EDIÇÃO 31 » COLUNA NACIONAL

Sintonia Fina

Ajustando Suas Continuation-Bets


Leo Bello

Um dos movimentos mais importantes no poker é a continuation-bet, aquela situação em que você, tendo aumentado pré-flop, segue a teoria segundo a qual, se demonstrou força na rodada anterior, deve continuar mostrando após as três primeiras cartas aparecerem na mesa.

Agora, como nortear essa aposta? Devemos apostar sempre? Apostar o pote, meio pote ou usar outro parâmetro? Como escolher o momento e a força dessa aposta de continuidade?

Primeiro, vamos esclarecer alguns pontos básicos. Três fatores são essenciais para determinar seu curso de ação: quantos oponentes permaneceram na mão após o flop, sua posição sobre eles e o stack efetivo em jogo.

Quanto mais oponentes estiverem no jogo depois do flop, mais cauteloso você deve ser, pois a chance de alguém ter acertado o bordo é maior.

A posição também é importante. Uma continuation-bet após os adversários terem falado costuma lhe dar mais informações e segurança em relação ao tamanho da sua aposta.

E o stack efetivo é importante para que seja possível calcular quanto do seu estoque você deve colocar no meio da mesa. Se seu objetivo for conseguir ir all-in porque seu jogo é realmente forte, você deve começar a planejar esse all-in desde o flop, colocando percentuais crescentes no flop, no turn e no river, respectivamente. E se você tiver uma mão marginal e quiser proteger suas fichas, também é importante conhecer os stacks efetivos, que são o valor máximo que você vai arriscar perder ou ganhar na mão, e que normalmente é o stack menor entre o seu e o(s) do(s) adversário(s).

Em relação ao número de adversários, vale começar pensando nas hipóteses em que há apenas um oponente. Nesse caso, o conceito mais importante é que, quando ele não tiver um par em suas hole cards (ou seja, quando tiver duas cartas de valores diferentes na mão), irá fazer um par ou melhor apenas um terço das vezes que vir um flop. Isto é, na maioria das vezes (66%) ele não terá nem mesmo um par. Assim, se quando você estivesse enfrentando apenas um adversário, sempre fizesse uma continuation bet, tenderia a ganhar o pote naquele momento em pelo menos duas vezes a cada três, o que torna a jogada lucrativa.

É claro que o adversário pode ter quedas para sequência ou flush, e aí entra um dos fatores que deve determinar o valor de sua continuation-bet: a textura do bordo.

Imaginando a partir de agora que você tenha apenas um adversário na mão (situação comum em jogos 5-handed do BestPoker, por exemplo), que tenha posição sobre ele, e que ambos estejam com um stack completo de 100 BB, vamos analisar como faríamos a c-bet levando em conta a textura do bordo.

Quanto mais seco for o bordo, ou seja, quanto mais descoordenado, com cartas que não completam quedas para sequência ou flush, maior a dificuldade para o seu adversário ter conectado algo com as cartas da mesa. Nesse caso, você tendo ou não um jogo forte, vale a pena fazer uma aposta pequena, de metade a no máximo ⅔ do pote. Tal aposta, quando você não tem um jogo, diminui o risco de você perder uma grande quantidade de fichas e, quando realmente tem uma mão forte, aumenta suas chances de tomar call do adversário, que poderia se assustar com uma aposta do tamanho do pote.

Quando, em situação oposta, o bordo vem muito coordenado, com cartas próximas, do mesmo naipe ou, ainda, altas, você tem que modificar sua c-bet. A tendência, nesse caso, é que o bordo tenha ajudado seu adversário. Ainda assim, em ⅔ dos casos, ele não terá nem ao menos um par, mas poderá ter um draw que o convença a pagar uma aposta e ver mais uma carta. Nesse caso, sua aposta deveria ser maior que a média, se aproximando do valor do pote. Quanto maior for a sua aposta, mais pressão você coloca no adversário, que pode optar por não seguir em busca de sua queda e dar fold.

