Talvez uma das situações mais discutidas no poker é quando recebemos um par médio no small ou big blind, e enfrentamos um raise de um jogador em posição final. Nenhuma das nossas opções parece boa: não nos sentimos fortes o suficiente para voltar reraise, mas achamos que estamos fortes demais para dar fold, sem falar que o call parece sempre nos meter em confusão.
Vejamos cada opção isoladamente. Dar fold parece fraco demais para um par como 8-8, considerando que temos uma boa equidade contra o range de raise de nosso oponente. Além do mais, podemos esperar ganhar muito se acertarmos uma trinca no flop. Então podemos eliminar, de forma segura, a opção do fold.
Voltar reraise tem seu mérito, já que podemos fazer nosso oponente dar fold pré-flop. Porém, se dermos reraise dos blinds com frequência, podemos estar cometendo um erro ao dar fold se ele voltar uma 4-bet. Isso porque ele pode reagir à nossa agressividade, aumentando seu range de valor para incluir mãos contra as quais temos EV positivo, como A-Q ou A-J. Empurrar um stack de 100 big blinds com 8-8 a toda hora não é uma situação confortável, então a gente pode dizer que voltaría reraise com esta mão de vez em quando, mas não seria realmente nossa primeira escolha.
E dar call? Talvez a vantagem mais importante dessa opção é que podemos manter o pote pequeno com nossa mão mediana. Também conseguiríamos jogar pós-flop, que é onde esperamos que nosso oponente cometa erros. É esse jogo pós-flop que às vezes lhe deixa em maus lençóis, mas quanto mais você entender a situação, melhor saberá como lidar com ela.
Jogar pós-flop com pares médios não é tão difícil: há apenas alguns elementos chave que devem ser compreendidos. Primeiro de tudo, perceba que quando se tem uma mão como 7-7 ou 8-8, a equidade contra um range padrão não é espetacular. Certamente é boa, mas quase nunca você será um grande favorito na mão, a menos que seu oponente tenha um par mais baixo, ou duas cartas mais baixas sem par. Em todas as outras situações, você geralmente terá, na melhor das hipóteses, um coin flip.
Segundo, perceba que essa equidade precária quer dizer que, em muitos bordos, você simplesmente não terá mais a melhor mão, e ponto final. Vejamos um exemplo: recebo o 8♣ 8♠ no small blind e pago um raise de um jogador no cutoff. O flop vem Q♣ 10♠ 5♠, e meu oponente aposta $1,50 quando eu peço mesa. Neste bordo, não há nada a fazer senão dar fold.
Alguns podem dizer, “Mas e quando ele não tem nada, você dá fold com a melhor mão”? O que é preciso para perder este medo é entender que, quando ele não tem nada, esse “nada” ainda tem grande equidade contra nós! Se ele estiver com algo como A-J, tem duas overcards e uma queda para a sequência na gaveta. Uma queda para flush possui equidade de quase 40% contra nós, mais ainda se ele tiver uma overcard. Duas cartas quaisquer mais altas do que as nossas – digamos, A-9 offsuit – ainda têm chances de aproximadamente 1-para-3 de nos vencer até o river.
Então, na melhor das situações, estamos ligeiramente à frente, e em todas as outras, estamos atrás ou completamente mortos. Adicione a isso a dificuldade que teremos em determinar onde estamos na mão, fora de posição contra um oponente decente, e se torna claro que esta não é uma boa situação. Quando jogamos esses pares médios, buscamos bordos bons para nossas mãos — 7♣ 2♠ 2♦, 6♠ 5♥ 2♠, 10♣ 3♠ 2♦ — ou uma trinca. O dinheiro que ganhamos em circunstâncias como essa, mais do que compensa as vezes em que precisamos dar fold com aquela que parecer ser “a melhor mão”. ♠
