EDIÇÃO 32 » COMENTÁRIOS E PERSONALIDADES

Tecendo Redes Complexas

Você precisa mentir para ganhar!


John Vorhaus

Teste: quem disse “Que rede complexa tecemos, quando outros enganamos!”? Você respondeu Shakespeare? A maioria das pessoas responde, pois acham que as palavras mais inteligentes e “que soam clássicas” foram proferidas por Shakespeare. No entanto, essas são palavras de Sir Walter Scott, e eu fiz essa pergunta para você ter uma aposta de bar imperdível, bem como para apresentar uma verdade fundamental do poker shorthanded: ainda mais do que na mesa cheia, você precisa mentir para ganhar. Eis algumas coisas que você deve considerar ao “praticar a mentira”.

O Jogo Shorthanded é Um Jogo Padrão

Já que todos numa mesa shorthanded mudam de posição muito rápido e estão constantemente de volta ao small blind, big blind, under the gun, cutoff e button, é fácil cair na previsibilidade dos padrões de jogo baseados na posição. Não é incomum, por exemplo, encontrar jogadores que abrem raise pré-flop do button ou cutoff independente das cartas que seguram. Eles não estão necessariamente errados ao fazer isso, pois posição é poder no jogo shorthanded. Mas se você souber que eles estão fazendo isso, desvendou um padrão de jogo deles, e agora tem uma arma que pode ser usada contra eles.

Digamos que você esteja no big blind contra esse jogador. Se você esperar por boas cartas para dar resteal no steal dele do button, vai estar apenas caindo em um padrão de apostas próprio. Seu adversário atento vai logo tomar ciência dessa tendência e simplesmente não lhe dará ação quando você reaumentar, pois saberá que você está forte.

Para quebrar esse ciclo, simplesmente desconecte seu padrão das mãos que você segura. Tenha em mente, por exemplo, deixá-lo atacar seu blind exatamente duas vezes, depois voltar reraise da terceira vez, não importa o que você tenha. Como seus dois primeiros folds vão ter criado a impressão de que você não defende seu blind com mãos ruins, ele vai achar que você tem uma boa e vai desistir. Ao jogar com tais padrões, em vez de valores de mãos, você pode controlar a disputa shorthanded.

A Armadilha das Continuation-Bets

Continuation-bets são outra área em que jogadores pouco escolados caem em padrões exploráveis de jogo. Vamos supor que você tenha entrado de limp de posição inicial e o button tenha inflado o pote com um aumento. Com base no jogo anterior dele, você acha que ele tem algo como duas cartas altas ou um par médio a alto. Agora vem o flop, que é baixo: 7-6-2 rainbow. Não é provável que seja o tipo de flop que ajude toda mão, mas quando você dá check de posição inicial, convida — na verdade, quase intima — a boa e velha continuation-bet, que você então contra-ataca com um check-raise. Na maioria das vezes, ele não terá acertado o flop e dará fold. Como ele caiu no padrão da c-bet, terá se tornado vulnerável.

Esse é outro exemplo de como detectar e explorar um padrão de jogo. Se você souber que seu adversário é viciado em continuation-bets, vá em frente e dê limp-call fora de posição. Depois, busque flops que não se conectam com cartas médias ou fortes com as quais a maioria dos raisers dá raise, então dê check-raise para tomar o pote. No jogo shorthanded, as cartas que você segura são bem menos importantes do que sua habilidade de analisar padrões — e, é claro, sua propensão a apoiar suas leituras com apostas significativas.

Evite Minas Terrestres
Como o poker é, dentre outras coisas, um jogo em que se fazem armadilhas, você precisa estar consciente da possibilidade de um adversário estar arrastando, ou fazendo slowplay, com uma mão enorme. Digamos que você tenha dado raise em posição e recebido call do small blind. Reconheça que um call defensivo do small blind é mais forte do que um do big blind, simplesmente por causa do seu maior preço. Agora, o flop vem baixo — digamos 4-4-3 rainbow. Seu oponente dá check, e essa parece a oportunidade perfeita para fazer uma continuation-bet do tamanho do pote, então é isso que você faz. Mas agora você se depara com algo muito suspeito: um call. Isso é diferente do check-raise resteal de uma continuation-bet. Esse call fora de posição deve soar alto e claro em sua mente como uma provável armadilha. A única outra possibilidade é um float — um call com a intenção de dar steal no turn. Se você estiver prestando atenção aos padrões, saberá se seu adversário é capaz disso. Se ele não for, conclua que ele está tentando se arrastar e simplesmente não pague o preço.

Nesse exemplo, o padrão de apostas do seu oponente foi tão incomum desde o começo da ação que ele quase tem que ter uma mão incomum. E o que é uma mão incomum? Uma grande. Eis a boa notícia: agora você está usando não apenas padrões, mas também anti-padrões para controlar o jogo shorthanded.

A Fenda no Tecido do Espaço
Mudanças pouco comuns na rede de enganação dos outros comumente deixa traços de evidência. Alguma coisa simplesmente não parece certa ou não cheira bem. Eu chamo essas pistas de “fendas no tecido do espaço” e, sempre que me deparo com uma, suponho que meu adversário ou está preparando uma armadilha ou, se ele for atento, decifrou meu padrão de jogo e lançou um contra-ataque. Sempre que um padrão é quebrado — quando aquela fenda no tecido do espaço se revela — eu simplesmente diminuo o ritmo e espero novos padrões emergirem. Eventualmente eles aparecem, pela simples razão de meu adversário achar que a tática está funcionando e continuar a usá-la. Eventualmente eu vou chegar à frente do raciocínio dele e retomar o controle do jogo.

A meta geral da análise de padrões no jogo shorthanded é fazer com que seus adversários “fiquem fora de sincronia” com suas ações. Caso você esteja manipulando corretamente os padrões deles e as análises deles de seus padrões, irá vê-los dando call quando deveriam dar fold, dando fold quando deveriam dar raise e dando raise quando têm quedas mortas. Tudo é uma questão de estar um passo à frente dos ajustes de seus adversários — e se certificar, é claro, de que suas redes complexas de enganação tampouco se enrolem.




NESTA EDIÇÃO



A CardPlayer Brasil™ é um produto da Raise Editora. © 2007-2024. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo deste site sem prévia autorização.

Lançada em Julho de 2007, a Card Player Brasil reúne o melhor conteúdo das edições Americana e Européia. Matérias exclusivas sobre o poker no Brasil e na América Latina, time de colunistas nacionais composto pelos jogadores mais renomados do Brasil. A revista é voltada para pessoas conectadas às mais modernas tendências mundiais de comportamento e consumo.


contato@cardplayer.com.br
31 3225-2123
LEIA TAMBÉM!×