Quem esteve presente no Rio Quente Resorts, em Goiás, entre os dias 17 e 21 de junho, vivenciou uma experiência única. Diferenciada por ter acontecido em um local que oferece aos seus hóspedes diversas opções de lazer – que incluíam shows, atividades esportivas e, é claro, as famosas piscinas de água quente – a 5ª etapa do Brazilian Series Of Poker 2010 atraiu várias caras novas, jogadores recreativos que usaram o resort como pretexto para jogar o BSOP e vice-versa.
Durante um dos breaks do torneio, enquanto esperava por um crepe, Marcos ‘Sketch’, do 4bet Team, me disse que é completamente a favor de torneios em locais assim. “A etapa do Rio Quente vem mostrando que o jogo pode também ser encarado de forma recreativa. Muita gente veio com suas famílias para aproveitar o fim de semana”. E deixou uma sugestão para os organizadores: “No ano que vem, poderiam ser feitas mais etapas fora dos grandes centros, já que elas atraem uma gama maior de jogadores, não só os regulares”.
Outro que adorou a escolha do local foi o líder do ranking brasileiro, Pedro Todorovic. A caminho das piscinas com sua esposa, ele afirmou: “Até agora foi o local mais bonito e agradável onde já joguei um BSOP. Quando minha esposa viu as imagens do resort, fez questão de vir junto. Antes, ela nunca quis nem chegar perto dos meus eventos de poker” (risos).
E Pedrinho ainda jogou o evento principal gastando pouco. Para muitos participantes, a ficha no pano no BSOP começa sempre um dia antes do main event da etapa, no chamado Super Satélite. A possibilidade de participar do torneio principal desembolsando apenas cem reais atraiu 146 jogadores para o satélite com rebuys. No total foram feitos 100 rebuys e 130 add-ons, que renderam 28 vagas.
A abertura oficial da 5ª Etapa do BSOP 2010 foi feita pelo presidente da CBTH, Igor Federal, e pelo diretor executivo de experiência do Rio Quente Resorts, Francisco Costa Neto. E Federal esteve entre os que engataram no Dia 1A, junto com outros profissionais de renome, como Leandro Brasa e Rafael Caiaffa. Ao todo, foram 158 inscritos, número abaixo dos padrões recentes, mas dentro do esperado pela organização: “O torneio está sendo realizado em época de Copa do Mundo e de WSOP. Já esperávamos um field um pouco menor”, revelou Robinson Quiroga, o “Robigol”.
Depois do “shuffle up and deal”, não demorou para que os primeiros eliminados fossem conhecidos. Alexandre empurrou all-in com 5♣ 5♠ no river e Stetson Fraiha, do 4bet Team, pagou com A♣ A♦. Muito short, Alexandre deixou o torneio logo em seguida e tornou-se o primeiro eliminado do dia. Quem também deixou o torneio ainda nos primeiros minutos foi Rafael Caiaffa. O brasileiro com melhor participação no Main Event da WSOP até hoje atirou no flop e no turn, indo all-in de 9 mil fichas no river num blefe monstruoso com 10♣ 3♦. Só que Antônio Kigi tinha acertado uma trinca de dois no flop e deu call, decretando a queda de Caiaffa. O Dia 1A terminou com o paulistano Marco “M Chacal” Antônio na liderança com 183.300 fichas.
O Dia 1B aconteceu no sábado e contou com 177 jogadores. Dentre eles, os apresentadores do Pokercast da CardPlayer Brasil, Marcelo Lanza e Guilherme Kalil. Este último, aliás, saiu do torneio “tiltado”. Com 60 mil fichas, ele pagou um all-in de 40K de Cláudio Ramos, que tinha A♠ K♦. Kalil tinha par de reis e foi à loucura quando bateu um ás no river. Logo em seguida, ele anunciou all-in de 20k com Q♦ 9♥, e mais um vez encontrou um A♥ K♦ pela frente. GG, Kalil! Melhor sorte teve Marcelo Lanza, que passou para o Dia 2 entre os líderes e viria a conquistar uma honrosa 14ª colocação.
Ainda no sábado, uma situação inusitada. Numa mesa em que o big blind estava de “sit out”, a mesa rodou em fold até o small que, vejam só, também deu fold! (Desavisado o parceiro?!) Quando a ação desse dia foi encerrada, o líder era o cearense Bruno Foster, que tinha 197.500 fichas.
Os 89 jogadores que passaram para o Dia 2 tiveram uma pausa às 3 da tarde, hora do jogo do Brasil contra a Costa Marfim pela Copa do Mundo. O clima de festa pela vitória dos comandados de Dunga só durou até as 18h, quando o torneio foi reiniciado. 54 jogadores voltaram aos feltros, dos quais 36 colocariam grana no bolso. E foi Alexandre Miyashiro que fez a festa da galera ao se envolver em um all-in e ser eliminado na bolha.
