EDIÇÃO 32 » COLUNA NACIONAL

Não tente fazer isso em casa

Como não jogar um par médio fora de posição


Felipe Mojave

Fala, pessoal da Card Player Brasil! Tudo em cima? Nesta edição, vou trazer para vocês uma mão jogada no LAPT Punta Del Este, realizado no final do mês de fevereiro. O intuito é mostrar como não jogar com um par médio nessa altura do torneio.

Como vocês sabem, o LAPT é um torneio jogado com 20 mil fichas e 1 hora para cada nível de blinds, o que, em minha opinião, é uma boa estrutura. A mão em questão ocorreu no Dia 2, quando eu tinha cerca de 100K em fichas e os blinds estavam em 500-1.000, ou seja, eu tinha 100 big blinds e um stack top 5 nesse momento, o que me deixou bastante à vontade pra imprimir um ritmo forte de jogo. Vamos à jogada.
Um jogador de nível e stack medianos aumenta a aposta em MP para 3.000, um desconhecido no SB dá call e eu, no BB com KT, dou call também.

O flop vem 478, me deixando com flush draw e overcards. O SB, que tinha 60K antes de começar a mão, sai apostando 7.500. Depois de pensar um pouco, aumentei a aposta para 21K. O MP deu fold e o SB foi all-in instantaneamente com 49K. Nesse caso, eu precisaria pagar 28K para concorrer a um pote total de aproximadamente 160K. É óbvio que eu dei call pelas odds. Mesmo se meu adversário estivesse com uma trinca, o call seria matematicamente correto, mas não foi esse o caso: ele mostrou 9-9, sem ouros, o que me deixava numa situação maravilhosa para virar o chip leader do torneio faltando 90 jogadores apenas. O turn foi um 6 e o river um T, dando um straight para o meu adversário, que comemorou muito a vitória naquele pote – ele não tinha a menor ideia do que estava fazendo.
Agora vamos à análise da mão.

Já reanalisei minha jogada por vários pontos de vista e gostei muito dela, pois foi de uma criatividade interessante em vários aspectos. Pré-flop, como eu estou acelerando muito o jogo, resolvi mixar e dar o call do BB com uma mão boa e com odds contra adversários fracos. No flop, meu reraise frente à aposta do SB foi excelente, já que o meu intuito é finalizar a mão ali, tirando o MP da jogada e demonstrando muita força para o SB, fazendo-o facilmente dar fold num overpair e straight draw, e muitas vezes até em dois pares. Era essa a intenção.

A questão que eu quero mostrar para vocês aqui é quanto a jogada do meu adversário foi ruim. Vamos analisá-la sob várias perspectivas para que vocês não cometam o mesmo erro.

Pré-flop: um call com 9-9 do SB nesse estágio do torneio é ruim. Você acerta um flop baixo e acaba perdendo muitas fichas na maioria das vezes, ou seja, só joga bem mesmo quando acerta sua trinca, sem contar que, dando apenas call pré-flop, você fica sem leitura nenhuma dos seus adversários, e isso é muito perigoso nesse estágio.

Flop: o lead no flop é uma boa opção (sair apostando). Se ninguém tiver nada, você já puxa o pote ali, eliminando riscos (mas só funciona contra jogadores fracos, visto que eles têm posição sobre você) e, se encontrar algo pela frente, fica fácil de se livrar dessa mão e perder pouco.

Nesta jogada, meu adversário em nenhum momento parou para analisar a situação em que estava se metendo, e mal sabia ele que ela era bem complicada. Em resumo, ele fez tudo errado, e é isso que eu quero mostrar para vocês leitores da CardPlayer Brasil. O fato de ele voltar all-in instantâneo no meu reraise no flop demonstrou quão perdido ele estava, pois não havia chance nenhuma de eu estar blefando totalmente naquele pote diante de três jogadores, e a melhor situação em que ele poderia se encontrar era num coinflip mesmo, pois existia uma gama enorme de mãos com que ele se encontraria morto, como straight no flop, trinca, dois pares, etc., todas possíveis de eu ter no big blind.

Outro fato importante é que, quando decidi voltar reraise no flop, já tinha mostrado a ele que não havia a menor possibilidade de eu dar fold na mão. O que será que ele pensou quando voltou all-in naquela hora? Que 9-9 era bom ali? Que eu poderia dar fold? Enfim, a jogada é extremamente pobre e é isso que eu quero que vocês percebam, para que não cometam o mesmo equívoco. Um erro nesse estágio do torneio pode significar o fim da linha para você.

Não ficou muito fácil de observar onde mora o quesito sorte no nosso esporte? Eu que sou um profissional preparado tive a oportunidade de ganhar essa mão e seguir para a mesa final do torneio na técnica. Minha mente pensante analisou todos os riscos envolvidos, já meu adversário dependia de uma série de fatores combinados e exclusivamente da sorte para avançar no torneio com essa jogada.

Espero que essa jogada tenha ajudado vocês a observar como uma jogada ruim vai sempre depender da sorte e como jogadas bem estruturadas não vão precisar dela. Outra grande diferença é que, se eu tivesse a felicidade de ter vencido essa mão, com certeza estaria na mesa final do torneio. Já o meu adversário, que acabou puxando esse pote, foi eliminado logo depois.

Abraço a todos!




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