Nota: Esta coluna é um excerto editado do novo livro de Jeff Hwang, Advanced Pot-Limit Omaha: Small Ball and Short-Handed Play, que será lançado em breve, em português, pela Raise Editora.
Quando você dá raise antes do flop e não sofre um reraise, tomou a iniciativa pré-flop, uma condição que muda a dinâmica do jogo pós-flop. Isso ocorre porque agora seus oponentes vão dar check até você depois do flop, esperando que você aposte. Como resultado, eles darão check e call com suas mãos marginais de modo a lhe deixar blefar: pior ainda, vão dar check-raise com uma frequência ainda maior.
De sua parte, é preciso encontrar o equilíbrio entre dar uma continuation-bet e ver uma carta grátis. Esse ponto de equilíbrio depende de dois fatores:
1. Quantos jogadores estão no pote?
2. Quão traiçoeiros são seus oponentes?
Quantos jogadores estão no pote?
Claramente, você deve ficar mais inclinado a dar seguimento com uma continuation-bet (c-bet) contra um oponente do que contra dois, muito menos três ou quatro. Quanto mais jogadores estiverem no pote, mais oponentes você precisa fazer desistir; além disso, quanto mais jogadores houver no pote, mais provável é que algum deles acerte o flop.
Quão traiçoeiros são seus oponentes?
Quanto mais “malandros” forem seus oponentes, mais importante se torna que você dê check depois deles e veja uma carta grátis com mais frequência.
Por exemplo, digamos que você abra raise do button e apenas o big blind pague. Se esse jogador for um oponente fraco e previsível que sempre aposta com sua mão, mas nunca dá check-call nem check-raise, você deve dar uma continuation-bet cerca de 100% das vezes quando ele der check antes de você no flop. E se, em vez disso, ele for daqueles que dão check e call, mas nunca check-raise, você ainda deve colocar uma c-bet a maior parte do tempo, pois a penalidade por ser pego não é tão grave e você tem a garantia de pelo menos ver a carta do turn.
Dito isso, é preciso estar mais preocupado com o jogador traiçoeiro, que é capaz tanto de dar check e call quanto check-raise. E é contra esse jogador que você precisa equilibrar seu jogo vendo a carta grátis com maior frequência. Ao ameaçar dar check, seus oponentes vão ficar treinados a tentar dar check-raise com algumas de suas mãos mais fortes, com medo de permitir uma carta grátis, o que os torna um pouco mais previsíveis.
Vendo Cartas Grátis
A próxima questão é: quando você deve ver a carta grátis?
Em termos gerais, você deve dar check com uma gama mais ampla quando tiver tomado a iniciativa pré-flop, em vez de quando não tiver feito isso. Por exemplo, quando meu oponente toma a iniciativa e dá check antes de mim, eu geralmente dou check também e vejo a carta grátis quando tenho uma queda para sequência na gaveta, um não-nut flush draw ou um draw para um wrap (como quando eu tenho Q-10-9-2 em um flop de J-5-3, em que um rei ou um 8 me dariam um wrap de 13 cartas). Contudo, eu geralmente aposto com uma queda para sequência nas duas pontas (como Q-10-9-2 em um flop de 8-7-3) e às vezes apenas com o nut flush draw, pois o check do meu oponente é um indicativo bastante confiável de que ele vai dar fold diante de uma aposta nessa situação.
Mas quando eu dou raise pré-flop e tomei a iniciativa, peço mesa quando tenho duas pontas — e às vezes apenas com o nut flush draw — pois fico mais propenso a receber um check-raise nessa situação. Além disso, eu ocasionalmente vario meu jogo um pouco e dou check com top pair.
Eis um exemplo de check com top pair:
Trata-se de uma mesa $5-$5 four-handed. Eu recebo K♦ J♣ 10♦ 8♥ no button. O jogador under the gun dá fold. Eu ($3.300) dou raise para $20. O small blind dá fold. O big blind ($1.200) dá call, e há $45 no pote. O flop vem K♠ 6♣ 4♠. Meu oponente dá check. Eu também.
O turn é o K♥, me dando uma trinca de reis. Meu oponente dá check. Eu aposto $35 e meu oponente dá call. O pote agora é de $115.
O river é o 2♦. Meu oponente agora aposta $80. Eu dou call, percebendo uma tentativa de blefe.
Um dos benefícios de dar check com uma mão como top pair no flop é que isso efetivamente encurta a mão e a torna um negócio de duas streets. Outro benefício é que engana um pouco. Nessa mão em particular, meu oponente provavelmente achou que eu apostaria com algo como top pair no flop, o que fez com que ele tentasse um float reverso (dar check e call em uma aposta em uma street e depois tomar a iniciativa com uma aposta em uma street posterior blefando) quando o bordo trouxe outro rei e eu apostei no turn.
Eis outro exemplo de check com top pair:
Numa mesa eletrônica “Excalibur” de 50¢-$1. Eu ($200) recebo K♣ J♦ 10♣ 10♥ no cutoff. “TT” ($200) — um raiser loose, porém um jogador que respeita meu jogo depois do flop — abre raise para $2 do UTG. Dois jogadores pagam depois dele. Eu volto um reraise loose para $11,50, e apenas “TT” dá call, então nós ficamos heads-up e há $28,50 no pote.
O flop vem K♦ 7♥ 2♣, me dando top pair. “TT” dá check. Eu também.
O turn é o 8♠, me dando uma queda na gaveta. “TT” dá check. Eu dou check também e vejo uma carta grátis.
O river é a Q♦. “TT” dá check. Eu também faço isso e ganho o pote com meu par de reis.
Aqui, eu usei a posição para controlar a mão e manter o tamanho do pote baixo depois do flop, e dei check com um par o tempo todo. A chave para essa mão é que meus checks devem ser amplos o bastante para impedir que meu oponente tente dar golpes no pote.
Se meu oponente achar que eu vou sempre apostar com um par ou melhor, ou qualquer tipo de draw, ele vai pensar que estou sempre fraco quando der check, e vai reagir com apostas sempre que eu der check depois dele. Mas se, em vez disso, ele souber que eu peço mesa com top pair, ficará menos propenso a apostar no turn se eu der check depois dele no flop, pois me torno uma ameaça muito maior para dar call.
Isso me dá muito mais controle sobre as mãos nesse tipo de confronto heads-up quando eu tomo a iniciativa pré-flop. ♠
Jeff Hwang é um jogador de poker semiprofissional e autor de dois aclamados livros de Pot-Limit Omaha. Você pode conferir seu site no endereço jeffhwang.com