Enquanto isso, na mesa da TV, Gabriel Goffi e sua agressividade característica encontraram um problemão. Depois de um raise do meio da mesa de Fabiano Kovalski, Goffi anunciou all-in de 300 mil fichas do small blind. Marco “MChacal” Antônio pagou do big blind com A♦ A♣. O bordo acabou trazendo um flush milagroso para Goffi, que continuou no jogo.
Algum tempo depois, a final table foi definida, e prometia ser dificílima. Entre os 10 finalistas, estavam: Gabriel Goffi, jogador muito agressivo que fizera mesa final no 750K do Full Tilt; Marco “MChacal” Antônio, que chegava à sua segunda mesa final da série; Fabiano Kovalski, membro do 4bet Team, que fazia sua segunda mesa final do ano; e Francisco Braga, jogador conhecido do online e do fórum Mais EV. Confira o desempenho de cada um deles:
Paulo Gomes (9º lugar)
Gabriel Goffi abriu raise do início da mesa e o paraense Paulo Gomes anunciou all-in de 560 mil fichas do small blind. Goffi deu insta-call com A♥ A♣. Com ás-dama de naipes diferentes, Paulo precisava de um milagre, que não veio. Ele ficou com a 9ª colocação, depois de ter entrado como vice-líder na mesa final, e levou R$ 5.700,00.
Marco Túlio (8º lugar)
Mais uma vez, Gabriel Goffi deu raise do meio da mesa, Marco Túlio voltou reraise do cutoff e Miguel Hajjar foi all-in do button. Gabriel largou, e Marco deu insta-call com Q♣ Q♦. Só que Hajjar tinha A♦ A♠. Marco Túlio, mineiro de Uberlândia, conquista o 8º lugar e leva R$ 8.000,00.
Fabiano Kovalski (7º lugar)
Quase sem fichas, Kovalski deu mini-raise de 80.000 fichas, deixando apenas 4.000 fichas para trás. Bruno Carvalho deu call e, depois do flop, colocou Kovalski em all-in. No confronto entre Q♣ 3♣ e J♦ 10♠, melhor para Bruno, que acertou um dez no river e eliminou um forte competidor da mesa final. Fabiano Kovalski repetiu o 7º lugar da etapa de Santa Catarina e levou R$ 11.000.
Marcos Cassol (6º lugar)
A mesa rodou em fold até o button Francisco Braga, que, segundo Marcos Cassol, “aumentou pela quinta vez”. Cassol voltou all-in de 800 mil fichas e Francisco deu call, mostrando A♦ T♠. Marcos tinha A♥ 9♠. Sem surpresas no bordo, o goiano Marcos Cassol voltou para casa com a 6ª colocação e R$ 14.200,00 a mais na conta bancária.
Miguel Hajjar (5º Lugar)
Depois que Gabriel Goffi lhe passara um blefe gigante com K♥ Q♦ num flop com ace-high, o destino de Miguel Hajjar parecia selado. Com blinds em 30K-60K-5K, Hajjar foi all-in de aproximadamente um milhão de fichas com Q♥ 10♥. Para isolar o oponente, Francisco Braga foi ir all-in por cima com K♦ K♠. O flop deu esperanças ao goiano quando trouxe 2♦ 6♥ 10♦, mas o turn foi um K♣, que deu a trinca e o pote a Francisco. Miguel Hajjar recebeu R$ 20.800,00 pela 5ª colocação.
Bruno Carvalho (4º lugar)
Bruno tinha dez big blinds quando foi all-in com 10♠ 9♠ e Francisco Braga pagou com K♦ Q♠, eliminando-o. O goiano Bruno, que durante toda a reta final do torneio teve muita torcida da namorada e dos amigos, ficou com a 4ª colocação e uma bela premiação de R$ 28.300,00.
Marco “MChacal” Antônio (3º lugar)
Com blinds em 50K-100K-10K, Marco “MChacal” Antônio foi all-in do button com 1,7 milhões de fichas, segurando A♥ 6♥. Francisco Braga pagou com A♦ J♥ e ainda acertou um nut flush. Marco Antônio levou o troféu de 3º lugar e mais R$ 35.900,00. Após sua eliminação, “MChacal” me revelou que um dos objetivos para 2010 é buscar o título do BSOP. GL, Marco!
Heads-Up Final: Francisco Braga vs. Gabriel Goffi
Não seria absurdo dizer que o heads-up foi um prêmio para os dois jogadores que apresentaram o melhor poker durante toda a mesa final. Ex-jogadores de “Magic – The Gathering”, Gabriel Goffi, com seu estilo ultra-agressivo, e Francisco Braga, que utilizou com perfeição os melhores spots para acumular fichas, chegaram de maneira incontestável ao duelo final. Gabriel entrou na mesa final como chip leader; Francisco eliminou metade dos jogadores que passaram para o último dia de torneio.