Outra forma de variar sua continuation-bet é analisando a força apenas da sua mão. Depois do que expliquei sobre a textura do bordo, já conseguimos até imaginar que variar apenas pelo seu jogo não é tão eficiente, além de ser extremamente previsível para os adversários. Se você sempre apostar forte quando tiver jogo e apostar pouco sem nada, um adversário mais atento irá largar as mãos nas suas apostas altas e lhe dará raise quando você apostar baixo.

Esse método de variar de acordo com a força da sua mão só funciona quando você está lidando com calling stations (pagadores) que não vão fazer leitura das suas ações e vão simplesmente dar call sem analisar.

O correto é você balancear sua range e conseguir fazer apostas altas e baixas independente da força da sua mão, talvez variando de acordo com textura do bordo.

Algum leitor pode, pegando carona nesse raciocínio, se perguntar: “E se eu apostar sempre o mesmo valor, em vez de variar minhas continuation-bets? Assim, eu evito que o adversário leia se meu jogo é forte ou fraco”.

A falha nesta lógica está em não se considerar a tendência que seu adversário tem de pagar sua aposta com os diferentes tipos de bordo e também de acordo com a distribuição de mãos que ele pode ter.
Desta forma, a melhor c-bet não é aquela que você fixa um valor, mas sim a que o valor é variável, considerando os diferentes aspectos envolvidos na jogada, como a força da sua mão, a textura do bordo e a chance de seu adversário ter conseguido acertar algum jogo.

Uma boa dica é tentar se colocar no lugar do adversário. Se fosse você que tivesse que decidir seguir adiante naquela mão após uma continuation-bet, o que você faria?

Ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, uma das melhores maneiras de combater uma c-bet quando você está do outro lado não é dando check-raise, mas sim, fazendo uma donk-bet: sair apostando antes de dar chance para o adversário fazer sua continuation-bet, pois, ao tomar a frente da ação, você inverte a equação, se aproveitando do fato de o apostador inicial também não ter acertado o flop em ⅔ das vezes.

E porque não preferir dar check-raise? Porque não soa plausível. Por que você daria um check-raise no flop se tivesse jogo? Não é mais lógico executar esse check-raise no turn? Além disso, muitas vezes o adversário dá call no check-raise no flop por impulso e lhe coloca em uma situação em que você tem que fazer mais uma aposta no turn para tentar tirá-lo da mão.

Assim, a melhor maneira de definir a mão de um adversário que aumentou pré-flop é tomar a iniciativa no flop por meio de uma donk-bet. Agindo assim, você tira o poder da c-bet do adversário. É claro que a regra da textura do bordo também funciona ao contrário. Experimente variar de acordo com o modo como o bordo se apresenta, fazendo uma donk-bet mais forte em bordos coordenados do que naqueles que não parecem ter ajudado o adversário.

Bem, espero que essas dicas básicas, que servem muito bem para cash games short-handed, tenham ajudado.

Lembre-se sempre de não ser previsível. E até o próximo mês, com mais dicas de cash games. Quando passarem pelo BestPoker, não se esqueçam de me procurar nas mesas short-handed ou, ainda melhor, venham me visitar nas etapas do BSOP. Este ano estarei presente em todas elas.

C-BETS

• Em um jogo short-handed, prefira fazer c-bets quando estiver enfrentando apenas um adversário, quando estiver em posição e quando os stacks efetivos permitirem que você dê fold caso seu adversário mostre força ou dê fold diante da sua aposta.

• Analise sempre a textura do bordo. Varie a força da sua aposta de acordo com quão coordenado o bordo for. Aposte mais forte em bordos mais conectados.

• Não baseie suas apostas apenas na força da sua mão, senão você se tornará previsível.

• Não dê c-bets sempre do mesmo valor para disfarçar a força da sua mão. Isso poderá levar você a arriscar mais fichas do que deveria e lhe colocar em situações de difícil resolução quando o adversário resolver fazer uma jogada de aumento contra você.




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