦3♣T♠. Nossa equidade no pote é boa, mas o que dizer da nossa equidade de fold? O turn acerta muito o range de call no flop do nosso oponente. Até mesmo uma mão como 8-8 agora estaria inclinada a pagar mais uma aposta. É tarefa complicada para o jogador medir sua equidade de fold e compará-la com a equidade de pote nesses casos mais próximos.
Concluída a tarefa de examinar as equidades e decidir pela manutenção da agressividade, podemos continuar apostando. Porém, podemos tanto sair apostando quanto partir para o check-raise. Quando optar por um ou pelo outro? Vejamos alguns exemplos.
Suponha que estamos com A♣5♣ e fizemos nossa continuation bet padrão num flop com 8♣7♣4♥. Quando o oponente paga nossa c-bet nesse flop "wet" (que permite múltiplos draws), dificilmente ele terá uma mão muito forte do tipo 8-8, 7-7, 4-4, 6-5 ou 8-7, pois, com elas, ele provavelmente daria raise num bordo assim. A maior parte do range dele seria composto por mãos como T-9, J-9 e A-5; 8-6, 7-6 e 5-5; A-8 ou 9-7; Q♣J♣ ou K♣T♣ e talvez A-J e K-Q fazendo float. Para ficar mais claro, podemos dizer que ele teria straight draws, pares e draws, pares fracos, flush draws e nada. Aqui, é melhor optar pelo check-raise.
Nesse mesmo flop, suponhamos que um 2♦ venha no turn, deixe o bordo com 8♣7♣4♥2♦ e nós peçamos mesa. Nessas circunstâncias, seria bem provável que nosso oponente apostasse o range fraco dele no turn, até mesmo porque essa seria a única forma de ele levar a mão. Com o que ele apostaria após pedirmos mesa no turn? Com straight draws, flush draws e nada, que será a maior parte do range dele. Os pares fracos e combos de pares com draws provavelmente darão check behind e verão o showdown.
Entretanto, a maioria das vezes que ele apostar nesse turn, seu range será fraco e agora o pote já estará grande e com muito dinheiro morto, o que valoriza o check-raise como arma nesse tipo de situação. Algumas vezes nosso oponente pode nos enganar dando call com 6-5 no flop. Outras vezes, a carta do turn pode ajudar, e em outras mais, ele pode ainda ter mãos como T-T, 9-9, A-8 e decidir ir all-in contra nosso check-raise. Para compensar esses casos, precisamos ter certeza das nossas equidades antes de fazer o movimento. Mãos como A♣5♣ ou A♣J♣ seriam indicadas para fazer essa jogada num bordo com 8♣7♣4♥2♦, mas uma mão do tipo K♦Q♥ já não interessaria tanto.
Entender a textura do bordo é crucial na hora de decidir entre apostar e dar check-raise. Se nosso oponente dá apenas call num bordo “wet”, dificilmente o range dele terá mãos muito fortes. No entanto, se ele paga uma c-bet num bordo duro, tipo 8♣6♦4♥, o check-raise no turn pode ser significativamente pior. Com poucos draws disponíveis, grande parte do range do vilão passa a ser sequência, dois pares e trincas jogadas em slowplay – nesse caso, melhor apostar com A♣5♣ num bordo com 8♣6♦4♥2♣, pretendendo largar diante de um raise, do que dar check-raise.
Avaliar a equidade é a chave do raciocínio. Nut flush draws nos deixam com cerca de 40%-50% de equidade. Quedas para sequência na gaveta possuem mais ou menos 18% de equidade no pote. Já avaliar a fold equity pode ser mais difícil. Alguns detalhes podem ajudar: Jogadores ruins possuem uma equidade de fold menor. Outro detalhe é a textura do bordo: Se temos um flop 9-8-3 rainbow e um ás vem no turn, nossa fold equity cresce bastante, ao contrário de um T no turn, por exemplo. (Overcards aumentam a equidade de fold; cartas baixas e conectadas não). O terceiro detalhe é o número de oponentes: quanto maior, menor a fold equity. O último detalhe é nossa imagem: se estivermos jogando muito loose ou se tivermos um histórico de blefe na mesa, nossa equidade de fold diminui.
Algumas vezes esses fatores vão se combinar e aí, mais uma vez, entra o jogador de poker para fazer o seu trabalho de valorar a situação para decidir o que fazer. Mas lembrem-se: manter-se agressivo na mão quase sempre trará bons resultados! ♠