E com Gabriel Goffi no HU, já era esperado que todas as fichas estivessem no centro da mesa em questão de minutos, e foi o que aconteceu. Francisco Braga apenas completou do small blind, mas Gabriel deu raise para 225.000 do big blind, recebendo um all-in como resposta. Gabriel não pensou muito antes de pagar e apresentar K♠ Q♦ contra A♣ 3♣ de Francisco. O flop já deu uma imensa vantagem ao carioca ao trazer 6♠ A♥ 2♣. O turn foi um 4♥, e o river, um 5♣. Straight e título para Francisco Braga.
O paulistano Gabriel Goffi embolsou R$ 50 mil pela segunda colocação, mas Francisco Braga levou o bracelete da etapa e a interessante premiação de R$ 78.500,00. Terminada a disputa, esse carioca de 23 anos, que começou a jogar poker em 2007, falou um pouco sobre sua vitória: “O torneio foi muito tranquilo para mim. Subi gradativamente todos os dias, sem me envolver em nenhuma mão perigosa e sem ficar short em nenhum momento”.
E depois de agradecer toda a torcida por ele na Internet, Francisco reforçou o coro dos que afirmavam ter sido esse o melhor BSOP de todos: “Ao fim de cada dia eu pude relaxar nas piscinas. Foi fantástico! O melhor de todos!” Pois bem, esse último comentário define também minhas impressões sobre o evento – desnecessário acrescentar qualquer coisa.
Com expectativa de 800 jogadores, a próxima etapa do BSOP será no Rio de Janeiro e promete esquentar o inverno carioca a partir do dia 22 de julho. A gente se vê por lá! ♠
Brasa tenta um squeeze, mas tinha um “descrente” no meio do caminho
O Red Pro Leandro Brasa estava na mesa da TV, com 9 mil fichas. Com blinds em 300-600-50, Alexandre Souza, de Ponta Porã, anuncia raise de 1.800 do cutoff. O jogador no button paga. Brasa olha para suas cartas e não pensa duas vezes: “É tudo!”. Alexandre dá insta-call, e o button, depois de resmungar um pouco, joga suas cartas no monte. Brasa apresenta 5♣ 3♦ e Alexandre, A♥ 10♥. Um ás bate no bordo e elimina o Leandro Brasa. Detalhe: o jogador do button disse ter largado AQ. Vai saber...
Quem era eliminado do Evento Principal do BSOP e não queria ir para as piscinas de água quente do Rio Quente Resorts, não ficava de mãos abanando, afinal, três eventos paralelos foram realizados: Second Chace, Pot-Limit Omaha e Last Chance. Assim, todo mundo poderia continuar a baralhar a vontade. Confira:
Second Chance
Buy-In: R$ 600
Field: 108 inscritos
Prize Pool: R$ 56.160,00
Mesmo sem disputar o evento, o show a parte ficou por conta de Stetson Fraiha, que ao ver seu companheiro Andrei “Porco Espinho” muito short no heads-up, começou a apostar nas mãos underdog do amigo toda vez que ele entrasse de all-in. E não é que Stetson ainda conseguiu uma pequena forrada? Mas “Porco Espinho” foi derrotado no heads-up pelo goiano Claudioney Carvalho, que chegou a ter apenas 2,5 big blinds quando restavam pouco mais de 20 jogadores.
1. Claudioney Carvalho (GO) – R$ 15.600,00
2. Andrei “Porco Espinho” (SP) – R$ 10.800,00
3. Piragibe Jr. (PA) – R$ 8.000,00
Pot-Limit Omaha
Buy-In: R$ 600
Field: 27 inscritos
Prize Pool: R$ 14.040,00
O ápice do torneio aconteceu quando o jogador Jamilson, de Campo Grande, eliminou nada menos do que três competidores de uma só vez, e ainda fatiou um quarto. Ele tinha K♦ Q♥ T♣ 9♦ e conseguiu o nut full quando o bordo trouxe K♥ 8♠ 9♠ K♣ T♥. O sul-mato-grossense não desperdiçou a imensa vantagem de fichas e conquistou a vitória.
1. Jamilson (MS) – R$ 4.900
2. Alexandre Jin (MS) – R$ 3.400
3. Felipe Darsa (DF) – R$ 3.400
Last Chance
Buy-In: R$ 350
Field: 24 inscritos
Prize Pool: R$ 7.200,00
Mesmo com a maioria dos jogadores já de volta às suas cidades, o field do último torneio paralelo do BSOP conseguiu juntar 24 jogadores. E o vencedor foi Elias Limas, do Distrito Federal.
1. Elias Lima (DF) – R$ 2.600,00
2. Daly Vieira (MG) – R$ 1.900,00
3. Rafael “Malboro” (PA) – R$ 1.400,00